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Ivana sem cabelo, Melania de salto alto e turma do velcro

Quem está estereotipando quem? Mulheres que querem ser homens reproduzem todos os padrões e as que encarnam a feminilidade são patrulhadas

Por Vilma Gryzinski 30 ago 2017, 15h38

A personagem de Ivana na novela A Força do Querer tosou a linda cabeleira, toma testosterona para ter barba e quer extirpar os seios. Quer não apenas ser homem, mas homem com cara de macho, bafo de macho, bufo de macho.

Não seria esta masculinidade uma construção social? Uma exigência da cultura para moldar os homens de acordo com padrões socialmente aceitos? Não é este o modelo condenado e rejeitado pelo pensamento politicamente correto como fonte de violência e opressão?

O ápice do patriarcado – sistema antigamente chamado sociedade patriarcal, mas macaqueado do inglês no discurso contemporâneo – só ganha simpatia quando se aplica a quem nasceu com cromossomas XX, mas quer copiar características (biológicas ou culturais, escolham) do Y, seja nos raríssimos casos de transgêneros, seja na turma do velcro.

Esta última designação é tirada de um seminário atualmente em curso na Universidade Federal de Santa Catarina. Ao pé da letra: “‘Descolando Velcro’ abordará resistência e visibilidade lésbica”.

Entre outros safanões no português, mas afagos à pseudo-contemporaneidade, a mesa de debates inclui “Sapatão: Desobedecendo à Norma”, “A hereto-cis-norma da/na medicina” (e mais uma fileira de hífens) e “Sapatrasvestibilidades: Corpos e Afetos Possíveis”.

Ninguém conseguiria inventar, por maldade ou espírito humorístico, algo sequer próximo disso.

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SERRAS E OUTROS

O mais interessante está no fim: uma Oficina de Reparos e Reformas para a Autonomia da Mulher. Ao pé da letra, pois a coisa é dedicada a mulheres que queiram “trocar experiências e transmitir conhecimentos” em temas relevantes como “troca de resistência de chuveiro, circuitos e instalações elétricas, marcenaria básica, parafusadeira, serras, e outros”.

Ainda bem que existe a UFSC para cuidar de assuntos tão relevantes e colocar as lésbicas em seu devido lugar, com parafusadeira, serras e outros na mão.

Já pensaram se quisessem ser matemáticas (Sonja Kovalevsky), antropólogas (Margaret Mead), fazer alta literatura (Virginia Woolf) ou média literatura (Patricia Highsmith) ou ser juízas da Suprema Corte americana (todo mundo sabe quem)?

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Os estereótipos obrigam, ao contrário de uma das mesas de debate da UFSC, a obedecer à norma. Em sentido contrário, a patrulha politicamente correta dilacera mulheres que acentuam características femininas (biológicas ou socialmente construídas, escolham), como aconteceu com Melania Trump.

A ex-modelo eslovena construiu-se socialmente ao gosto do marido. De linda tornou-se estonteante, uma mistura de garota da Playboy com mulher de bilionário americano. Com Donald Trump na Casa Branca, adaptou a maneira de se vestir ao que poderia ser chamado de primeira-dama sexy. Bem sexy.

PATRULHA DO SALTO

E não parece absolutamente infeliz com o figurino deslumbrante, os longos cabelos, as unhas enormes, a maquiagem profissional, os implantes protuberantes nos seios e os saltos nas alturas.

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Ah, os saltos. Em sua primeira visita a flagelados de um desastre natural, Melania entrou no avião presidencial trajando o que seria sua versão de um figurino utilitário: calça cropped, jaqueta verde oliva em estilo bomber, óculos tipo aviador e escarpim preto.

Se tivesse sapateado com o salto na cabeça de meia dúzia de desabrigados texanos não teria levado mais patadas. Ela é “o tipo de mulher que se recusa a fazer de conta que seus pés em algum momento pisarão na água fria, lamacenta e infestada de bactérias do Texas”, bufou o Washington Post, com um humor de dar inveja à nova Ivana da novela.

Seus saltos “tornaram-se símbolo do que muitos acreditam ser a desconexão entre o governo Trump e a realidade”, analisou, na mais ridícula seriedade, o New York Times.

Melania desceu do Air Force One de tênis brancos. Igualmente complicados para uma enchente e igualmente incapazes de amainar a bronca insana contra seus saltos.

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Nada do que fizer mudará a opinião dos patrulhadores de salto alheio. Melania reflete o ódio unânime das elites a Trump, incluindo-se na lista especialistas em moda que contrariam seus próprios conhecimentos e criticam o espetacular guarda-roupa dela. Para estes, Melania nunca acerta.

Exceto, é claro, se revelar que há muito tempo atrás fez a transição. No tribunal da inquisição politicamente correta, só mulheres que eram homens têm direito de levar todos os estereótipos a todos os extremos.

Quem sabe Melania poderia até dar um seminário de “sapatrasvestibilidade” na UFSC?

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