Está ruim aqui? Na Colômbia, presidente compara Gaza a Auschwitz
Gustavo Petro parece estar em surto, propõe “suspender” relações com Israel e exige apoio diplomático da América Latina
Espanto, indignação, revolta, perplexidade. Foram estas algumas reações à barbaridade proferida pelo presidente Gustavo Petro ao dizer que havia estado em Auschwitz e o pior campo de extermínio nazista estava sendo “reproduzido em Gaza”. E nem uma palavra de solidariedade às vitimas do massacre do Hamas.
E não foi a única manifestação estapafúrdia, do tipo que dá vergonha alheia e assombra pelo fato de que um chefe de governo arraste na lama do antissemitismo o nome de seu próprio país.
Petro ficou “ofendido” com a reação de Israel ao suspender a exportação de equipamentos de segurança para a Colômbia — uma ninharia, de dez milhões de dólares de importância mais simbólica.
“Se for preciso suspender as relações exteriores com Israel, vamos suspendê-las. Não apoiamos genocídios. O presidente da Colômbia não pode ser insultado”, disse, em mais um sinal de que não está no controle de suas manifestações.
“Convoco a América Latina a uma solidariedade real com a Colômbia. Se não é capaz, será o desenvolvimento da história que dirá a última palavra, como na grande guerra do Chaco”.
Pois é, como um daqueles típicos caudilhos enlouquecidos pelo poder, Petro invocou a guerra do Chaco — Bolívia e Paraguai, 1932 a 1935, com grande perda territorial para os bolivianos — ao exigir que suas insanidades sejam apoiadas.
A palavra “insanidades” não é usada como metáfora. O estado mental do presidente colombiano não parece equilibrado. Depois da tirada acima, incluindo a guerra do Chaco na história, ele mencionou o caso de dois ex-militares israelenses, Yair Klei e Raifal Eithan, que deram treinamento e colaboraram com forças paramilitares e similares na Colômbia. Ações individuais foram colocadas na conta de nada menos do que todos os israelenses. E nos seguintes termos:
“Algum dia, o exército e o governo de Israel nos pedirá (sic) perdão pelo que fizeram seus homens em nossa terra desatando o genocídio. Eu me abraçarei com eles e elas ou chorarei pelo homicídio de Auschiwitz e de Gaza, e pelo Auschwitz colombiano”.
“Hitler será derrotado pelo bem da humanidade, sua democracia, a paz e a liberdade do mundo”.
Os sinais de alteração mental são evidentes e talvez algum distúrbio psicológico explique a obsessão por Auschwitz, o complexo de campos de extermínio operado pela Alemanha nazista na Polônia ocupada durante a II Guerra Mundial.
O nome se tornou sinônimo do Holocausto, o genocídio ao qual nada, nunca, pode ser comparado. Entre 1,1 e 1,5 milhão de seres humanos foram tragados em suas câmaras de gás, dos quais 90% eram judeus. Também foram exterminados lá 83 mil poloneses e 19 mil ciganos. As câmaras de gás eram o método mais comum e a chaga que deixaram na psique coletiva da humanidade continua aberta.
Que alguém use a palavra Auschwitz de forma tão banal (e obsessiva também), já seria horrível. Que quem faz isso seja o presidente de um país das dimensões da Colômbia é uma vergonha nacional.
Vários dos mais entusiastas defensores do Hamas tiveram a perspicácia mínima para perceber que, pelo menos, nos primeiros dias, deveriam condenar o massacre de 1 300 judeus atacados quando a cerca entre Gaza e Israel foi derrubada, mesmo sem mencionar quem foram os autores. Suas simpatias ficaram claras assim que as condenações foram acompanhadas do “mas” — e também foram ficando piores à medida em que eram explicadas.
Poucas barbaridades, porém, se comparam ao que disse o presidente colombiano.
Petro, que tem um alto conceito sobre si mesmo, se considera um especialista em Oriente Médio por “estudar” o assunto desde jovem, possivelmente nos intervalos de sua atuação como insurgente armado do M19, um dos principais grupos guerrilheiros da Colômbia.
Suas declarações coincidiram com uma carta aberta de mais de sessenta intelectuais, acadêmicos e militantes pacifistas israelenses, sendo o nome mais conhecido o do escritor David Grossman, dirigida a seus similares de esquerda, criticando as reações ao massacre de judeus. “Nunca imaginamos que indivíduos de esquerda, defensores da igualdade, da liberdade, da justiça e do bem-estar, revelassem uma insensibilidade moral e uma temeridade política tão grandes”.
“Alguns se recusaram a condenar a violência, alegando que os estrangeiros não têm direito a julgar as ações dos oprimidos. Outros diminuíram a importância do sofrimento e do trauma, alegando que a sociedade israelense procurou esta tragédia. E outros se protegeram da comoção moral mediante comparações históricas e racionalizações”.
“Neste momento, precisamos, mais do que nunca, do apoio e da solidariedade da esquerda mundial sob a forma de um apelo inequívoco contra a violência indiscriminada”.
Vão, obviamente, ficar esperando. A esquerda foi contaminada pela maldição do antissemitismo, a pretexto de repudiar Israel. As atrocidades morais proferidas por Gustavo Petro foram a forma mais explícita dessa doença.
Em troca, ele recebeu os agradecimentos mais indesejados do mundo. Em seu canal no Telegram, o Hamas agradeceu “a posição da Colômbia em expulsar o embaixador da ocupação”. Na realidade, o chanceler colombiano, Álvaro Leyva, numa palhaçada que seria cômica em outras circunstâncias, disse que o embaixador deveria no mínimo “pedir desculpas e ir” e depois desmentiu que o estivesse expulsando.
Quanto mais falam, mais se enrolam.