Clique e Assine VEJA por R$ 9,90/mês
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Foi certa a suspensão de Whoopi Goldberg por erro sobre Holocausto?

A atriz e apresentadora pediu desculpas por dizer que o genocídio dos judeus não teve motivação racial, mas está fora do ar por duas semanas

Por Vilma Gryzinski 3 fev 2022, 07h47

Quem erra e reconhece o erro deve sofrer castigo? Esta é a questão envolvendo Whoopi Goldberg, que apresenta diariamente um programa matinal de sucesso, The View, na televisão ABC.

“Embora Whoopi tenha se desculpado, eu pedi a ela que tire um tempo para refletir e aprender sobre o impacto de suas comentários”, informou a presidente da ABC News, Kim Godwin.

A questão envolve o assunto mais explosivo que existe no mundo atual, raça (detalhe: Kim Godwin também é negra, o que torna a punição da atriz um pouco menos atribulada).

O erro quase inacreditável de Whoopi Goldberg foi dizer, na habitual discussão com as outras quatro participantes do programa, que o genocídio dos judeus durante o nazismo não foi por questão de raça, mas sim da “desumanidade do homem contra o homem”.

Continua após a publicidade

Ela argumentou que alemães e judeus eram “dois grupos de pessoas brancas” e deu a entender que somente negros podem ser vítimas de preconceito racial. E continuou insistindo nisso ao dar uma entrevista para o apresentador Stephen Colbert com seu pedido de desculpas.

O exemplo que escolheu: se estivesse com uma amiga judia e alguém da Ku Klux Klan se aproximasse, ela, Whoopi, teria que fugir, mas a acompanhante poderia “escolher” ficar. “Porque não dá para dizer quem é judeu”, elaborou.

A quantidade de ignorância é quase inacreditável, considerando-se que Whoopi pode ter acesso às informações mais básicas sobre o nazismo e os supremacistas brancos americanos, mas preferiu viver num mundo em que só a sua experiência conta.

Continua após a publicidade

Talvez o autocentrismo americano ajude a explicar como uma comunicadora em posição tão destacada, ganhando vários milhões de dólares por ano para falar a um público fiel todos os dias, ignore que o nazismo tem como coluna fundamental a superioridade racial dos “arianos” e a inferioridade dos judeus (ciganos, eslavos e alemães portadores de deficiência física ou mental entravam também na lista dos que deveriam ser eliminados para o aperfeiçoamento da raça pura).

As leis raciais na Alemanha nazista têm um histórico perfeitamente documentado. Em 1935, as leis de Nuremberg cassaram a cidadania dos judeus alemães e proibiram o casamento ou relações sexuais entre alemães e judeus. Foi o início da perseguição oficial, lavrada em lei. Progressivamente excluídos de atividades públicas, inclusive do trabalho, os judeus alemães que não conseguiram escapar do país percorreram, com apenas algum atraso, o roteiro de perseguições reservado aos judeus dos países invadidos a partir de 1939, desde o uso da estrela de David na roupa até o envio para campos de trabalho forçado e, finalmente, os campos de extermínio sistemático e industrial.

A importância doutrinária para o nazismo da pureza racial ajuda a entender como o genocídio se prolongou até os últimos dias da guerra, quando os alemães já haviam perdido e recuavam em massa para fugir do avanço das forças soviéticas.

Continua após a publicidade

O horror de uma guerra que matou diretamente 50 milhões de pessoas e do Holocausto obscureceu até capítulos hediondos que demonstram a obsessão racial dos nazistas, como o sequestro de crianças em países ocupados, especialmente na Polônia.

Crianças que tinham traços “arianos” eram tiradas das famílias e mandadas para a Alemanha, onde passavam por testes para “comprovar” sua estirpe racial – os nazistas achavam que descendiam de populações alemãs nativas dos países ocupados. Só os exames de traços físicos eram doze. 

Se não passassem, iam para o trabalho forçado ou experiências médicas. As aprovadas, eram adotadas e criadas para esquecer a origem. 

Continua após a publicidade

Calcula-se que entre 20 mil e 200 mil crianças foram sequestradas na Polônia nesse programa. O livro A Escolha de Sofia é baseado nessa monstruosidade. A personagem principal vive o trauma inenarrável de ter de escolher qual, do casal de filhos, salvaria e qual mandaria para a morte – os dois sofreriam este destino se ela se recusasse a dizer quem livraria. A polonesa Sofia acaba escolhendo o menino, por achar que ele teria mais chances de sobreviver se fosse encaminhado para o programa de “germanização”.

O livro virou filme, valendo o Oscar de 1983 para Meryl Streep.

Whoopi Goldberg, que também ganhou o Oscar – em 1991, pela impagável vidente de Ghost -, podia pelo menos saber de algo que faz parte de seu universo.

Continua após a publicidade

O caso da atriz precedeu em um dia outra reviravolta no mundo da televisão. Jeff Zucker pediu demissão como presidente da CNN por não ter revelado, como estabelece o código da empresa, o relacionamento com sua principal executiva, Allison Gollust. Ela continua na empresa.

Pimenta extra: Zucker teve que admitir o caso porque o apresentador Chris Cuomo contou tudo na investigação interna relacionada ao processo trabalhista que abriu contra a CNN. Ele foi demitido por colaborar com o irmão, Andrew Cuomo, na procura de dados comprometedores sobre as mulheres que denunciavam o governador de Nova York por assédio, o que acabou levando à sua renúncia.

Sobre o mérito da suspensão de Whoopi: um erro por ignorância e não má fé fica zerado com pedido de desculpas. 

Punir Whoopi Goldberg, nascida Caryn Elaine Johnson (o sobrenome artístico, tão judeu, foi escolhido ao acaso), fica parecendo exagero. E ainda a coloca na posição de vítima – os preconceituosos de sempre já estão dizendo de quem.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.