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Não olhe agora, Putin: há rebeldes russos tocando o terror na sua área

Incursão de batalhão rebelde em território russo, com tanques e blindados, cria um novo e inesperado problema para o Kremlin

Por Vilma Gryzinski 24 Maio 2023, 06h35

Tanques, blindados, forças organizadas e dois dias de confrontos filmados por drones, para não deixar dúvidas, na região de Belgorod, uma cidade de 340 mil habitantes a 40 quilômetros da fronteira com a Ucrânia. É de dar pesadelos em Vladimir Putin e seus asseclas.

Pior ainda quando se sabe quem são: integrantes de dois grupos, Corpo de Voluntários Russos e Legião Liberdade para a Rússia, formações de tamanho indeterminado — entre mil e 1,5 homens, calcula-se — que ocupam um lugar especial, e complicado, no leque de voluntários estrangeiros que combatem do lado ucraniano.

Alguns ataques contra objetivos estratégicos já haviam sido feitos em localidades russas ao alcance dos ucranianos, mas a operação lançada na segunda-feira não tem precedentes. Segundo o mar de boatos nas redes, os atacantes chegaram a tomar duas cidadezinhas e puseram fogo num prédio do FSB, o serviço de espionagem de Putin. Criaram um problema tão grande que toda a máquina de desinformação do governo foi mobilizada para, em primeiro lugar, minimizar o incidente, e, em segundo, propagar que os atacantes são ucranianos.

O ineditismo é tão surpreendente que foi feito até um meme do famoso vídeo em que, logo no início da invasão russa, Volodymyr Zelensky aparece com os assessores mais próximos para provar que não haviam fugido. “Todos estão aqui”, repete o presidente. Trolagem: ao fundo, aparece o nome de Belgorod.

Os sabotares “ucranianos” foram expulsos de volta para seu país, sofrendo 70 baixas, com cinco blindados destruídos, disse o Ministério da Defesa em Moscou, numa daquelas declarações que provocam risadas, mesmo no meio da tragédia de uma guerra.

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“Durante a operação antiterrorista, as formações nacionalistas foram bloqueadas e derrotadas por ataques aéreos, fogo de artilharia e ações cinéticas de unidades da Guarda Fronteiriça”, especifica o comunicado, indicando, indiretamente, que foi uma operação de grande monta, embora pareça ter sido concebida mais como instrumento de guerra psicológica. A retirada dos moradores de pequenas cidades da região também foi um sinal de que a operação teve repercussões maiores do que uma incursão quixotesca.

“Existe pânico no distrito de Belgorod, uma evacuação em parte organizada, mas também uma fuga espontânea”, afirmou a Legião de combatentes russos. Em linguagem dramática, acrescentou: “A guerra vai continuar até que o corpo enforcado de Putin enfeite as muralhas do Kremlin e o tribunal da opinião pública condene sua gangue”.

É, evidentemente, bazófia. Os rebeldes russos não têm capacidade de fazer “guerra” a Moscou. Mas podem incomodar — além de humilhar —, desviando recursos que normalmente seriam concentrados na ocupação dos territórios ucranianos conquistados e na esperada contra-ofensiva com o arsenal de armamentos sofisticados que a Ucrânia ganhou. São armas de respeito, incluindo as baterias de mísseis de longo alcance HIMARS e Storm Shadow, tanques Leopard 2 e Challenger 2, os futuros F16, fora a proteção a Kiev fornecida por dois sistemas Patriot — tudo do bom e do melhor.

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O timing da operação indica uma coordenação com os comandos ucranianos ao coincidir com o momento em que os russos comemoram a tomada de Bakhmut, que vai até ser “reconvertida” para o nome russo, Artemovsk. Quem olha para o mapa da Rússia, o maior país do mundo, com 17 milhões de quilômetros quadrados — o dobro do Brasil —, pode se perguntar como um grupo de mil combatentes pode afetar um gigante dessas dimensões.

Mas a Rússia propriamente dita tem população, grandes cidades e principais atividades concentradas para o lado do ocidente, mais vulnerável a forças vindas da Ucrânia.

Como depende dos Estados Unidos e dos aliados europeus para resistir à invasão, a Ucrânia teve que assumir o compromisso de não usar em território russo os armamentos fornecidos pela aliança ocidental, para evitar que a guerra se transforme num confronto direto entre as maiores potências nucleares do mundo.

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A atuação dos grupos rebeldes russos, formados por ex-militares e até integrantes do FSB, permite à Ucrânia se eximir de envolvimento. Obviamente, os rebeldes não poderiam dar um passo sem aprovação superior e o fornecimento de material bélico de Kiev. É difícil também conceber que tudo não faça parte de um plano maior da Ucrânia.

Qual a efetividade do ataque? A Operação em Belgorod foi muito além do tudo visto até agora, inclusive, provavelmente, o envio dos dois drones que explodiram sobre a cúpula do Senado no complexo do Kremlin — outro ato que foi minimizado por Moscou, num indício evidente de que não foi uma operação de bandeira falsa.

Existem ainda os dois misteriosos atentados a bomba que mataram Daria Dugina, a filha do teórico do “mundo russo”, um conceito que justifica intelectualmente o novo imperialismo, e do blogueiro militar Vladen Tatarski. 

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Colocar uma bomba num carro — provavelmente o alvo era Alexander Dugin, o pai — ou dentro de uma estatueta entregue a Tatarski durante uma palestra num bar de São Petersburgo não é uma tarefa fácil num estado policial mobilizado para a guerra. Curiosamente, as autoridades russas, que prenderam a mulher usada como mula para dar o “presente” ao blogueiro, não falam mais nada sobre os dois atentados.

Os voluntários russos que se organizaram na Ucrânia costumam reclamar que são tratados com suspeita — por motivos óbvios, que lugar melhor para infiltrar agentes duplos a serviço de Moscou? 

Também não são nada diplomáticos em matéria de linguagem. No ano passado, Ilia Bogdanov, ex-agente do FSB que entrou para a resistência na Ucrânia, abordou o maior terror russo, o da fragmentação do país em repúblicas independentes, dizendo numa entrevista: “Não ligo a mínima se a Rússia perder a integridade territorial”.

Qual será o próximo golpe?

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