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Pires na mão: Zelensky quer convencer direita trumpista a ajudar Ucrânia

A “guerra esquecida” vai mal para os ucranianos e o pior de tudo é ficar sem a ajuda americana que republicanos estão bloqueando

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 Maio 2024, 18h37 - Publicado em 12 dez 2023, 07h38

Foram-se os tempos em que líderes de países ocidentais desfilavam em Kiev para pegar carona na popularidade de Volodymyr Zelensky e prometer quanta ajuda fosse necessária para a Ucrânia resistir à invasão russa.

Depois da escala na Argentina, um Zelensky diferente chegou aos Estados Unidos de pires na mão. Ele perdeu a aura de superstar, a contraofensiva contra os invasores não deu certo e, num fenômeno impressionante, a direita americana mais alinhada com Donald Trump se deslocou em massa para uma posição que favorece a Rússia, bloqueando a ajuda à Ucrânia enquanto Joe Biden não tomar providências efetivas para controlar a loucura da entrada em massa de clandestinos que chegam pela fronteira com o México.

Isso mesmo: o que era uma posição relativamente isolada da direita trumpista virou algo parecido com a animosidade das esquerdas atrasadas em relação à Ucrânia. Além de ganhar – ou pelo menos não perder – no campo de batalha, a Rússia também está levando vantagem na guerra de propaganda.

GUERRA NUCLEAR

A visão isolacionista é uma corrente tradicional da política externa americana, mas hoje tem com argumentos muito parecidos com os da esquerda identificada com Vladimir Putin. Ela aparece em alguns dos mais acessados sites simpáticos a Donald Trump, incluindo o Breitbart e o Citizen Free Press, do gênio do mal Steve Bannon.

Nessa versão, a Ucrânia é um país que não combate uma corrupção de níveis astronômicos e Zelensky é um vilão que não para de pedir dinheiro dos contribuintes americanos, negligenciados em suas verdadeiras necessidades. Não interessa que os 75 bilhões de dólares sejam uma gota d’água num orçamento de 4,5 trilhões.

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Com popularidade em baixa, Biden também encontra dificuldades para convencer a opinião pública dos interesses estratégicos envolvidos na ajuda à Ucrânia. “Se Putin tomar a Ucrânia, não vai parar lá”, disse o presidente num dramático apelo, levantando a hipótese de que a Rússia avance sobre antigos satélites, como a Georgia e, depois, os países bálticos, que são membros da Otan e, assim, têm a garantia de sua intervenção num caso de agressão. “Aí, teremos algo que hoje não queremos e não procuramos ter: tropas americanas combatendo tropas russas”.

O que ele não disse, mas todo mundo sabe, é que essa hipótese levaria inevitavelmente a uma guerra nuclear.

PREÇO TERRÍVEL

Nem a perspectiva da guerra do fim do mundo mudou muito a má vontade da opinião pública em relação à Ucrânia. Apenas 34% dos americanos (e 27% dos que votam nos republicanos) entendem que a invasão da Ucrânia é um grande perigo para os interesses dos Estados Unidos. Em março de 2022, logo depois da invasão russa, a proporção era de 50%. E 48% dos identificados com o partido conservador consideram a ajuda aos ucranianos grande demais.

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Os políticos percebem isso e até um republicano como o senador Mitch McConnell, que sempre apoiou a causa da Ucrânia, votou por condicionar a liberação de um pacote de ajuda militar de 88 bilhões de dólares à situação fronteiriça.

A situação na frente de batalha não ajuda muito: a contraofensiva em três frentes, contrariando os conselhos dos aliados ocidentais que propunham uma concentração de esforços, fracassou e agora a Rússia é que pode ter a iniciativa, usando sua vantagem em número de combatentes mobilizados para a guerra e produção ou compra de armamentos, como os drones iranianos.

“Agora, é a vez dos ucranianos de ficar na defensiva, tentando manter as posições que já têm”, analisou o comentarista Daniel Hannan. “Como em 1914, uma linha fortificada corre por todo a frente de combate, desde o delta do Dnipro até a fronteira com a Rússia. E, como naquela época, a tecnologia militar favorece o defensor. Pequenos avanços são conseguidos a um preço terrível”.

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AGRESSÃO PREMIADA

“A vantagem demográfica está com a Rússia, cuja população é três vezes e um quarto maior do que a da Ucrânia. A Rússia converteu um terço de sua produção civil de antes da guerra às armas e munições”.

Hannan é um dos analistas que levantam a hipótese de que a recente visita triunfal de Putin e países neutros como os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita pode ter incluído uma sondagem sobre negociações de paz – um péssimo indicador. “Qualquer acordo que premie a agressão russa sinalizará ao resto do mundo que a Otan, com toda seus recursos e seus armamentos, não teve sucesso no objetivo mínimo de salvar um país que seus membros mais poderosos, os Estados Unidos e o Reino Unido, estavam decididos a salvar”.

Um mundo em que os Estados Unidos saem perdendo e a Rússia putinista, ganhando, é pior, mais perigoso e mais suscetível a peixes pequenos, como a Venezuela, acharem que podem tirar uma casquinha.

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Hannan cita uma frase conhecida do cientista político Samuel Hutington: “O Ocidente conquistou o mundo não pela superioridade de suas ideias, seu valores e sua religião, mas pela superioridade no emprego da violência organizada. Os ocidentais frequentemente se esquecem disso, mas os não-ocidentais nunca o fazem”.

Zelensky tem chance zero de convencer a direita trumpista dessa realidade. Na verdade, um senador como o republicano J. D. Vance já está falando que o melhor para os Estados Unidos “é aceitar que a Ucrânia terá que ceder algum território aos russos e que precisamos acabar com essa guerra”. Estaria em casa em Brasília.

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