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Os múltiplos processos ajudam ou atrapalham a candidatura de Trump?

Ainda é difícil cravar, mas o papel de perseguido por forças sinistras do sistema alimenta as convicções dos trumpistas mais ardorosos

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 13 Maio 2024, 22h57 - Publicado em 8 ago 2023, 06h49

“Acabou”, “Pode morrer na prisão” e, claro, “Por que dessa vez é sério mesmo”.

As manchetes da maioria dos meios de comunicação refletem a realidade ou são uma expressão de desejo?

Talvez ambas as coisas. O terceiro processo em que Donald Trump se tornou réu, com o quarto, na Geórgia, vindo a caminho, é certamente sério porque envolve o âmago da democracia, com uma acusação de conspirar para fraudar o resultado de uma eleição ao convocar manifestantes a protestar, redundando na invasão do Capitólio, a sede do Congresso americano (a peça de acusação não menciona que Trump usou os advérbios “pacificamente” e “patrioticamente” nessa convocação, mas os advogados do ex-presidente não vão deixar de lembrar isso).

Como não existe justiça eleitoral, o processo vai ter que passar por todas as etapas devidas, uma garantia do sistema americano. Não é impossível que chegue à Suprema Corte, bem mais à
frente.

Um dos maiores advogados constitucionalistas dos Estados Unidos, Alan Dershowitz, escreveu que na peça apresentada para tornar Trump réu, o procurador especial Jack Smith argumenta que o ex-presidente “sabia ou devia saber que havia perdido a eleição de forma limpa e, portanto, suas ações ao contestar o resultado foram corruptoras e ilegais”.

O problema, acrescentou, é que a Suprema Corte já manteve em várias decisões o conceito de que “não existe uma coisa chamada falsa opinião”.

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“Todos os americanos, especialmente os políticos, têm o direito de errar em suas opiniões. Também têm o direito de manifestar suas falsas opiniões ou pelo menos na medida em que acreditem honestamente que são verdadeiras”.

Nada, no mundo, se iguala às garantias à liberdade de expressão escritas na primeira emenda, ou primeiro artigo da constituição americana.

Dershowitz ainda provoca: “Imaginem como seria o mundo se todo político que conta uma inverdade para conseguir ser eleito fosse processado ou preso”.

“As sessões de nosso Legislativo teriam que ser realizadas na penitenciária de Allenwood em vez dos salões do Congresso”.

A defesa ao direito de mentir feita por Dershowitz pode ser minada por vários flancos, mas ele é um constitucionalista respeitado.

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Outra rara voz que contesta a maioria da mídia, que todo dia dá Trump por preso, algemado, condenado e trancafiado até o fim dos tempos, é o professor de direito Jonathan Turley. Ele vai na mesma linha: a peça contra Trump “basicamente o acusa de desinformação”.

De novo, é um assunto que cai na alçada da primeira emenda. Não existe delito de desinformação nos Estados Unidos.

O fato de que o julgamento será realizado em Washington, com um júri a ser escolhido no futuro, pode ter enorme influência no resultado. Os eleitores da capital americana, com uma população 45% negra, odeiam Trump. Na eleição de 2020, deram nada menos do que 92,15% dos votos a Joe Biden e míseros 5,40% ao ex-presidente.

É possível que ele tenha um julgamento justo num lugar assim? Isso vão argumentar seus advogados.

Enquanto isso, o tribunal da opinião pública, obviamente, não para. A grande, e inevitável, espetacularização dos processos contra Trump parece que já está sendo absorvida. Tem até um ritual: a comitiva de carrões pretos sai de Mar-a-Lago, o palacete na Flórida para onde se mudou, ou de Bedford, seu outro clube de golfe, ele pega o magnificamente chamado Trump Force One, seu Boeing particular, chega na cidade onde tem que se apresentar ao juiz e depois faz todo o caminho inverso. Câmeras aéreas acompanham tudo e os canais de notícias são totalmente ocupados pelo assunto. O processo todo está sendo chamado de “TV Justiça de Trump”.

