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Mísseis americanos não causarão guerra mundial; mas ajudarão na paz?

Putin e companhia fazem ameaças, mas as peças estão sendo movidas tendo em vista um futuro governo Trump e negociações

Por Vilma Gryzinski 19 nov 2024, 06h25

Falar loucuras sobre destruição nuclear virou um hábito no planeta em que se movem Vladimir Putin e seus adeptos. Claro que as ameaças aumentaram com a decisão de Joe Biden de permitir o uso dos mais avançados mísseis americanos cedidos à Ucrânia para atacar alvos em território russo até 300 quilômetros fronteiras adentro.

“Basicamente não vai sobrar nada da América. Não restarão Biden nem Trump. A América sofrerá 95% de perda total”, disse Andrei Gurulev, um dos “malucos de Putin”, parlamentares deslocados para intimidar o mundo inteiro com ameaças de um holocausto nuclear.

“É a participação direta dos Estados Unidos no conflito militar na Ucrânia, o que inevitavelmente implicará na mais dura das respostas”, ameaçou outro, Leonid Slutsky.

Desde que a cúpula russa rompeu o tabu e começou a falar em guerra nuclear, as ameaças, contraditoriamente, perderam peso. Dá para perceber que fazem parte de um jogo de cena para influenciar a opinião pública, amedrontando-a com a perspectiva da guerra do fim do mundo.

CONCESSÕES DA BOCA PARA FORA

Os mísseis do tipo ATACMSl tal como os Storm Shadows britânicos que Biden possivelmente aprovará para uso em território russo, na verdade dificilmente mudarão de forma significativa o rumo da guerra, mesmo que atinjam bases em território russo a até 300 quilômetros da fronteira. Talvez impeçam a reconquista do simbólico pedaço de território surpreendentemente tomado pelos ucranianos na província de Kursk, em agosto.

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A Rússia está fazendo uma grande ofensiva para retomar o território, um movimento para o qual foi deslocado o contingente de doze mil soldados enviados pela Coreia do Norte, inserindo um complicador novo no conflito. Apesar das perdas pesadas e da superioridade em material bélico e humano, não está conseguindo grandes avanços.

Se não no terreno militar, os mísseis ATACMS (acrônimo de Sistema de Mísseis Móveis do Exército, com a graça de implicar na palavra ataque) podem fazer a diferença nas negociações de paz que todos esperam com a posse do governo de Donald Trump, em 20 de janeiro.

Ele, como qualquer presidente americano, tem poder total: sem as armas dos Estados Unidos, a Ucrânia é praticamente impotente. Mas tem também que demonstrar capacidade de arrancar concessões de Moscou para não parecer condescendente com Putin, como tantas vezes aconteceu durante seu primeiro governo, pelo menos da boca para fora.

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NOVO ISOLACIONISMO

O começo já foi ruim para Trump: em sua primeira conversa pós-eleição com Putin, segundo múltiplos vazamentos, pediu que a Rússia não intensificasse os ataques e foi solenemente ignorado.

No domingo, foram desfechados múltiplos bombardeios, os maiores dos últimos meses, utilizando mais de 200 mísseis e drones, contra alvos civis em cidades ucranianas. Não são ataques indiscriminados: têm exatamente o objetivo de intimidar a população ucraniana e miram civis de propósito.

Trump tem se deixado convencer crescentemente pelo novo isolacionismo e atitudes de rejeição à Ucrânia. Incluem-se nesse ala seu filho Donald Trump Jr., o apresentador Tucker Carlson, transformado em palpiteiro oficial, e principalmente Tulsi Gabbard, indicada como diretora de Inteligência Nacional não obstante posições de extrema sincronicidade com a Rússia de Putin.

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“O complexo industrial-militar parece querer garantir uma Terceira Guerra Mundial antes que meu pai tenha a chance de criar a paz e salvar vidas”, tuitou Don Jr., endossando a versão conspiracionista.

Terá Trump passado para o lado escuro da força ou tem um plano secreto para não deixar a Rússia ser premiada por um acordo de paz que preserve suas conquistas na Ucrânia?

Existirá uma solução justa para uma guerra tão injusta, que acaba de completar mil dias? Irá Elon Musk, na posição oficiosa de copresidente, colocar sua enorme inteligência e capacidade de pensar fora da caixa a serviço de uma proposta completamente inovadora? Ou irá Trump, antiquadamente, replicar posições do presidente Lula da Silva, unindo-os a simpatia por Vladimir Putin e a antipatia por Volodymyr Zelensky?

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