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O ‘Delcídio do Amaral’ que ajudou a derrubar Nixon

Sexo, delação premiada, mais sexo e um presidente americano forçado pelos fatos a renunciar

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 dez 2016, 11h22 - Publicado em 31 mar 2016, 12h43
Um casal de derrubar governo: Maureen e John Dean em depoimento de época

Um casal de derrubar governo: Maureen e John Dean em depoimento de época

Fazer comparações históricas entre acontecimentos correlatos é uma tentação. Não vamos cair nela aqui, fora a óbvia semelhança entre Delcídio do Amaral, o ex-líder do PT no Senado, e o homem que, mais do que qualquer outro, contribuiu para empurrar o presidente Richard Nixon em direção da renúncia, em 9 de agosto de 1974.

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O objetivo é apenas relembrar a incrível história de John Dean, o advogado com cara de menino, cabeleira lisa e óculos de aro de tartaruga que funcionava como um assessor de operações alopradas para Nixon.

Como a desastrosa instalação de grampos no comitê do Partido Democrata, num  conjunto de prédios de Washington chamado Watergate, flagrada quase que por acaso pela polícia. A pena puxada com a prisão dos aloprados acabou trazendo um aviário completo de águias americanas.

O caso entrou para a história como uma tentativa espetacularmente mal sucedida de grampear adversários políticos. É verdade, mas existe uma corrente mais conspiracionista para a qual os grampeadores queriam mesmo era flagrar dirigentes democratas em telefonemas comprometedores para uma agência de especialistas no ramo do entretenimento noturno que funcionava no mesmo prédio.

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Existem línguas rancorosas segundo as quais a senhora Dean, uma loira de derrubar governo, tinha prestado serviços à agência. Voltaremos a ela mais adiante. Seu nome era Maureen, apelido Mo. Viria a se casar com Dean em outubro de 1972, cinco meses depois que o desenho traçado pelos  grampeadores desastrados e suas conexões com o governo Nixon começou a ganhar traços de um problema político gravíssimo.

John Wesley Dean III fez colégio militar, onde ficou amigo do filho de Barry Goldwater, um senador republicano à direita de Gêngis Kan,  tornou-se voluntário da primeira campanha de Nixon, entrou para o Departamento da Justiça e, daí, colocou o pé na Casa Branca, como advogado do presidente, um cargo específico da estrutura do poder executivo dos Estados Unidos.

Depois que colaborou com a justiça, tornando-se testemunha privilegiada das falcatruas presidenciais, e cumpriu pena abreviada de prisão, Dean se dedicou a ouvir as intermináveis gravações feitas na Casa Branca, cuja divulgação Nixon tentou impedir, com pretexto derrubado na Suprema Corte.  Numa delas, H.R. Aldeman, que tinha um cargo equivalente a ministro da Casa Civil, fala sobre a vida sexual dele, Dean, com Nixon.

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“Acho que ele transfere sua frustração fazendo sexo animal, em carne viva”, diz Haldeman, num comentário algo deselegante – mas nada comparável  a tudo mundo sabe quais conversas –  que tinha por objetivo elogiar a atuação de Dean nas tramóias para acobertar o escândalo.

Nixon pergunta: “É verdade? Ele é um…..”.  A qualidade da gravação não permite  entender a palavra exata, mas não é difícil presumi-la. O casamento com Maureen, resultado de rápida e louca paixão,  também foi discutido na mesma conversa.

Em nome da honestidade intelectual, Dean incluiu o trecho num livro que escreveu em 2015, quando o caso Watergate completou quarenta anos. Ele queria entender como alguém tão experiente e politicamente hábil como Nixon “deixou que um arrombamento desastrado destruísse sua presidência”.

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Dean sabia do plano infeliz para instalar os grampos e, depois da besteira, coordenou as operações para esconder qualquer conexão com a Casa Branca. No meio do processo, Nixon foi reeleito – não, não faremos comparações fáceis. Depois da segunda posse, pediu a Dean que fizesse um relatório completo com tudo o que sabia sobre o caso Watergate. Como era um dos principais envolvidos nas ações ilegais, Dean desconfiou que havia sido escolhido como bode expiatório.

Contratou um advogado e começou a colaborar, em segredo, com a comissão do Senado que investigava Watergate. Quando rompeu publicamente com o governo, passou a prestar depoimentos à comissão, sempre acompanhado de Maureen. Ela usava o cabelo platinado preso num coque bem comportado e tailleurs curtinhos. Lembrava Catherine Deneuve no filme La Belle du Jour, com a diferença que as roupas da atriz francesa eram de grife e as de Maureen, tipo Chanel falsificada. Mas o efeito sobre libidos masculinas era parecido.

Dean colaborou com as investigações e foi condenado a pena de um a quatro anos de prisão, por obstrução da justiça. Quando se apresentou para cumprir a sentença, foi levado para uma instalação originalmente militar, destinada a colaboradores que testemunhavam contra mafiosos. Passou dias inteiros contando o que sabia para juízes e promotores encarregados de investigar o escândalo. Quatro integrantes do alto escalão do governo Nixon foram condenados por causa de sua delação.

Dean pediu redução de pena e, por causa da colaboração, ficou preso apenas por três meses. Quando saiu, rompeu com o Partido Republicano e foi trabalhar no mercado financeiro. Continua casado com Maureen, a quem conheceu durante uma viagem à Califórnia, por recomendação do amigo Barry Goldwater Jr. Que tipo de mulher costuma ser recomendada por amigos?  Mo Dean, que antes de conhecer o marido definitivo foi processada por um senhor mais velho para devolver um anel com um diamante de 9,5 quilates, também foi trabalhar no mercado. Financeiro.

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