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Isso ajuda ou atrapalha a candidatura presidencial dele? Entre os eleitores do Partido Republicano, está ajudando. A imagem de perseguido pelo sistema propeliu seu domínio nas eleições primárias, onde tem 53% das preferências. Ron DeSantis, o governador da Flórida que em algum momento pareceu ser uma alternativa, caiu para 14%.

E na eleição presidencial propriamente? Vários especialistas democratas estão tocando, discretamente, os alarmes. Barack Obama conversou com Joe Biden sobre os “pontos fortes” de Trump – um encontro prontamente vazado, o que pode ser interpretado como um “hedge”, uma proteção erguida pelo ex-presidente para poder dizer no futuro “Eu bem que avisei”.

Na CNN, quase um órgão oficial do Partido Democrata, o analista Harry Ertem avaliou: ”Trump não apenas está numa posição historicamente forte para, fora da presidência, conseguir a indicação pelo Partido Democrata, como também numa posição melhor para ganhar a eleição geral do que esteve em qualquer ponto do ciclo de 2020 e quase que em qualquer ponto do ciclo de 2016”.

A pesquisa do New York Times que deu um empate cravado em 43% entre os dois candidatos continua a causar pesadelos entre os democratas.

Outra pesquisa, a Harvard/Harris, coloca pela primeira vez Trump na frente: 45% dos votos contra 40% para Biden.

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Também dá uma grande vantagem ao ex-presidente entre os eleitores que se declaram independentes, de 45% de preferências por Trump contra 27% para Biden.

Um dos fatores que pesam em favor de Trump para esse tipo de eleitor é a impressão de que ele está sendo massacrado para deixar de existir na vida política. Por exemplo, no outro processo em que virou réu, por comprar indiretamente o silêncio de uma ex-amante, são nada menos do que 34 acusações.

Uma infidelidade conjugal pode virar assunto de estado? Uma parcela importante da opinião pública interpreta isso como lawfare, o uso abusivo de instrumentos legais para eliminar um adversário político. Os dois mais conhecidos políticos brasileiros argumentam, ou argumentavam, exatamente a mesma coisa.

Os mais conspiracionistas acreditam até que Trump quer ser preso para consolidar a imagem de mártir, o que explicaria os ataques tuitados (impossível dizer “xizados”, culpa do Elon Musk) contra o procurador especial, Jack Smith, e a juíza Tanya Chutkan.

A imagem de perseguição não é uma fantasia pró-Trump. Tem números para sustentá-la: segundo uma pesquisa CBS/YouGov, 59% dos entrevistados concordam que a enxurrada de protestos constitui “uma tentativa de parar a sua campanha presidencial para 2024”. Dividindo por preferência política: 86% dos republicanos fazem essa interpretação, 63% dos independentes e até 31% dos democratas, um número bastante alto.

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A TV Justiça de Trump vai continuar com um novo processo no estado da Geórgia, também envolvendo acusações de interferência eleitoral. É impossível um candidato não ser desgastado com tanta informação negativa. Mas Trump se especializou em desafiar o impossível. Como isso vai chegar até novembro do ano que vem? A resposta envolve a saúde física e mental de Joe Biden, o estado da economia, a guerra na Ucrânia e o preço do petróleo, entre outros elementos. Fora o próprio andamento dos processos.

Espertamente, Trump começou a apresentar propostas econômicas, o assunto que de fato interessa à maioria da população.

“Nós tivemos a melhor economia da história do mundo”, disse ao site Breitbart, com o exagero habitual. “Vamos fazer isso de novo. Vamos perfurar para encontrar energia. Vamos encontrar o que está debaixo dos nossos pés – ouro líquido. Depois, vamos começar a pagar a dívida e diminuir impostos”.

É ouro em forma de palavras para a parcela do eleitorado que pensa exatamente da mesma maneira. Impossível cravar se basta para elegê-lo. Talvez o desgaste já tenha acabado com suas chances. Mas também pode ser que não.

Quantos eleitores rejeitariam categoricamente a tentação do “ouro líquido”?

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