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Pesquisa argentina, segundo turno: Milei, 54%; Sergio Massa, 31%

Do papa à 'The Economist', os alarmes estão tocando diante do que parece se configurar como um grande salto no escuro com perspectivas caóticas

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 13 Maio 2024, 21h11 - Publicado em 13 set 2023, 08h37

Javier Milei será eleito presidente da Argentina? É difícil, para muitos setores, sequer enunciar estas palavras, mas os indícios estão aí para todo mundo ver.

Uma das pesquisas mais recentes mostra que o anarcocapitalista teria 54% dos votos se fosse ao segundo turno contra Sergio Massa, a quem toda a máquina peronista – apesar do corpo mole de muitos companheiros – só daria 31%.

Contra Patricia Bullrich, a diferença seria menor: 36% a 29%, com uma grande quantidade de indecisos, na faixa dos 35%.

Ou seja, a candidata do Juntos Pela Mudança teria mais chances do que o atual ministro da Economia. A questão é que precisaria chegar ao segundo turno. Tecnicamente, ela está empatada com Massa no primeiro turno, em 22 de outubro. Mas quando chegamos nos votos válidos, a sondagem fica mais clara: 37,3% para Javier Milei, 32,4% para Massa e 26,3% para Patricia.

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Ou seja, os dados estão lançados e uma parte dos observadores já está em outra fase: eleito presidente, quanto tempo Javier Milei duraria no cargo antes de desencadear uma crise de proporções épicas?

Analistas argentinos estão prevendo uma espécie de versão ultraturbinada do que foi o governo de Fernando Collor, sem base no Congresso, com propostas altamente personalistas e radicais e um discurso inevitavelmente decepcionante contra os marajás – substituídos pela palavra casta no caso de Milei. Todo mundo sabe como terminou.

“Javier Milei é um risco para a democracia argentina”, decretou a Economist, depois de uma longa entrevista em que a revista detectou o viés autoritário num candidato que, pelas opiniões ultraliberais, deveria ser o oposto exato disso. “Destemperado, imprudente e extravagante: pouco em Milei sugere que ele seja o salvador que a Argentina precisa”.

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Podem trazer o libertarianismo para cá que nós acabamos com ele, diriam os mais céticos sobre a exótica combinação identificada num candidato que deu a seus “filhinhos de quatro patas”, os adorados cães da raça mastim inglês, os nomes de ídolos econômicos, Murray, Milton, Robert e Lucas.

A linguagem altamente agressiva assustou a Economist, mas foi graças a ela que Milei passou de participante de programas de televisão, sempre com as opiniões mais exageradas, a um bastante possível presidente eleito, o que provocaria um terremoto que a Argentina, aproximando-se da hiperinflação e com as reservas esgotadas, não tem condições de suportar.

Numa carta aberta da semana passada, mais de duzentos economistas argentinos, de todas as tendências, criticaram a principal proposta de Milei, a dolarização, como uma “alquimia monetária” que redundaria num “aumento absurdo da dívida pública” e numa explosão inflacionária.

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O tom do documento é moderado, mas os ânimos estão acirrados. Carlos Melconian, um economista respeitado que Patricia Bullrich colocou como potencial ministro da Economia, ficou com os olhos marejados de lágrimas durante uma entrevista de rádio que viralizou. Mais pelos termos do que pelo contido pranto. Batendo várias vezes na bancada uma pilha de documentos preparados para tirar o país do buraco, caso Bullrich seja eleita, ele disse: “Eu ficaria muito mal se tivesse que mandar tudo isso à m****”.

Atenção: ele é o nome da racionalidade.

Até a Igreja argentina resolveu entrar nesse ambiente de alta polarização, reclamando, através do presidente da Conferência dos Bispos, dom Oscar Ojea, dos “insultos irreproduzíveis” dirigidos por Milei ao papa Francisco. “Um personagem nefasto e representante do maligno na Terra”, foram as palavras exatas, pronunciadas há dois anos e desenterradas agora por interesse político.

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Padres militantes e padres kirchneristas – é claro que existe isso na Argentina – fizeram missas e outros atos de desagravo ao papa argentino. Provocaram repúdio dos que não se sintonizam com as posições atuais da Igreja. O “papa peronista” não é nada popular nesse espectro da opinião pública, principalmente depois que nomeou dois nomes altamente identificados com o kirchneerismo para posições em instituições da igreja.

Mas é difícil discordar da análise do bispo Ojea sobre o “clima de autodestruição” e o “desejo de que tudo exploda para cair no vazio”, como “uma doença social que anula todo o horizonte e projeto de futuro”.

Faltou dizer: nenhuma das condições extremas que levaram uma parte tão importante do eleitorado argentino e jogar tudo para o alto e apostar em Milei foi criada por ele. Milei é o sintoma, não a doença.

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“Estamos diante de uma mudança de mentalidade e de sensibilidade nos setores mais castigados da população”, escreveu Carlos Pagni no La Nación sobre a guinada no eleitorado que está impulsionando Milei, principalmente entre os pobres, mas não os indigentes, e a classe média baixa.

“É gente que o escuta porque fala da escola austríaca, porque defende o mercado quase que como uma religião, porque cita livros de autores quase filosóficos? Provavelmente não. Talvez vote nele porque vê como ‘tem raiva de tudo como eu’ ou ‘quer pôr fogo em tudo como eu’ ou ‘põe a culpa por tudo na casta, como eu’.”

Se Milei for eleito, tudo muda: passará a contar com um insuportável grau de expectativa e nenhuma rede de segurança para o salto rumo ao desconhecido.

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