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Nepotismo: filho de Maduro, neto de Fidel e a prole do papa

Que pai ou mãe não acha seu filho o mais inteligente, mais bonito e mais capacitado? Uma história a jato do favorecimento de parentes de poderosos

Por Vilma Gryzinski 15 jul 2019, 08h44

Olhado à distância de mais de 500 anos, o papa que virou sinônimo de nepotismo, Alexandre VI, o mais notório do clã Borgia, ainda é de derrubar queixos históricos.

Não só ele foi um espanhol (aragonês, mais corretamente) que se impôs na fabulosa e dividida Itália do Renascimento, seguindo a carreira do tio, Calisto III, como  teve as mais altas ambições para os filhos.

E que filhos. César Borgia foi cardeal aos 18 anos e  líder militar, ou condottiero, do rei da França. Papai sonhou que passasse a perna no rei. Chegou perto disso.

Maquiavel baseou O Príncipe nas fenomenais habilidades políticas e militares de César. Leonardo Da Vinci foi empregado dele. Sobreviveu à morte do pai e à sífilis, que o fazia usar uma máscara de couro, mas não a uma emboscada que o matou aos 31 anos.

Sua irmã, Lucrécia, a beldade de cabelos loiros até abaixo do joelho, requintada educação, três maridos, alguns  matados, e vários amantes, durou mais: chegou aos 39, como duquesa  de Ferrara – equivalente a princesa consorte. Durante um breve período, foi governadora de Spoletto, a cidade de Romeu e Julieta.

César e Lucrécia eram filhos da mais firme amante de Alexandre VI, tão poderoso e cara de pau que nem precisava apresentá-los como “sobrinhos”, em italiano nipoti, a palavra diretamente derivada do latim que deu origem a nepotismo.

Assim, o formidável César Borgia pertence assim à mesma categoria que Nicolasito Maduro, o gênio da raça que apareceu num vídeo viral tomando um “banho” de dólares numa festa de casamento e hoje é um destacado integrante da Assembleia Constituinte, a farsesca entidade criada pelo papá.

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Antes disso, foi chefe do Corpo de Inspetores Especiais da Presidência – tão especial que ninguém sabe o que fazia – e coordenador da Escola Nacional de Cinema.

E olhem que o cara tem 27 anos.

Sua madrasta é Cília Flores, ex-presidente do Congresso nacional, época em que emplacou 47 parentes “enchufados” – nem é preciso traduzir o termo venezuelano.

Como na época dos “papas maus”, o nepotismo vai além da vida. María Gabriela Chávez é a mulher mais rica da Venezuela e desfruta da imunidade do cargo de embaixadora alternativa na ONU.

LA VIDA BUENA

Sem o guarda-chuva protetor, os filhinhos de papais bolivarianos na lista negra dos Estados Unidos curtem a vida principalmente na Espanha.

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Quem também vive aparecendo em Madri e Barcelona é Tony Castro, praticamente um clone do avô na juventude.

O neto de Fidel tem “afinidade” com a carreira de modelo e uma conta no Instagram onde já apareceu dirigindo um BMW em Cuba, tomando sol numa lancha e em vários pontos turísticos do planeta. Living la vida buena.

Sem nenhuma posição oficial, não tem que esquentar a cabeça como Dariga Nazarbaieva, filha e herdeira do ex-presidente do Cazaquistão, uma das ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central, ricas em gás, petróleo e filhos excepcionalmente bem dotados.

Dariga atualmente é presidente do Senado. Já foi vice-primeira-ministra.

As filhas do presidente do Azerbaijão, Ilham Alieiv, dedicam-se mais ao império imobiliário com sede em Dubai, administrado através de uma rede de empresas de fachada.

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Filho de um ex-agente da KGB, Alieiv e família têm algo na casa dos 500 milhões de dólares. Problema: uma suspeita não comprovada de conexão com o assassinato de uma jornalista em Malta.

O ministro que criou a rede de offshores se chama Fazil Mammadov. É sério. Quem inventaria uma coisa dessas?

O genro do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, é ministro da Economia. Foi nomeado um mês depois da reeleição do sogrão.

