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Podre de rico: o bilionário pedófilo que abala a elite dos EUA

Jeffrey Epstein está encrencado na Justiça há mais de dez anos, mas só agora, com a chance de sobrar para o governo Trump, virou escândalo nacional

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 11 jul 2019, 11h24 - Publicado em 11 jul 2019, 11h19

A clássica história do menino pobre que ficou rico não terminou bem para Jeffrey Epstein.

Aliás, existe pouca coisa de convencional nesse investidor genial, especialista em fazer amigos importantes e influenciar meninas menores de idade, muitas vezes de modo criminoso, o que o levou a ser detido, fichado e processado pelos promotores pitbull do Distrito Sul, onde a proximidade com Wall Street os tornou especialistas em pegar milionários.

Ao contrário dos pedófilos convencionais, que se escondem por trás de uma fachada familiar e respeitável, Epstein nunca escondeu o que queria: usar o dinheiro que ganhou como gestor de patrimônio – com “pedágio” entrada acima de um bilhão de dólares – para viver como um libertino da era contemporânea.

Não se casou nem teve filhos. Sua obsessão eram meninas entre 14 e 17 anos, a idade de transição entre os traços púberes e a feminilidade plena.

Através de intermediárias – ex-namoradas ou meninas que já haviam ficado “velhas” e passavam a ter outra utilidade -, atraiu várias centenas delas.

Convencia-as, constrangia-as, pagava-as, transportava-as a propriedades em vários países no “Lolita Express”, um de seus dois Boeing 727, para uso próprio ou de amigos poderosos.

Sempre começava do mesmo jeito. As intermediárias ofereciam às meninas trabalho como massagistas. Quando chegavam, Epstein estava nu na maca e pedia que elas ficassem de calcinha.

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O que se seguia podia ir de “massagem erótica” a sexo com penetração. Elas recebiam de 200 a 5 000 dólares. No primeiro processo, muitas choraram quando contavam suas histórias e descreviam o “pênis em formato oval” de Epstein.

Outras se encantavam com o bilionário bonitão de traços másculos que lembram o ator José Mayer e se incorporavam ao “plantel” de jovens beldades Seja pela sedução, seja pela força, ele estava cometendo crimes. Exploração e abuso sexual de menores de idade, aliciamento para a prostituição, transporte interestadual com fins de prostituição – uma especificidade sistema jurídico americano para contornar diferenças entre legislações estaduais.

Foi nessa que caiu nas garras dos promotores de Nova York, depois de escapar com uma sentença comparativamente leve de seu processo, na Flórida, em 2006. Oito dos melhores advogados dos Estados Unidos participaram de sua defesa.

Seios artificiais

As meninas, hoje mulheres, da época “áurea”, antes desse processo, descrevem um estilo de vida que Jeffrey Epstein devia associar às extravagâncias – e orgias – romanas.

Seu quarto da mansão em Palm Beach tinha uma escadaria que terminava numa piscina, sauna, sala de massagem e closet para acessórios de sex shop.

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Na mansão em Nova York, a maior de Manhattan, a sala de massagem, centro das atividades sexuais, tinha o teto pintado como um céu com anjos. No banheiro principal, seios artificiais na parede para que pude pegar neles enquanto estava na banheira.

Em todas, Palm Beach, Nova York, Londres, Paris, a fazenda no Novo México e a ilha no Caribe, Little Saint James, onde se comportava como um Calígula em Capri, as paredes eram cobertas por uma infinidade de fotos de adolescentes nuas ou seminuas.

Virginia Roberts, que diz ter sido aliciada aos 15 anos quando trabalhava no luxuoso clube de praia de Donald Trump, Mar-a-Lago, afirma que na última das três vezes em que foi oferecida ao príncipe Andrew, segundo filho da rainha Elizabeth, foi na ilha da orgia.

Quando chegou no avião de Epstein a Little Saint James, já estavam lá sete jovens modelos russas. Elas participaram de uma encenação erótica comandada por Epstein, sentado ao lado de Andrew.

Epstein monitorava todas as suas casas com câmeras e também dizia às jovens que descrevessem as preferências sexuais de seus hóspedes, o que cria duas situações: ele tinha um tesouro para praticar chantagens e, se recuperados, os vídeos vão abalar o império.

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Não que alguns dos convidados já não tenham ficha suja, como Hervey Weinstein. A lista vai Donald Trump (uma vez, depois romperam quando Epstein deu em cima da filha de um sócio de Mar-a-Lago) a Stephen Hawkings – o bilionário pedófilo, louco por ciências, fazia grandes donativos para pesquisas avançadas.

