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Por Vilma Gryzinski
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Ismail Hannyeh: o homem que ordenou o mais letal ataque contra civis

Protegido em Doha, no Catar, líder do Hamas alcançou um feito sem precedentes e está sendo celebrado pelos inimigos de Israel

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 10 Maio 2024, 08h43 - Publicado em 9 out 2023, 08h25

Por que Ismail Hannyeh está vivo e mais de 700 judeus estão mortos, incluindo os 260 jovens barbaramente massacrados num festival de música eletrônica, perguntam-se muitos israelenses.

A resposta é complexa. Existe entre as lideranças israelenses uma espécie de consenso tácito — ou existia, antes dos traumatizantes acontecimentos do sábado — de que é melhor lidar com um mal conhecido do que abrir a porta a novos radicais. É difícil entender para quem está fora, mas Israel tinha uma espécie de acordo de convivência com o Hamas, negociando, com intermediação do Egito, tréguas, suspensão de operações militares, vistos de trabalho e a farta entrada de dinheiro do Catar. Tudo isso, obviamente, acabou.

Se realmente quisesse, Israel poderia eliminar o líder do Hamas que comemorou os ataques sem precedentes prostrando-se em orações em algum lugar de Doha, a capital do Catar, o emirado rico em petróleo que dá dinheiro e abrigo à cúpula do Hamas.

Avigdor Lieberman, ex-ministro e líder do partido Israel Beytenu, deixou bem explícito o que está em jogo: “Nossas prioridades precisam ser claras: a eliminação do Hamas e dos chefes do Hamas.”

A organização foi criada em 1987 e, ideologicamente, remonta à Fraternidade Muçulmana, os fundamentalistas do Egito. O nome é o acróstico de Harakat al-Mukawama al-Islamiya, ou Movimento Islâmico de Resistência. Seu fundador era um xeque, ou líder religioso, quadriplégico, Ahmed Yassin. O xeque famosamente foi morto por mísseis Hellfire disparados por um helicóptero israelense, em 22 de março de 2004, quando ia para a mesquita em Gaza.

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O que mudou com a morte de Yassin? Basicamente, nada. Ao contrário, o Hamas se tornou mais popular, inclusive entre os palestinos mais fiéis ao outro movimento político, o que se tornou conhecido especialmente por causa de Yasser Arafat. Seu octogenário líder, Mahmoud Abbas, continua a ser a autoridade máxima no outro território palestino, a Cisjordânia. Hamas e a Autoridade Palestina já travaram uma miniguerra civil, mas vivem se reaproximando. É perfeitamente possível que a popularidade do Hamas tenha aumentado mais ainda na Cisjordânia, pela lógica terrível — e errada — segundo a qual tudo que é ruim para Israel é bom para os palestinos.

Ismail Hannyeh é o líder político e vive no conforto luxuoso do Catar, deslocando-se apenas sob medidas extremas de segurança. O líder militar, in loco, é Mohammed Deif. Não é impossível que ele seja alvo agora das forças israelenses que estão bombardeando Gaza, com alta probabilidade de que também seja lançado um ataque por terra. Ayman Younis, um comandante militar importante, já foi morto num bombardeio.

Sob o ponto de vista do Hamas, os ataques de sábado foram um sucesso além dos sonhos mais ambiciosos — em vários sentidos, como o Onze de Setembro e a queda das torres gêmeas marcou um feito sem precedentes para Osama Bin Laden e a Al Qaeda.

Um extremo complicador para Israel é a existência de 130 reféns, entre civis e militares e pelo menos onze trabalhadores tailandeses, levados para Gaza. Outros reféns são sobreviventes do festival de música eletrônica, acampados numa região desértica, e brutalmente caçados pelos atacantes. Imaginem o que aconteceria com estes reféns se uma alta liderança do Hamas fosse alvo direto de um assassinato dirigido.

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Pelos mandamentos da realpolitik, o Catar nunca será responsabilizado por abrigar o líder que comandou, à distância, os ataques em que centenas de judeus foram caçados e fuzilados no meio da rua ou até dentro de suas casas, com paralelos tragicamente óbvios com o horror do genocídio nazista. O emir Tamim bin Hamad Al Thani segue sua própria e deliberadamente ambígua política externa, com portas abertas para extremistas como Hannyeh e ao mesmo tempo uma grande base militar americana. Ele tem até a própria rede de televisão, Al Jazeera.

Hannyeh desfruta das benesses proporcionadas pelo Catar e estava exultante no pronunciamento que fez depois dos ataques contra Israel. “O ciclo de intifadas e revoluções para liberar nossa terra palestina e nossos prisioneiros mofando nas prisões dos ocupantes precisa ser encerrado”, disse o ex-estudante de literatura árabe nascido num campo de refugiados.

Talvez não avalie exatamente como isso vai acontecer. Enquanto Israel chora os mortos, feridos e sequestrados, ele comemora. Não dá para dizer por quanto tempo.

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