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O caso da jovem francesa: qual a idade para o consentimento sexual?

Vinte bombeiros envolveram-se em abusos contra Julie Leriche, dos quais apenas três serão julgados por “importunação sexual”, delito considerado leve

Por Vilma Gryzinski 8 fev 2021, 08h14

Em situação de extrema vulnerabilidade psíquica, Julie Leriche tentou se suicidar saltando pela janela. Ficou com 80% da mobilidade comprometida.

O caso dela é tão devastador que parece inacreditável. Quando tinha entre 13 e 15 anos, foi repetidamente violentada por bombeiros, na maioria da estação de Bourg-la-Reine, numa cadeia de abusos que começou quando recebeu atendimento de emergência, com grave crise de ansiedade.

O primeiro dos três acusados formalmente entrou em contato com ela via rede social, convenceu-a a se despir diante da câmera do celular e daí acabou saltando para o sexo real. Julie – um pseudônimo – foi sendo passada para outros homens, individualmente ou em grupo. Um deles fez sexo com ela no banheiro de um hospital onde estava internada na psiquiatria pediátrica.

A família de Julie associou sua tentativa de suicídio, em 2019, a uma decisão da justiça reclassificando a acusação contra três dos bombeiros, de estupro para importunação sexual. Os outros dezessete nem serão levados a julgamento.

Os acusados dizem que o sexo foi consensual e que a adolescente até “flertava” com eles. O que fez sexo com ela no banheiro do hospital disse que não notou nenhum sinal de resistência ou vulnerabilidade.

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Na França, não existe uma idade de consentimento definida claramente em lei. No Brasil, sexo com menores de 15 anos, independentemente de consentimento ou não, é enquadrado como estupro de vulnerável.

Julie Leriche era tão vulnerável que, no período em que sofreu os abusos, foi internada 130 vezes, sendo levada para hospitalização pelos mesmos bombeiros que a violentavam.

“Pierre”, como é chamado o acusado que iniciou a cadeia de abusos, chegou a buscá-la em casa para “passear no parque”, com autorização da família.

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A idade em que uma pessoa pode fazer sexo varia, obviamente, de acordo com as normas sociais. Durante boa parte da história humana, a puberdade foi considerada o marco simples e indiscutível. 

Entregar filhas para o casamento aos 14 ou 15 anos não tinha nada de excepcional. Na Índia da era do colonialismo britânico, houve muita resistência quando a idade do consentimento passou de 10 para 12 anos.

A partir da década de sessenta, a revolução sexual veio acompanhada de vários movimentos para a diminuição do limiar do sexo legal. Enquanto meninas adolescentes enfeitavam páginas de revistas masculinas – inconcebível pelos padrões atuais -, uma conhecida agrupação gay fazia campanha pela diminuição da idade de consentimento dos meninos para 13 anos e sua eventual eliminação.

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Nos Estados Unidos a idade do consentimento varia de 16 a 18 anos, conforme o estado. A diferença de idade do parceiro e a posição, de superioridade hierárquica ou não, também influenciam.

Os padrões mudaram e a lei tenta acompanhar. Recentemente, o assunto provocou outro escândalo na França. Camille Kouchner escreveu um livro contando como seu irmão gêmeo foi abusado a partir dos 14 anos pelo padrasto, um intelectual conhecidíssimo, Olivier Duhamel.

Os vários ramos da família são da elite da esquerda. O pai biológico dos gêmeos é Bernard Kourchner é um dos fundadores do Médicos Sem Fronteira e foi ministro das Relações Exteriores. A mãe, Évelyne Pisier, teve um caso com Fidel Castro. Ela morreu em 2017. Tinha ficado ao lado do segundo marido quando confrontada com o abuso sofrido pelo filho.

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Hoje com 45 anos, ele apresentou queixa contra Olivier Duhamel depois que a irmã lançou o livro. O reputado professor, personalidade frequente em programas de televisão, renunciou aos postos em instituições acadêmicas. 

Camille reproduziu um diálogo alucinante que teve com a mãe, quando ela alegou o consentimento de seu próprio filho:

“Não houve violência. Seu irmão nunca foi forçado. Meu marido não fez nada. Foi seu irmão que me enganou”.

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Seres humanos são capazes de atrocidades indescritíveis. Uma mãe que fecha os olhos ao abuso do filho, um padrasto que alega consentimento do enteado para fazê-lo, profissionais que se dedicam a salvar vidas explorando sexualmente uma adolescente com sérios problemas de saúde mental.

O caso da jovem abusada por bombeiros virou hashtag, #JusticepourJulie. Depois de amanhã, sairá a decisão sobre os três acusados principais. A justiça para Julie ainda está muito longe.

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