Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Relâmpago: Revista em casa por 8,98/semana
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Imprensa mundial seguiu a brasileira – e acreditou em vitória esmagadora

De “grandissíssimo favorito” que corria o risco de enfrentar rios de sangue de um golpe avassalador, Lula foi transportado para a realidade

Por Vilma Gryzinski 3 out 2022, 07h32

A torcida apaixonada pela vitória do ex-presidente Lula talvez tenha influenciado muitas cabeças do jornalismo tradicional, que pintou um quadro onde um presidente Bolsonaro humilhado chamaria as Forças Armadas – assim, num clique – ou “seus partidários armados”.

O banho de sangue criado na imaginação jornalística não aconteceu, embora a “a campanha tenha sido literalmente coalhada de tiros e esfaqueamentos, perpetrados quase que exclusivamente por bolsonaristas fanáticos” – essa a interpretação algo delirante dada por Euan Marshall para o Telegraph, um jornal, note-se, conservador.

Entre os jornais mais à esquerda, nem se fala. A torcida substituiu os métodos jornalísticos tradicionais e correspondentes estrangeiros fizeram uma coisa muito usada por jornalistas brasileiros, que é ouvir especialistas que apenas confirmem o que eles já concluíram que vai acontecer. O resultado está aí.

Mesmo plantado nessa categoria, o El País, fez uma manchete sintética: “Bolsonaro contradiz todos as pesquisas eleitorais no Brasil”.

Atenção, não erraram as pesquisas, mas o candidato que teimou, imaginem só, em contradizê-las.

Continua após a publicidade

No Figaro, onde Lula era “o grandíssimo favorito”, Bolsonaro “criou o elemento surpresa” – embora as pesquisa brasileiras mencionadas o deixem com 38% dos votos no segundo turno, o que o colocaria na situação de ter menos votos na segundada rodada do que na primeira.

O jornal também foi um dos poucos a registrar que “o resultado foi uma decepção para o campo do ex-presidente Lula”, depois de “apostar tudo nos últimos dias por uma vitória no primeiro turno”.

“Foi uma vitória com gosto de derrota” para Lula, disse a Economist,  com um resultado muito mais apertado do que as pesquisas previam, o que dá um certo impulso a Bolsonaro no segundo turno. A Economist também tinha feito campanha acelerada contra Bolsonaro, chamando-o de “ameaça para a democracia brasileira”.

Continua após a publicidade

“Brasileiros temem que ele possa incitar uma insurreição, talvez como a que a América sofreu quando uma horda de seguidores de Donald Trump invadiu o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 – ou talvez pior”, prognosticou sombriamente a revista. Note-se que o sujeito indefinido – “brasileiros temem” –  pode justificar qualquer coisa.

Uma votação tranquila, com participação importante, resultado mais apertado do que o antecipado pelas pesquisas, embora amplamente reconhecido entre as partes? Ah, falar em coisas normais não tem o mesmo charme.

O New York Times também maneirou na torcida, com uma manchete direta: “Bolsonaro supera pesquisas e força segundo turno contra Lula”.

Continua após a publicidade

“Pesquisadores parecem ter se enganado sobre a força de candidatos conservadores no país. Governadores e congressistas apoiados pelo senhor Bolsonaro superaram as pesquisas, ganhando muitas disputas no domingo”.

O único dos grandes jornais a não apresentar uma imagem não apenas negativa, mas até maligna, de Bolsonaro foi o Wall Sreeet Journal, num editorial publicado antes da eleição.

“O estilo impetuoso e politicamente incorreto e confrontos com o Supremo Tribunal ativista o tornaram um defensor dos tradicionalistas e alvo da poderosa imprensa esquerdista do país”, disse o editorial, trazendo à tona “surpresas positivas”, como o crescimento de 2,4% no primeiro semestre, controle de gastos e melhora do clima de investimentos. Lula, ao contrário, pode aumentar o papel do Estado e insuflar o protecionismo.

Continua após a publicidade

Mas o que é isso diante da imagem de incinerador de florestas, o rótulo que pegou em Bolsonaro, por inépcia de uma política externa entregue, em sua primeira fase, a um comando dado ao fabulismo conspiracionista?

“A verdade é que o abjeto e desequilibrado Bolsonaro surpreendeu por como obteve resultados especialmente positivos em todo o país”, escreveu no Página 12, o jornal esquerdista argentino, o colaborador brasileira Eric Nepomuceno. “Excetuando-se o Nordeste pobre, Bolsonaro ganhou em todas as demais regiões. Com exceção de Minas Gerais, o ultradireitista desmentiu todas as pesquisas que indicavam uma vantagem de Lula entre razoável e grande”.

Comparada à primeira eleição, o erro das pesquisas parece até menos grave. Nem se fale na eleição de Donald Trump em 2016. Alguns dos prognósticos que deixaram os apresentadores de televisão engasgado quando a realidade das urnas foi exposta: o Consórcio Eleitoral de Princenton dava a Hillary Clinton 99% de probabilidade de vitória; o Huffington Post, 98%; O New York times, 95%. O FiveThirtyEight, o mais modesto de todos, dava “apenas” 71%.

Continua após a publicidade

Lula ganhar com menos do que o esperado e Bolsonaro perder com mais do que o previsto são fato que criam uma realidade que seria interessante para os jornalistas explorarem o que os eleitores de cada parte enxergam de positivo em cada um deles, sem clichês. 

É uma esperança praticamente vã. Contra argumentos, não há fatos. E não se deve esperar que a maioria da imprensa tradicional ofereça algo sequer parecido com eleitores normais que optaram por votar em Bolsonaro. O choque do erro nas pesquisas passa em um dia e a torcida será retomada imediatamente, com perda, infelizmente, para os que tentam entender o que está acontecendo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

ÚLTIMA SEMANA

Digital Completo

A notícia em tempo real na palma da sua mão!
Chega de esperar! Informação quente, direto da fonte, onde você estiver.
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 2,99/mês
ECONOMIZE ATÉ 28% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 10,00)
De: R$ 55,90/mês
A partir de R$ 39,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$35,88, equivalente a R$2,99/mês.