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O risco maior nos Estados Unidos: de confrontos entre civis

Saques, incêndios e caos são pouco se comparados ao que pode acontecer caso as manifestações violentas cheguem aos bairros de classe média

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 3 jun 2020, 14h19 - Publicado em 3 jun 2020, 07h30

As cenas mais recentes nas ruas dos Estados Unidos são de estontear. 

Rockefeller Center? Saqueado. Macy’s? Destroçada. Saks Fifth Avenue? Enrolada em arame farpado para evitar novos ataques. 

No Soho, os saqueadores levaram relógios de uma loja da Rolex no valor de 2,4 milhões de dólares na segunda-feira.

Na terça, um tremendo Rolls Royce Cullinan estacionou na frente de uma loja para facilitar o transporte de produtos saqueados. O carro custa 350 mil dólares.

O governador e o prefeito de Nova York, ambos democratas, estão brigando por causa das falhas gritantes de policiamento.

Nenhum dos dois, Andrew Cuomo ou Bill De Blasio, fala mais de Covid-19, distanciamento social ou reabertura dos negócios.

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Em cidades como Minneapolis, onde começaram os protestos pela morte de George Floyd, a tática de “inundação” – cobrir as ruas com forças policiais e militares – funcionou e a violência refluiu.

Provavelmente, vai durar pouco: amanhã começam as cerimônias fúnebres em memória do morto pela polícia.

Um quase xará, o boxeador Floyd Mayweather, está pagando as despesas do enterro.

“Meu irmão era da paz”, disse na segunda Terrence Floyd, implorando, com comovente simplicidade, pela união e a pacificação.

Se não houver pacificação, existe um risco maior ainda: partidários da violência estão ameaçando “ir para os subúrbios”. 

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Ou seja os condomínios – abertíssimos – onde mora a classe média.

Muitos jovens desses bairros afastados estão brincando de revolução e se incorporando aos Antifas, a moda do momento.

Mas muito mais moradores estão assustados. E uma parte deles tem aquelas armas que só nos Estados Unidos são vistas nas mãos de civis.

Alguns grupos de autodefesa já começaram a aparecer.

Para evitar o pior dos piores, é vital que a violência seja controlada para não incitar confrontos entre os adeptos do quebra-quebra e moradores temerosos que gostam de um bangue bangue (legal, em lugares apropriados), o que ganharia contornos de conflito civil.

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E de uma forma que não provoque mais violência ainda – o grande desafio das autoridades é restaurar a ordem sem causar novas vítimas e sem impedir que as manifestações legítimas continuem.

Ao contrário dos policiais envolvidos na horrenda morte de Floyd, forças de choque, da polícia ou da Guarda Nacional, são bem treinadas e sabem operar em situações de crise.

Ajudaria também se Donald Trump conseguisse falar à absoluta maioria dos americanos que execra a barbárie cometida contra um homem algemado e repudia a destruição provocada pelos protestos violentos.

O ex-magnata da imprensa e colunista Conrad Black, um dos poucos intelectuais de respeito a favor de Trump, fez uma comparação ousada.

“Desde que Charles de Gaulle enfrentou uma prolongada greve geral na França em 1968, nenhum líder de uma grande democracia enfrentou algo tão parecido com uma insurreição como a situação que o presidente Trump enfrenta agora”.

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Black evocou o sintético discurso que de Gaulle fez à nação e sua posterior vitória eleitoral.

O problema, ou um dos problemas, é que Trump não é Charles de Gaulle.

Até gestos como ir à igreja salva do incêndio em frente da Casa Branca, que poderia ser uma manifestação de bravura, são estripados como manipulação eleitoreira.

O ódio a Trump permeia não só as manifestações, como a cobertura da grande imprensa.

Num fato inédito nos Estados Unidos, órgãos de imprensa estão escamoteando a extensão da anarquia generalizada para não “ficar mal” para os manifestantes que incitam ou praticam atos violentos.

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O New York Times chegou a mudar uma manchete de forma a disfarçar a realidade.

A original dizia: “Enquanto o caos se espalha, Trump promete ‘acabar com ele agora.”

Virou: “Trump ameaça mandar tropas aos estados”.

Qual reflete mais a situação verdadeira?

Para encontrar a informação de que George Floyd tinha uma condenação de cinco anos por roubo a mão armada numa casa no Texas, é preciso olho profissional.

Os vários vídeos feitos de sua horrível morte, com um joelho no pescoço, mostram que sua ficha criminal é irrelevante. Estava algemado e não queria entrar na rádio patrulha, não resistindo agressivamente.

Pode ser relevante para entender por que se opôs tanto a ser detido por passar uma nota falsa de 20 dólares. Ou não. 

Quando Derek Chauvin, o policial que o matou, for levado a um grande júri ou a julgamento, dependendo do que seus advogados achem melhor, tudo isso será colocado em contexto – pela defesa e pela acusação.

Por enquanto só dá para pensar no amanhã.

É importantíssimo protestar e forçar a criação de mais instrumentos que impeçam casos criminosos de racismo como foi a morte de Floyd.

E é igualmente importante acabar com os saques e outros atos abusivos que a turma do quanto pior, melhor aproveita para espalhar o caos, como diria – antes de se retratar – o New York Times

A perspectiva de que levem a um conflito civil é aterradora.

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