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Hamas ataca moradores que fogem em Gaza, mostrando quadro indefinido

Israel ganha sucessivas batalhas táticas, mas a vitória estratégica continua distante e quem mais sofre são os moradores do território

Por Vilma Gryzinski 23 out 2024, 06h37

Israel está ganhando ou perdendo em Gaza? Os sucessivos feitos no campo de batalha, culminando com a morte de Yahya Sinwar, têm como contrapartida uma realidade já definida como uma luta de Sísifo: tudo tem que ser continuamente refeito. É isso que está acontecendo agora no norte do território, onde homens do Hamas atacam com pauladas e até tiros moradores que procuram seguir as ordens das Forças de Defesa de Israel e sair de lá antes de novos ataques.

Uma foto viralizou nas redes: a cabo Shai Gilboa prestando primeiros socorros a uma mulher com o rosto ensanguentado. “Eles amaldiçoam o Hamas na nossa frente”, afirmou a socorrista.

As Forças de Defesa de Israel mostraram recentemente uma conversa entre um habitante da região norte e um militar encarregado de operações de inteligência em campo: “O problema é que nós atendemos as instruções e procuramos ir para as zonas humanitárias, mas tem gente que vem atrás de nós e bate com pedaços de pau. Dizem para voltarmos para casa. O que podemos fazer?”.

Isso confirma dois fatos conhecidos. Primeiro, o Hamas usa os moradores de Gaza como instrumentos de propaganda e quer que sejam bombardeados, para aumentar as condenações a Israel. Segundo, mesmo profundamente atingido, ainda articula reações e usa métodos típicos de guerra de guerrilha, que não alteram a predominância de Israel, mas também não permitem chegar a um ponto de declarar vitória.

Por exemplo, o oficial israelense de patente mais alta a morrer em combate, o coronel Ehsan Daqsa, um membro da comunidade religiosa drusa, que é árabe e de uma seita muçulmana, embora seja chamada em Israel de unitarista, foi atingido na segunda-feira por um artefato explosivo escondido no chão. Dois outros oficiais sofreram extensos ferimentos. Os três haviam saído de seus tanques para se reunir num ponto de observação.

GUERRA PERPÉTUA

O analista militar Seth Frantzman, do Jerusalem Post, resumiu assim a situação: “A questão agora em Gaza é se a morte de Sinwar infligirá uma derrota estratégica ao Hamas. Israel tem combatido uma guerra tática em Gaza na qual alcançou numerosas vitórias, mas não derrotou o Hamas completamente. A falta de uma estratégia clara para o dia seguinte também contribui para o sentimento entre a liderança do Hamas no exterior de que eles podem aguentar firme e sobreviver”.

Essa sensação é reforçada pelo fato de que estejam, hoje, limitados a países como o Catar e a Turquia, onde Israel nunca poderia repetir o que fez com Ismail Haniyeh no Irã, explodindo uma bomba debaixo de sua cama num prédio onde se hospedavam amigos do regime.

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É aí que entra o maior dilema para as lideranças militares e civis de Israel: continuar uma espécie de guerra perpétua em Gaza, já sabendo que os reféns remanescentes nunca serão libertados e não haverá, como nas guerras convencionais, um momento em que o inimigo admite a derrota e assina a rendição, ou arriscar um acordo de extrema complexidade, que está sendo desenvolvido pelos Estados Unidos.

MUDANÇA DE OPINIÃO

Isso envolveria definir quem assume a autoridade administrativa de Gaza. Se moradores comuns estão levando pauladas e até tiros por simplesmente tentarem salvar suas vidas, imaginem o que aconteceria com quem se atrevesse a ser uma alternativa ao Hamas. Corre que, há alguns meses, o líder de uma tribo de Gaza que parecia se inclinar a negociações, foi sequestrado e decapitado pelo Hamas.

E a população, como reagiria a uma nova ordem? Todos sabem que o ódio a Israel é intenso e qualquer candidato a administrador que parecesse ser coordenado com os israelenses seria rejeitado. Ou talvez a realidade terrível da vida num pequeno território em guerra esteja provocando mudanças?

Uma pesquisa do mês passado mostra que as opiniões estão mudando. Agora, 57% acham que a decisão de desfechar o massacre de 7 de outubro, com a consequente reação israelense, foi equivocada, contra 39% que continuam a apoiá-la. O número é exatamente o oposto do que foi levantado numa pesquisa em junho. As pesquisas também mostram que os palestinos continuam a achar que não houve as amplamente registradas atrocidades que deixaram 1,2 mil chacinados, dos quais 320 eram mulheres e meninas, e mais de 250 sequestrados.

Os países árabes cujos governos torcem nada disfarçadamente pela derrota do Hamas e do Hezbollah, como representantes das duas vertentes de fundamentalismo muçulmano que os ameaçam, o sunita e o xiita, vão ter que ajudar muito. O plano que reúne essa frente, além de “levar em conta as posições de Israel”, será apresentado depois da eleição do próximo dia 5 por Antony Blinken, o secretário de Estado, mesmo enfraquecido por representar um governo em pleno ocaso. Blinken falou ontem com Netanyahu e seguiu para países aliados da região.

“UM PROBLEMA ENORME”

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No novo livro de Bob Woodward, sobre as guerras recentes envolvendo os Estados Unidos, o príncipe Mohammed Bin Salman, governante da Arábia Saudita, aparece num diálogo revelador com Blinken. O secretário de Estado pergunta se os sauditas tolerariam que, para fazer um ampla acordo, Israel voltasse periodicamente a interferir em Gaza – o que parece ser a situação inescapável, tal como hoje delineada.

“Eles podem voltar em seis meses, um ano, mas não imediatamente depois que eu colocar minha assinatura em uma coisa assim”, respondeu o príncipe.

“Setenta por cento do meu povo é mais jovem do que eu. A maioria não sabia muito sobre a questão palestina. E estão sendo introduzidos nela através desse conflito. É um problema enorme”.

“Eu pessoalmente ligo para um estado palestino? Não ligo, mas o meu povo sim, então tenho que garantir algo que seja significativo”.

O que seria exatamente “significativo” é uma questão tão ampla que desafia os mais otimistas. Mas definitivamente deveria trazer uma estabilização que não deixe uma população inteira ser perseguida a pauladas ou tiros quando procura se proteger da guerra desencadeada pelos líderes que tanto apoiavam, embora agora estejam deixando de achar tão certos assim.

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