Relâmpago: Assine Digital Completo por 2,99
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

O caos das guerras comerciais

Todos os países implantam tarifas, mas poucos terminam vitoriosos

Por Vilma Gryzinski 12 abr 2025, 08h00

Os Estados Unidos nasceram de uma tarifa, o gatilho da revolta dos colonos contra o imposto de importação sobre o chá que a metrópole colonial inglesa monopolizava por meio da Companhia das Índias Orientais. Os rebeldes, que usaram o subterfúgio de se vestir como índios moicanos para entrar nos três navios ingleses ancorados em Boston e jogar no mar as cargas de chá tarifado, são tratados como os patriotas originais, os deflagradores da independência. É um exemplo em grande escala de como a questão do protecionismo, das tarifas e do comércio influencia a política, a economia e a vida das pessoas. O conceito de livre-comércio foi desenvolvido na Inglaterra por David Ricardo por causa das Leis dos Cereais, as tarifas protecionistas que impediam a importação de produtos agrícolas para favorecer os latifundiários. O assunto provocou revoltas e reviravoltas na política britânica, além da teoria de Ricardo, um operador da bolsa que ficou rico e se aposentou aos 41 anos, sobre a vantagem comparativa dos países.

Quando não estavam forçando colonos ou sua própria população a pagar caro por produtos importados, os ingleses também eram bons em obrigar países fracos a comprar ópio. As duas guerras do ópio que vergaram a China, no século XIX, foram absurdas até para os padrões do imperialismo da época. A segunda terminou com a rendição total: abertura dos portos, entrega de Hong Kong e, claro, liberação de importação de ópio. Cerca de 10% dos chineses tornaram-se viciados na substância extraída da papoula e a rendição é tratada, do ponto de vista do nacionalismo chinês, como exemplo de impotência.

“Quem vai se sair bem ou menos mal? É a melhor série do momento e o planeta inteiro faz parte dela”

A China que Trump está tarifando pesadamente traz essa história em sua narrativa nacional, agora na posição de gigante produtivo e aspirante a tirar os EUA do posto de superpotência número 1. O dragão asiático tem um bocado de fogo para soltar pelas ventas, embora a complexidade e a interdependência das economias modernas exijam cuidados. Também é exigida uma resposta a uma dúvida: se as tarifas protecionistas deram tão certo na mão contrária ao ajudar na transformação econômica da China, por que são tão ruins quando os EUA apelam a elas?

Hoje, o ópio do povo é o fentanil, que mata 100 000 americanos por ano e Trump pretende combater a golpes de tarifaço, e também muito do discurso populista protecionista que acompanhou a desindustrialização causada pela globalização em países de alto ou médio desenvolvimento. “Os benefícios de uma tarifa são visíveis. Os trabalhadores sindicalizados sentem-se ‘protegidos’. O mal que uma tarifa faz é invisível. Há pessoas que não têm emprego por causa de tarifas, mas não sabem disso”, disse Milton Friedman, cuja mão invisível tem uma óbvia conexão com a vantagem comparativa ricardiana, fundamento da economia liberal. Com o nó mundial que causou, Trump conseguiu que políticos e economistas da ala progressista se transformassem em guerreiros do li­vre-comércio, um dos muitos espantos a que assistimos. Quem vai se sair bem ou menos mal dessa nova guerra comercial? É a melhor série do momento e o planeta inteiro faz parte dela.

Publicado em VEJA de 11 de abril de 2025, edição nº 2939

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

ECONOMIZE ATÉ 82% OFF

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 2,99/mês

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$35,88, equivalente a R$ 2,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.