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O maravilhoso patrimônio que Putin terá que destruir para tomar Kiev

Catedrais e mosteiros, com cúpulas douradas e séculos de uma história que o líder russo diz venerar, estão no caminho da queda da capital ucraniana

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 16 mar 2022, 09h12 - Publicado em 15 mar 2022, 06h34

Santa Sofia de Kiev se inspirou na homônima de Constantinopla, a igreja construída para ser uma visão literal do paraíso (as duas são um ato de louvor à divina sabedoria, não a uma santa chamada Sofia). 

As cúpulas verdes e douradas da catedral identificam Kiev da mesma forma que o Cristo Redentor é o ícone visual do Rio de Janeiro e do Brasil. O interior é de um esplendor literalmente bizantino. Como em todas as igrejas ortodoxas, nem um único centímetro das paredes deixa de ser recoberto por ícones de santos, mosaicos e elementos decorativos dourados.

A catedral e o mosteiro de Kyiv-Pechersk, um vasto complexo religioso, são os monumentos mais conhecidos da cidade onde Vladimir Putin diz que estão o coração e a alma da Rússia – os ucranianos têm uma visão ligeiramente diferente: seu estado original, a Rússia Kieviana, ou Rus de Kiev, precede em muitos séculos a Rússia propriamente dita e tem direito a seguir um caminho próprio.

Mas o fato é que Putin certamente presta reverência às raízes kievianas e a seu xará, Vladimir, o Grande, o príncipe de Kiev, que no ano de 988 se converteu ao cristianismo e convenceu os súditos, com métodos que lembram os de Guerra dos Tronos, a fazer o mesmo. Putin mandou erguer uma estátua dele perto da Muralha do Kremlin quase quatro vezes maior do que a que existe em Kiev.

Seria o patrimônio histórico e religioso, com toda sua poderosa simbologia, o motivo que está segurando a invasão de Kiev? Estariam Putin e seus comandantes seguindo um plano de tomar todas as outras principais cidades para conseguir a rendição da capital sem luta?

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Com luta, vai ser difícil não atingir pelo menos uma parte das 800 igrejas de Kiev.

Tragicamente, não seria a primeira vez que igrejas ucranianas são destruídas por russos. A catedral de São Miguel, também parte de um complexo religioso, foi demolida por ordem de Stálin depois que arquitetos a serviço do partido decretaram que ela “não tinha valor artístico”. Um arqueólogo e especialista em história da arte que discordou foi para o exílio e depois acabou executado.

São Miguel foi reconstruída depois do fim do comunismo.

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A demolição de igrejas da Ucrânia foi praticamente contígua à Grande Fome, o extermínio pela inanição da população rural do país para impor a coletivização da terra. Entre 2 e 5 milhões de pessoas morreram no Holodomor, como se tornou conhecido o martírio pela fome. O memorial às vítimas fica na mesma área central de Santa Sofia e São Miguel.

Alguns mosaicos originais da catedral de São Miguel foram transferidos para Santa Sofia, mas a pressa era tanta que não deu para salvar todos. As relíquias de Santa Bárbara foram transferidas para a igreja da Dormição de Nossa Senhora, que também acabou demolida.

A fúria de Stálin, conhecida pelo nome mais brando de campanha antirreligiosa (1928 a 1941), devorou pelo menos 400 igrejas em Moscou. A mais famosa foi a catedral de Cristo Salvador, reconstruída por Putin.

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A reconstrução de igrejas e a reconstituição dos laços religiosos deu a Putin a fidelidade total do Patriarcado de Moscou. Na semana passada, o patriarca Kirill não só endossou a invasão da Ucrânia como disse que a reação era liderada por aqueles que querem impor paradas gay no santo solo eslavo.

A questão da Ucrânia já havia provocado um racha na igreja ortodoxa e a criação do Patriarcado de Kiev, endossada depois de anos de discussões pelo patriarca de Constantinopla (Istambul, para os modernos).

A Igreja Ortodoxa do Oriente nasceu do maior racha da Igreja Católica, no ano 1054. Não tem uma autoridade máxima, como o papa, mas o patriarca de Constantinopla detém a palavra final.

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Por respeito à tradição, muitos ucranianos que não apoiaram as intervenções russas desfechadas a partir de 2014 continuaram a seguir o Patriarcado de Moscou. Estão sendo submetidos agora a um teste de fogo, literalmente.

Se for desfechada uma ofensiva contra uma cidade onde militares e civis estão intensamente mobilizados para a defesa, com a consequente destruição em massa que já acontece em outras cidades ucranianas, Putin acrescentará ao currículo, ironicamente para um homem que se jacta da reconstrução de igrejas, o título de Vlad, o destruidor de Kiev.

Outros já o apelidaram de Voldemort Putin.

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