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Kim Jong-un vai mandar tropas para ajudar Putin. O que pode dar errado?

Acrescentar um país que tem armas nucleares e um líder instável complica formidavelmente a guerra na Ucrânia, em plena ofensiva russa

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 10 jul 2024, 06h36 - Publicado em 10 jul 2024, 06h35

Imaginem as seguintes situações: batalhão de engenharia da Coreia do Norte, que segundo uma televisão sul-coreana chegará a territórios ucranianos sob ocupação russa no próximo dia 22, é bombardeado por forças ucranianas. Qual seria a reação de Kim Jong-un, o instável pequeno imperador, herdeiro da dinastia comunista e nuclearizada? Ou se os norte-coreanos simplesmente desertassem em massa, como fazem sempre que têm uma oportunidade? Ou se as forças russas, acossadas, lançassem uma arma nuclear tática contra a Ucrânia, com as consequentes respostas dos Estados Unidos e aliados europeus?

Qualquer uma dessas hipóteses é um pesadelo maior do que a nossa imaginação consegue alcançar.

É confiável a informação do envio de tropas de engenharia dada pela televisão Chosan? Não há certeza absoluta, mas sul-coreanos são a melhor fonte sobre seus vizinhos formidavelmente encrenqueiros, com os quais têm, desde 1953, apenas uma trégua, não um acordo de paz.

Também há declarações com tom inacreditavelmente belicoso. Um general norte-coreano, Pak Jong-chon, disse na semana passada que haveria uma “nova guerra mundial”, com “as piores consequências já vistas” se os Estados Unidos continuarem a armar a Ucrânia.

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“CARNE DE CANHÃO”

Seria uma das insanidades habituais que emanam do regime norte-coreano se os russos não estivessem dizendo coisas parecidas, embora mais diplomaticamente elaboradas.

Uma pesquisa recente mostra que 30% dos cidadãos russos aprovam, repetindo, aprovam o uso de armas nucleares contra seus “irmãos” da Ucrânia, um país com etnia, religião, história e língua similares.

Detalhe importante: a Coreia do Norte agora tem pactos de segurança mútua com a Rússia e a China e já forneceu dois milhões peças de artilharia e mísseis de curto alcance aos amigos de Moscou.

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O especulado envio de tropas seria para “ajudar a reconstrução” das regiões ucranianas de Donetsk e Luhansk, que a Rússia oficialmente anexou. O Pentágono já disse que seriam simplesmente “carne de canhão”.

Essa é a tática usada e aperfeiçoada pelo Kremlin, em guerra contra um país com população três vezes menor, sem a grande infraestrutura bélica russa.

ESCUDO INVISÍVEL

Está, embora com dificuldade e apenas em parte, funcionando. Metade da Ucrânia não tem eletricidade por causa dos bombardeios russos e o Kremlin disse que destruiu recentemente uma das duas baterias antiaéreas Patriot, dadas pelos Estados Unidos, do mesmo tipo que protege Israel com um “escudo” visível só quando os mísseis inimigos são abatidos no ar. Seria um prejuízo de um bilhão de dólares, mas os ucranianos negam: dizem que foi atingido um complexo falso, uma isca usada para enganar os russos. Joe Biden prometeu mais quatro baterias do tipo.

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Os ataques russos estão aumentando nos últimos dias, frequentemente tendo como alvo deliberado prédios civis. São avassaladoras as imagens do maior hospital infantil de Kiev, destruído em pleno dia, no sábado passado. Crianças com câncer, sem cabelo e com os pequenos corpos já afetados pelo tratamento, sentarem-se em fila na frente do hospital destruído, com as bolsas de medicamentos intravenosos colocadas emergencialmente na rua. No meio dos escombros, outra imagem de horror: um médico com o jaleco manchado de sangue, carregando um pedaço do hospital demolido.

Ao todo, foram disparados mais de quarenta mísseis contra alvos em vários pontos do país, com 38 mortes, sendo quatro no hospital pediátrico.

Cinicamente, o governo russo disse que o hospital foi atingido por um míssil antiaéreo ucraniano – procurando criar um paralelo o caso comprovado do míssil da Jihad Islâmica, um dos grupos armados de Gaza, que falhou e atingiu o hospital Al-Ahli, em outubro passado. A televisão Al Jazira estava transmitindo ao vivo e captou a curta trajetória do míssil que deveria ter atingido alvos israelenses, mas mal conseguir voar e caiu, matando entre cem e trezentas pessoas acampadas em volta do hospital.

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Israel mira instalações civis quando são comprovadamente usadas pelo Hamas e outros grupos bélicos. Quando pode, manda evacuá-las antes. Mesmo assim, os resultados são horríveis para os civis, com cerca de quinze mil mortos, um dos principais motivos pelos quais não se deve invadir vizinhos e chacinar seus cidadãos.

“COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO”

Que tipo de regime mira deliberadamente um hospital infantil como fez a Rússia, um crime de guerra por qualquer padrão? E que tipo de gente comemora isso, como russos fizeram online? (Sem falar no tipo de governo, como o brasileiro, que condenou ataques que “acarretam danos a instalações hospitalares” feitos provavelmente por ETs, uma vez que os autores não são mencionados).

Os bombardeios obedecem à lógica de destruir o espírito de resistência da população – e também mostrar que “os russos podem” -, além de compensar os avanços pequenos ao longo da linha de frente na atual contraofensiva. Também são uma reação aos novos armamentos que a Ucrânia começa a receber, inclusive caças F16 usados de países da Otan. Os próprios líderes dos países da aliança ocidental estão reunidos essa semana em Washington e os mortíferos recados russos são igualmente para eles.

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O que pode dar errado com o anunciado envolvimento da Coreia do Norte nessa situação? A pergunta é, obviamente, irônica porque a resposta é: simplesmente tudo. A hipótese menos ruim seriam as tentativas de deserção, muito provavelmente punidas pelos amigos russos, com sua longa experiência no ramo.

O silêncio oficial a respeito “faz parte do comportamento estratégico da Coreia do Norte”, escreveu Edward Howell, professor e pesquisador de Oxford, na Spectator. “Desde a criação do estado norte-coreano, em 1948, a mentira e o engodo integram o manual político do regime Kim, com suas três gerações de líderes. Da mesma forma que o lançamento de mísseis balísticos, essa tática não vai mudar. Nada pode ser descartado”.

A Ucrânia está longe de perdida, mas ficou mais complicada.

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