Insinuações maldosas sobre passado de mulher de Trump vão à justiça
Honra não tem preço, mas Melania Trump, chamada de garota de programa, pede 150 milhões de dólares

Como nunca existiu uma campanha presidencial como esta, tampouco os americanos já viram um processo como este: Melania Trump, a mulher do candidato republicano, entrou na justiça pedindo 150 milhões de dólares de indenização por ter sido chamada de garota de programa.
Os processados são o gigante global Daily Mail, tanto em sua versão impressa, que circula na Inglaterra, quanto na formidavelmente bem sucedida versão digital, e um anão do mundo dos blogs, Webster Tarpley. Todos já se retrataram, mas os advogados de Trump querem sangue. Ou montanhas de verdinhas.
O blogueiro foi mais explícito. “É amplamente sabido que Melania não era modelo e sim garota de programa de luxo”, escreveu. E que teve um “colapso nervoso” depois do discurso na convenção republicana, escrito por uma professional – do teclado -, no qual repetiu frases iguais às ditas por Michelle Obama quando seu próprio marido foi escolhido candidato.
Único fato comprovado: Melania quase desapareceu depois da convenção. Foram-se as figurações ao lado de Trump, sempre linda, maquiadíssima, deslizando sobre Louboutins envolta em vestidos caros, porém menos decotados do que usava antes do lançamento da carreira política do marido bilionário.
A reportagem do Daily Mail usou truques conhecidos por todos os jornalistas. Falava sobre os “problemas” que Melania poderia trazer para a campanha do marido, como a suspeita de que tenha trabalhado como modelo nos Estados Unidos sem o visto necessário – Melania é nascida na Eslovênia.
A ideia de que a mulher do candidato cuja proposta mais conhecida é a do tratamento mais duro para imigrantes ilegais pudesse ter incorrido em desvios similares deixou os anti-trumpistas em êxtase. Mas poucos órgãos da mídia americana reproduziram, como o Daily Mail, as alegações de uma desconhecida revista eslovena segundo a qual a agência de modelos dirigida por Paolo Zampolli, na qual Melania trabalhou, era na verdade fachada para garotas de programa.
Na lista não se inclui o New York Times, que fez um perfil de Zampolli só para ter a oportunidade de mencionar a insinuação. De origem italiana e meios de vida “misteriosos”, Zampolli é um prato cheio. Ele repetiu para o jornal a história que já contou várias vezes: descobriu Melania em Milão, providenciou seu visto para trabalhar em Nova York e, acima de tudo, foi quem a apresentou a Donald Trump numa festa no Kit Kat Club. Zampolli é casado com a brasileira Amanda Ungaro, também ex-modelo.
Todo mundo sabe que existem modelos e “modelos” – e que algumas dessas beldades transitam entre as duas categorias. Para ganhar o caso contra o Daily Mail, aberto nos Estados Unidos, os advogados de Trump precisarão provar que o jornal sabia que os elementos constantes na reportagem eram falsos e os publicou com intenção deliberada de difamar Melania. Praticamente impossível.
Insinuações sobre o comportamento sexual da mulher de um líder político provocaram uma crise grave durante o governo de Andrew Jackson, o sétimo presidente dos Estados Unidos. A mulher era Margaret O’Neill, casada depois de uma viuvez precoce – e, diziam os fofoqueiros da época, apressada por fatores externos – com o secretário da Guerra de Jackson, John Eaton.
As mulheres de outros integrantes do gabinete boicotaram Margaret, conhecida como Peggy. Jackson ficou do lado do casal no escândalo chamado de “caso das anáguas”. Tinha motivos fortes: sua própria esposa, a já falecida Rachel, havia sido acusada de bigamia, em especial durante a campanha presidencial dele. Rachel morreu pouco depois da posse do marido, em 1829.
Jackson havia participado de vários duelos em defesa da honra dela. No mais famoso, contra um jovem rival politico, Charles Dickison, ele levou o primeiro tiro, que ficou alojado para sempre perto do coração, e matou o adversário na segunda rodada.
Já pensaram se, em vez de acionar os advogados, Donald Trump saísse desafiando intrigantes para duelos?