Outros: o falecido senador Ted Kennedy, o ex-primeiro-ministro isralense Ehud Barak, os atores Alec Baldwin e Ralph Fiennes, os bilionários David Koch e Lesli Wexner, o octogenário dono da Victoria’s Secret e parceiro de Epstein em negócios.

E Bill Clinton. Ah, Bill Clinton, exatamente o tipo de sujeito que se pode imaginar no “Lolita Express”.

Depois da Casa Branca e da oficialização do casamento de fachada com Hillary, ele foi um viajante frequente.

Sua assessoria diz que usou aviões particulares de Epstein em quatro ocasiões, para visitas à África (uma com Kevin Spacey, enrolado em suas própria encrencas com menores, do gênero masculino) e à Europa, com nobres propósitos filantrópicos.

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A Fox News constatou 26 viagens nos manifestos de bordo, o que pode incluir escalas.

A conexão Clinton já é conhecida há muito tempo e foi ressuscitada na última eleição presidencial por blogueiros maliciosos para incluir Hillary nos voos da esbórnia, uma das muitas e malucas teorias conspiratórias com objetivos de desmoralização.

A de Trump também, principalmente por uma declaração que deu em 2002 para um perfil de Epstein: “Ele é um cara sensacional. Muitos dizem que, como eu, gosta de mulheres bonitas e que elas são novinhas.”

Todo mundo já sabia exatamente como era a “vida social” de Epstein, mas a fúria sem precedentes da oposição democrata e da imprensa antitrumpista tem um objetivo mais específico: derrubar Alexander Acosta.

Secretário do Trabalho do governo Trump, ele foi o promotor da justiça federal na Flórida responsável pelo acordo leniente através do qual Epstein foi condenado apenas por solicitação de prostituição e pegou treze meses de prisão, com direito a sair seis dias por semana para trabalhar em casa.

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Acosta, ex-professor e reitor de uma faculdade de direito, é um dos mais discretos integrantes do gabinete. Tem um ministério que não é considerado muito importante, mas com atuação sensata, em especial no que se refere ao campo de discriminação trabalhista.

Caso fechado

O caso Epstein é uma mancha em seu currículo. Ele diz que conseguiu, nas circunstâncias da época, o melhor resultado possível e até advogados de defesa de Epstein garantem que, como promotor, lutou para colocar o réu na cadeia.

Mais: o caso deveria ter sido julgado na esfera da justiça estadual, mas o promotor encarregado, Barry Krischer, um democrata – promotores são eleitos em vários distritos dos Estados Unidos – fez uma manobra para não levar Epstein a júri popular, onde seria garantida uma sentença de 20 anos.

O encarregado da investigação policial na época sustenta que, em qualquer circunstância, o caso estava ”fechado”, com uma investigação bem fundamentada, testemunhos corroborados de 40 jovens envolvidas na teia de Epstein e uma vasta coleção de provas.

Os relatos das envolvidas no processo aberto agora em Nova York são de chorar.

“Eu tinha 14 e usava aparelho nos dentes”, disse Courtney Wild, forçada a fazer o que não queria na tal sala de massagem.”Ele dizia que eu era linda e sexy.”

“Lembro que depois fui para a cozinha. Ele tinha muitas meninas lá, o tempo todo.”

Alexander Acosta deu uma entrevista calma e equilibrada para se defender das acusações de leniência. Disse que Epstein cometeu crimes horríveis e que está satisfeito por vê-lo cair, “diante de novas denúncias”.

Como todos os ricões, Epstein fazia doações de campanha para políticos, principalmente democratas como Chuck Schumer, senador por Nova York e candidato a atormentador de Trump.

Muitos democratas estão exigindo a cabeça de Acosta como forma de enfraquecer Trump. Alguns republicanos também concordaram que leniência com um pedófilo é o tipo de coisa indefensável.

“Para mim, esse é o caso mais importante e nojento de todos da linha #Metoo”, disse o jornalista James Peterson, autor de um livro sobre Epstein (o título “Podre de rico” é dele).

“Agora ele vai ter o que merece.”

Só dá para torcer que esteja certo.

Epstein não tem mais os amigos importantes nem o bilhão de dólares que tinha antes do escândalo – entrou no caminho da fortuna ao chamar a atenção do dono do Bear Stearns, posteriormente maldito no mercado financeiro, como professor de matemática e cálculo dos filhos dele.

Mas e se ainda tiver os vídeos?

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