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O incrível caso do avião misterioso na Argentina: terrorismo, contrabando?

Coisa boa não pode ser um avião de carga cheio de iranianos e venezuelanos suspeitos que desliga o sistema de rastreamento obrigatório

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 15 jun 2022, 15h06 - Publicado em 15 jun 2022, 08h05

Nada como a Argentina para prover histórias dramáticas. A do momento envolve um Boeing 747 que pertenceu até janeiro a uma companhia aérea iraniana e foi transferido à Emtrasur, uma empresa venezuelana.

Pelo manifesto, o avião vinha do México e levava um carregamento de cigarros com destino a Aruba. Deveria pousar em Ezeiza, não conseguiu, foi para Córdoba, tentou o Uruguai e voltou para Ezeiza, onde está embargado. Trecho anterior: foi de Caracas para Ciudad del Este, notório centro de atividades do Hezbollah, o grupo libanês unido ao Irã pela identidade xiita e incontáveis operações clandestinas.

O avião levava também uma tripulação completamente incompatível com um voo de carga: catorze venezuelanos e cinco iranianos. 

Entre estes, o piloto Gholamreza Ghasemi, identidade que “coincide com o nome de um membro da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã e administrador da Fars Air Qeshm, linha aérea iraniana que usa aviões 747 para traficar armas para grupos terroristas”, segundo o serviço de inteligência da argentina, a DAIA.

Além da rota bizarra, o Boeing desligou o transponder, o equipamento que rastreia os voos e evita que aviões colidam no ar. É proibido desligá-lo, pelas normas internacionais.

Choveram informações provenientes do Paraguai, do Uruguai – dois países que negaram pouso ao Boeing – e de outras ”fontes” muito bem municiadas sobre o avião misterioso.

A oposição argentina deu o alarme e, por ordem da Justiça, a tripulação turbinada teve os passaportes e os celulares apreendidos.

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A Argentina tem antecedentes trágicos de operações terroristas produzidas pelo conluio do Irã, que opera no exterior através de uma ala da Guarda Revolucionária, e o Hezbollah.

O país, que não tinha histórico de atentados internacionais nem a consequente rede de segurança, foi escolhido para dois mortíferos ataques contra Israel e judeus em geral. O primeiro foi o carro-bomba que destruiu completamente a embaixada israelense em Buenos Aires, deixando 29 mortos e 242 feridos, em 1991. 

Como, caracteristicamente, as investigações deram em nada, o Irã reincidiu três anos depois, com outro atentado suicida mais violento ainda, contra a AMIA, um centro voltado para a comunidade judia. Foram 85 mortos e mais de 300 feridos.

Os atentados tiveram graves desdobramentos políticos, entre os quais o “memorando de entendimento” da época do governo de Cristina Kirchner que consumava a operação abafa. O acordo foi assinado em 2013 e denunciado por Alberto Nisman, o promotor que investigava os atentados. Dois anos depois, Nisman apareceu suicidado dentro de seu apartamento, uma morte explosiva que provocou intensa comoção nacional. A Justiça acabou concluindo que tinha sido um homicídio – mas o caso continua insepulto.

Aviões venezuelanos também têm um histórico de atração fatal pela Argentina.

Em 2007, foi interceptada uma maleta com 800 mil dólares num avião da PDVSA, a petrolífera argentina que virou a maior fonte de subvenção clandestina do chavismo.

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O portador, Guido Antonini, venezuelano com nacionalidade americana, disse que no mesmo voo havia outra mala mais nutrida, com 4,2 milhões de dólares. Estava sob a guarda do filho do presidente da PDVSA.

O dinheiro era todo para a campanha da companheira Cristina Kirchner.

Os detalhes só vieram à tona porque o caso foi levado à Justiça americana.

Se o histórico pesar, o mistério do avião embargado em Ezeiza vai seguir o mesmo rumo: investigações que não investigam, governos que se sucedem sem apurar nada, operações para abafar o que deveria ser esclarecido, figuras que operam no mundo dos serviços de inteligência agindo para causar desinteligência e políticos que sobrevivem a escândalos devastadores em circunstâncias normais.

Como no Brasil, as circunstâncias são sempre anormais na Argentina.

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