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Guerra às mulheres: mais uma menina morta mancha de sangue o Irã

Protestos já deveriam ter sido sufocados por um regime que virou a encarnação do mal, mas iranianas resistem numa luta em que tudo é contra elas

Por Vilma Gryzinski 19 out 2022, 07h18

É possível saber que as coisas vão mal para o regime iraniano quando o “Grande Satã” – os Estados Unidos – começa a ser evocado.

Com interesse máximo em reassinar o acordo nuclear jogado fora por Donald Trump, o regime estava controlando a retórica. Agora, os insultos foram retomados. O objetivo obviamente é culpar uma força exterior pelos próprios problemas. E também é um sinal de que, mesmo com o pleno controle do aparato repressivo, os teocratas não estão conseguindo sufocar os protestos espontâneos que brotaram depois da morte de uma jovem de 22 anos detida por deixar mechas de cabelo aparecer debaixo do lenço na cabeça.

Contra todos os prognósticos, as iranianas resistem. São movidas por um sentimento de revolta, alimentado por casos como o de Asra Panahi, morta aos 16 anos. Segundo os relatos que incendeiam as redes, mesmo quando a conexão sofre interferência, ela estava numa escola na cidade de Ardabil invadida por agentes de segurança por ter aderido aos protestos.

Eles exigiram que as estudantes cantassem uma música exaltando o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. As que resistiram, como Asra, foram espancadas. A estudante morreu num hospital.

Não há como provar que o crime aconteceu da maneira como um grupo ligado ao sindicato dos professores denunciou, mas a menina está morta – oficialmente, de uma doença cardíaca congênita, o mesmo pretexto alegado no caso que desencadeou a atual onda de protestos.

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Os protestos continuam incontroláveis e surpreendentes. No Campeonato Asiático de Escalada, a competidora iraniana Elnaz Rekabi apareceu apenas com uma faixa no cabelo Teve que se retratar, dizendo pelo Instagram que o lenço – cujo nome em árabe, hijab, se propagou- havia caído “inadvertidamente”.

Apesar da desculpa, a esportista foi recebida por uma multidão no aeroporto e saudada como heroína.

A natureza perversa do regime iraniano está sendo mostrada em várias frentes. Além da guerra às mulheres, apoiada por homens tão corajosos quanto elas, o Irã entrou numa guerra convencional, a da Ucrânia.

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São chocantes as imagens de drones Shahid-136, vendidos à Rússia, bombardeando a população civil.

Vladimir Putin quer infernizar a vida dos ucranianos e o Irã está ajudando. Como é possível entrar numa guerra com a qual não tem nada a ver e matar homens, mulheres e crianças? O Irã tem garantia de impunidade, conferida pelo direito de veto da Rússia no Conselho de Segurança da ONU, e longa experiência em agir clandestinamente.

No começo da semana, um juiz argentino reativou a ordem de captura contra o vice-presidente iraniano Mohsen Rezai, em visita ao Catar. Ele é um dos acusados de ter aprovado o atentado contra a AMIA, a associação judaica de Buenos Aires onde um carro-bomba matou 85 pessoas em 1994. A execução ficou a cargo dos libaneses do Hezbollah.

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O que aconteceu? Nada.

O que vai acontecer com os responsáveis pela repressão que matam meninas de 16 anos? Provavelmente nada.

Apesar da resistência das manifestantes e das cenas comoventes de mulheres tirando o pano que virou sinônimo de opressão para incendiá-lo no meio da rua, os protestos ainda estão longe de ter a extensão da rebelião que derrubou o xá, em 1979.

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Regimes só caem quando integrantes das forças de segurança começam a mudar de lado.

Muitos iranianos também aprovam a exigência da cabeça coberta e das roupas longas para esconder as formas femininas.

Um vídeo chocante que circulou na semana passada mostra como dois homens anônimos abordam uma mulher sem o lenço na rua, atacando-a a socos e pontapés. Espantosamente, ela reage da mesma forma e consegue resistir até que três transeuntes se colocam à frente dela.

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Matar crianças em Kiev e jovens sob custódia policial tem uma consequência real: o governo de Joe Biden não vai conseguir, pelo menos agora, retomar o acordo nuclear com o Irã.

O acordo foi altamente contestado pelo maior interessado, Israel. Com ou sem ele, o regime dos aiatolás tem um projeto irrenunciável: produzir bombas nucleares. Um regime que prende mulheres porque deixaram o cabelo aparecer e está acelerando a produção de urânio para fazer uma bomba nuclear só pode trazer mal ao mundo.

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