Berat Albayrak já tinha sido ministro da Energia. Alá, e o resto da humanidade, sabem o que rola nessas situações.

O inusitado foi o bloqueio, no mês passado, de páginas da internet que mencionavam um suposto, supostíssimo, caso do ministro e genro com uma modelo.

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Os presidentes e outros poderosos da França arrumam estágios camaradas e empregos privilegiados para seus rebentos, mas Nicolas Sarkozy foi além.

Com um pequeno gênio em casa, não resistiu. Em 2009, Jean Sarkozy, aos 23 anos, surgiu milagrosamente como principal candidato a presidir o EPAD, o projeto de urbanização de La Défense, aqueles prédios feios que, pelo menos, ficam à distância da venerada e preservada silhueta central de Paris.

Sarkozy precisou de reuniões infinitas com os assessores e uma série de pesquisas indicando que os eleitores de seu partido de centro-direita estavam revoltados até o loiro Jean retirar a candidatura a dirigir o maior programa do tipo da Europa.

Alguém disse “república bananeira”? Todo mundo.

Hillary Clinton teria sido eleita senadora e depois candidata a presidente pelo Partido Democrata se não tivesse comido o pão que Monica Lewinsky amassou na cola do marido?

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É uma hipótese que não pode ser confirmada ou desmentida.

Dois Bushes, pai e filho, presidentes dos Estados Unidos? O país de George Washington, o líder da independência que, no processo do nascimento da nova nação, recusou a ideia de ser rei e depois de dois mandatos, deixou a presidência voluntariamente?

A filha e o genro de Donald Trump não ganham como assessores especiais do presidente e não ocupam cargos que dependeriam da aprovação do Senado – até a maioria republicana vacilaria.

Ivanka e Jared Kushner são milionários por direito próprio, mas as críticas chovem assim mesmo.

Numa vingancinha, o site da presidência francesa postou um vídeo que se tornou alvo de ridículo: Ivanka tentando puxar conversa com Emmanuel Macron, Theresa May e Christine Lagarde na última reunião do G20.

BULA PAPAL

Trump já disse mais de uma vez que a filha seria uma ótima presidente. Muito provavelmente Bill e Hillary Clinton acham o mesmo sobre Chelsea. Malia e Sasha Obama, já que a popular Michelle descarta a possibilidade?

A resposta é dos eleitores. Todos têm o direito de, preenchidas as condições, disputar cargos eletivos.

Nomeações de parentes são proibidas nos Estados Unidos pela Lei Antinepotismo de 1967, também chamada de Lei Bobby Kennedy. Ela impede a repetição do que fez o presidente John Kennedy ao nomear o irmão ao cargo equivalente a ministro da Justiça.

A posição de mártir nacional do presidente assassinado não impediu que Lyndon Johnson assinasse o projeto com gosto.

Aliás, ele achava Bobby Kennedy um “metido ***** ** ****”. Johnson era notório pela boca sujíssima.

Bobby, assassinado no ano seguinte, não era o único motivo da lei. No começo dos anos sessenta, havia cinquenta esposas de legisladores trabalhando no Congresso, nas equipes dos maridos.

O fato de que a corrupção, a venda de indulgências – e o nepotismo – de Roma tenham levado Martinho Lutero a pregar suas 95 teses nas portas de igrejas de Wittenberg não impediu o papa Alexandre VI de nomear cardeal o irmão de outra amante, Giulia Farnese.

Alessandro Farnese se tornou papa, com o nome de Paulo III. Patrono de Michelangelo e de Nicolau Copérnico, ele elevou à dignidade de cardeais os netos de 14 e 16 anos.

Seu substituto acabou baixando a bula papal que proibia concessão de territórios, cargos e títulos a parentes. Cardeal, só um por família.

Os “papas maus” deixaram os maiores legados artísticos da humanidade e a Santa Madre sobreviveu a eles. Alguns espíritos descrentes dizem que isso só pode ser prova da Divina Providência.

Também poderia ficar combinado que a exceção ao nepotismo só vale para quem der emprego a Leonardo Da Vinci e Michelangelo.

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