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Explodir ou desistir: pagers manipulados por Israel tinham prazo curto

Os aparelhos estariam para ser descobertos pelo Hezbollah, por isso foi antecipada a mais espantosa operação da história das guerras

Por Vilma Gryzinski 18 set 2024, 06h44

Estaria o Hezbollah prestes a descobrir um plano jamais visto, o dos pagers “turbinados” com uma substância química para explodir num determinado instante em que tocassem? Essa é a tese de três integrantes do governo americano que falaram ao site Axios.

A sabotagem em massa foi feita por agentes israelenses que conseguiram acesso a um lote de novos aparelhos, usados justamente para impedir assassinatos dirigidos: Hassan Nasrallah havia mandado todos os integrantes da organização terrorista que controla o Líbano jogar fora os próprios celulares e os de seus familiares, dizendo que o “colaborador” estava dentro deles.

O Hezbollah passou a usar os antiquados pagers para evitar atentados em que o celular dava a pista da localização e um míssil ou drone caía do céu.

Segundo as fontes do Axios, os pagers sabotados deveriam explodir quando Israel lançasse uma operação em massa contra o Hezbollah, mas o ataque sem precedentes, com oito mortos e mais de dois mil feridos, precisou ser antecipado por causa do risco de que o plano incrivelmente bem concebido e bem realizado estava para ser descoberto.

EMBAIXADOR ATINGIDO

Tudo foi conduzido em segredo e o ministro da Defesa Yoav Gallant só comunicou aos americanos que uma operação não identificada estava para ser lançada no Líbano minutos antes que os pagers do Hezbollah começassem a explodir, às 3,45 da tarde, disseram as fontes americanas.

Os pagers tocaram antes de explodir, o que explica que, além de ferimentos no abdômen, nas pernas e nos genitais, provocados por aparelhos levados no bolso ou no cinto, houve terroristas atingidos no rosto ao ouvirem o bipe. O embaixador do Irã no Líbano, Mojtaba Amani, perdeu um olho e sofreu ferimentos graves no outro.

Assim que o ataque em massa, de ousadia e criatividade nunca vistas, aconteceu, especialistas analisaram que somente a explosão das baterias de íons de lítio não causariam os danos verificados nos aparelhos. A hipótese mais provável é que agentes do Mossad, ou a serviço dele, conseguiram acesso a um lote novo de pagers e os sabotaram com pequenas quantidades de explosivos, na faixa de 30 a 50 gramas, de forma a poderem ser acionados à distância.

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Alguns dos mais importantes terroristas que combatem Israel foram mortos por causa de celulares turbinados ou hackeados para mostrar a localização. Uma morte “histórica” foi justamente a do grande especialista em explosivo do Hamas, Yehieh Ayash, conhecido pelo apelido de “Engenheiro”, pela habilidade na fabricação dos explosivos usados por terroristas suicidas. Bombas com sua “assinatura” mataram 27 israelenses em dois ônibus.

CAVIDADE CORPORAL

O engenheiro era considerado o mais letal inimigo de Israel. O serviço interno de inteligência, o Shin Bet, usou um palestino, possivelmente o homem que alugava um apartamento para o terrorista, para trocar seu celular por um modelo idêntico, mas cheio de explosivos. O intermediário não sabia disso.

Ayash falava com o pai todas as sexta-feiras, o dia de guarda dos muçulmanos, na mesma hora. Foi o momento escolhido para o acionamento dos explosivos por controle remoto, em 5 de janeiro de 1996.

Depois disso, os celulares passaram a ser vistos como perigosos e proibidos em várias situações. Por causa da proibição, o saudita Abudllah Al-Asiri, seguidor em segredo da Al Qaeda, aceitou um plano suicida sem precedentes.

Escondeu um celular “turbinado” na cavidade anal e, em 27 de agosto de 2009, foi prestar uma visita cerimonial ao vice-ministro da Defesa, Muhammad Bin Nayef, integrante da família real.

O próprio corpo de Asiri serviu como barreira e apenas ele morreu no atentado. Nayef escapou praticamente ileso. Mas outros atentados similares seriam tentados no Afeganistão.

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LETAL EFICIÊNCIA

Quem e como conseguiu acesso aos pagers do Hezbollah? Saberemos, provavelmente, aos poucos. O Mossad e outros serviços de inteligência primeiro garantem a segurança dos envolvidos, israelenses ou estrangeiros, e depois vão plantando informações dosadas.

Insuflar medo nos adversários, ainda mais com uma operação jamais vista e extremamente bem sucedida, faz parte da imagem que o Mossad quer projetar de letal eficiência que desafia a imaginação.

Esconder uma bomba na cama de Ismail Hanieh, num dos lugares mais protegidos de Teerã, foi de uma ousadia que deixou os iranianos sem chão. Mas, por assim dizer, foi um clássico dos atentados, mesmo com a incrível dificuldade de cooptar iranianos da segurança para colocar a bomba.

“Turbinar” quase três mil pagers com explosivos e acioná-los simultaneamente coloca o padrão de sabotagem num nível jamais visto.

Agora, virão as reações.

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