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Nadando de braçada: esportista trans arrasa competidoras. Está certo?

Natação americana estremece com o caso de Lia Thomas, que antes era nadador e agora tem vantagem imbatível sobre outras jovens

Por Vilma Gryzinski 30 dez 2021, 07h33

Trinta e oito segundos: foi esta a diferença enorme entre o primeiro lugar de Lia Thomas numa competição de 1 500 metros nado livre e a segunda colocada. No mesmo evento de natação universitária, Thomas bateu o recorde feminino nacional nos 500 metros.

Antes de deixar crescer o cabelo, passar um ano tomando inibidores de testosterona e fazer a transição, ela competia como homem pela Universidade da Pensilvânia, a Penn State. Tinha um corpo de nadador: altura – mais de 1,80 metro – e ombros largos com musculatura bem desenvolvida.

Estas características continuam as mesmas e ficam evidentes quando Thomas, de 22 anos, compete com mulheres biológicas.

É certo que, em nome da não-discriminação, ela tenha uma vantagem tão evidente?

Com medo de parecer preconceituosas, um anátema especialmente brutal quando envolve transgêneros, algumas nadadoras falaram em sigilo que se sentiam mal, viram colegas sair chorando das piscinas e achavam que o esporte estava terminado para elas. Alguns pais também se queixaram.

A reação mais aberta, no meio, veio de Cynthia Millen, veterana da USA Swimming, a entidade da modalidade, que renunciou ao posto e disse que Lia Thomas eventualmente “estará destruindo a natação feminina”.

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“A natação é um esporte em que corpos competem com corpos, não são em que identidades que competem com identidades”, disse ela.

“Os meninos sempre terão maior capacidade pulmonar, corações maiores, sistema circulatório maior, esqueleto maior e menos gordura. Não importa quanto tome de drogas inibidoras de testosterona, ele sempre será um homem biológico e terá estas vantagens.”

São palavras que muitos teriam medo de dizer, temendo ser acusados de discriminar pessoas transgênero. Em praticamente todas as esferas da vida, é perfeitamente possível aceitar que um homem mude de identidade e passe a viver como mulher. Cada um vive como quer e aceitar outros modos de ser faz parte do manual de comportamento contemporâneo.

A exceção é o mundo dos esportes competitivos, onde, por definição, todos têm que partir de igualdade de condições. Michael Phelps, com seus 2,01 de envergadura oito centímetros a mais do que sua altura –, tinha uma vantagem natural sobre os outros competidores? Sem dúvida. Imaginem se ele competisse com mulheres.

Como fazer justiça aos esportistas trans sem fazer injustiça com as mulheres biológicas ainda é uma questão aberta a discussão – uma discussão em campo minado, por sinal.

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Outra esfera na qual há dúvidas: homens que se declaram como mulheres, mas continuam com o aparelho sexual intacto, devem dividir espaços exclusivos para mulheres biológicas como abrigos para vítimas de violência doméstica e penitenciárias femininas?

Ao defender que só mulheres biológicas deviam ter acesso a abrigos, a escritora J.K. Rowling comprou uma briga mundial. Foi rejeitada não só por fãs de Harry Potter, como até pelos atores que fizeram sua fama com a série de filmes baseados nos livros.

Entre livros queimados e ameaças de morte, ela não cedeu. A última manifestação da escritora sobre o tema foi uma reação à decisão da polícia da Escócia, onde ela mora, de usar o tratamento feminino para transgêneros que estupram mulheres.

Rowling apelou a George Orwell de 1984: “Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força. E o indivíduo com pênis que te estuprou é mulher”.

O mundo caiu de novo sobre a cabeça de Rowling, mas ela entrou nessa piscina para se molhar.

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