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O que um lacaio de Putin está fazendo ao elogiar o presidente ucraniano?

Zelensky “não deve ser subestimado”, diz, misteriosamente, o influenciador político que foi da cadeia a íntimo do presidente russo

Por Vilma Gryzinski 3 nov 2022, 07h25

O que é verdade e o que é mentira – a tarefa quase impossível que os jornalistas honestos enfrentam diariamente – fica ainda mais difícil de determinar no meio de uma guerra e nos tradicionalmente fechados bastidores do Kremlin.

O jeito e juntar elementos com potencial de ser verdadeiros, apesar de todas as conjunções adversativas.

Fato 1: Ievgueni Prigozhin tem um acesso raro aos ouvidos de Vladimir Putin. Virou parte do círculo íntimo do presidente russo, embora seja impossível determinar o grau de intimidade.

Fato 2: ele tem uma das carreiras mais bizarras de um universo já naturalmente estranho. Foi um jovem delinquente, com nove anos de cadeia por roubo e fraude. Lançou uma rede de pontos de venda de cachorro quente, abriu um restaurante flutuante em São Petersburgo, Putin e visitantes ilustres viraram frequentadores, deu um pulo de gato ao ganhar licitações para fornecimento de merenda escolar e refeições para as Forças Armadas. “Ganhar” é modo de dizer, evidentemente.

E deu um pulo de tigre ao montar uma dupla rede de operações clandestinas. Uma é o Grupo Wagner, organização com cerca de sete mil militares que fazem o que até o Exército russo não faz, com intervenções diretas no território separatista ucraniano de Donbas, na Síria e agora, de novo, na Ucrânia. O outro braço é formado por suas “fazendas de trolls”, centros onde especialistas em desinformação interferiram, por exemplo, em eleições americanas.

Fato 3: o “chef de Putin”, como ainda é chamado, embora tenha escalado patamares infinitamente mais altos, fez esta semana elogios muito coerentes a Volodymyr Zelensky.

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“Embora seja presidente de um país hostil à Rússia no momento, Zelensky é um líder forte, seguro, pragmático e agradável”, escreveu numa rede social russa.

“Não o subestimem”.

Subestimar Zelensky é, evidentemente, tudo o que os meios oficiais e oficiosos russos fazem desde antes da invasão da Ucrânia, pintando-o como o “chefe de uma gangue de neonazistas viciados em drogas”.

É claro que faz parte da propaganda de guerra, principalmente para consumo interno. Mas também é claro que a cúpula russa achava que o humorista eleito presidente numa espécie de protesto coletivo contra a corrupção da política tradicional (um metapresidente, visto que foi esse seu papel numa série de televisão) sairia correndo, com o rabo entre as pernas, assim que visse os mísseis russos chovendo sobre Kiev.

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Todo mundo sabe o que aconteceu em seguida.

Elogiar Zelensky é um passo bem maior do que as críticas que Prigozhin e o líder checheno Ramzan Kadirov têm feito aos comandantes da guerra, numa espécie de válvula de escape – ou balão de ensaio -, consentidos por Putin.

O site Meduza, que funciona fora da Rússia, acha que os dois são aliados contra Serguei Shoigu, o ministro da Defesa que usa farda de general, embora nunca tenha servido nem como soldado raso. O Meduza também diz que Prigozhin tem uma vendeta particular contra o governador do distrito de São Petersburgo, Alexander Beglov, por brigas envolvendo licitações passadas.

Fontes do site dizem que Prigozhin “não é mais o menino de recados” encarregado de tarefas sujas, tendo se tornado “membro pleno” do círculo íntimo de Putin.

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Entre as “tarefas” mais recentes, uma apareceu num vídeo: Prigozhin falando a presos comuns a quem prometeu anistia em troca de seis meses de serviço militar na frente da Ucrânia.

Os termos são os mais diretos possíveis.

“A taxa de munição é 2,5 maior do que em Stalingrado”, diz ele aos presos que formam um semicírculo, referindo-se à mais simbólica batalha da II Guerra Mundial.

Primeira condição para quem aceitar a proposta: ninguém se rende. Cada voluntário será municiado com duas granadas para explodir caso seja preso. Segunda: nada de bebida e de drogas. Terceira: nenhum contato sexual com “mulheres locais, com fauna, flora, homens, o que for”.

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Por incrível que pareça, o exército mercenário de Prigozhin tem regras mais estritas do que a força regular, onde os episódios de indisciplina,  bebedeira e estupros se tornaram tristemente comuns.

Tornar-se o apaniguado que “fala a verdade” a Putin pode ser um passo mais ousado do criador do Grupo Wagner. Ou pode ser apenas um jogo combinado com o todo-poderoso. 

Em qualquer hipótese, Prigozhin fez o impossível: um retrato correto do presidente ucraniano numa rede social russa. Falar a verdade a tiranos é uma atividade de altíssimo risco e o ex-presidiário e vendedor de cachorro quente provavelmente sabe disso muito bem.

É possível que Putin use seus apaniguados para manter o comando regular das forças armadas em situação de desconforto, da mesma forma que deixa “vazar” conversas entre altas patentes sobre o eventual uso de uma arma nuclear tática na Ucrânia para incomodar os aliados ocidentais.

Será interessante acompanhar os próximos movimentos de Ievgueni Prigozhin e o tempero que anda pondo nos pratos políticos que anda servindo.

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