Donald Trump ou Joe Biden? Israel ou palestinos? Inteligência artificial é para o bem ou para o mal? Microsoft e Apple com valor de mercado encostando em 3 trilhões de dólares, um terço a mais do que o PIB do Brasil, mostram o formidável potencial dos humanos focados no progresso ou são um retrato do risco de acumulação de poder sem precedentes na história da humanidade? O mundo está melhorando ou piorando? E, finalmente, a questão mais difícil de todas: Elon Musk é uma força positiva ou negativa?
Quem tem respostas definitivas geralmente também acha que está numa posição de superioridade moral. Todos nós, os outros, sofremos com dúvidas e falta de respostas simples para questões complexas. Não estamos sozinhos. Muitos americanos patinam nas dúvidas que já nos assolaram: detestam ter que escolher entre Trump e Biden e não querem se identificar com nenhum dos dois partidos que dominam a política. Uma pesquisa da Gallup mostrou que 43% deles hoje se declaram independentes. Num país em que a identidade partidária era tão definida, republicanos e democratas estão empatados com apenas 27%. Pesquisas anteriores mostram que “idade, idoso” são as palavras mais associadas ao presidente que estará a dias dos 82 anos quando disputar a eleição de novembro. “Corrupto” e “vigarista” adjetivam Trump. Quem seria melhor — ou menos pior — para os EUA e, consequentemente, para o mundo? Vantagens e desvantagens de cada um se neutralizam mutuamente — daí que, na média das pesquisas, Trump esteja com 45,4% das preferências contra 44,4% de Biden, efetivamente empatados.
“Quem tem respostas definitivas acha que está numa posição de superioridade moral”
Musk, o homem mais polêmico do planeta depois de Trump, teve palavras de apoio para um único pré-candidato republicano, Vivek Ramaswamy, que saiu da disputa antes de ser possível cravar se era para valer ou um impostor, versão americana (de origem indiana) de Javier Milei, outra personalidade cismática capaz de incendiar qualquer jantar em família. Milei vai transformar a Argentina com seu projeto de choque libertário ou dentro de alguns meses deixará a Casa Rosada de helicóptero? Os detentores das respostas definitivas sabem exatamente como responder. Nós ficamos engasgados em dúvidas. Outro espanto: a quantidade de especialistas em um dos assuntos mais complexos do planeta, a criação de Israel e a sua história, anterior e subsequente, comprovando Molière em sua constatação de que “um tolo instruído é mais tolo que um tolo ignorante”.
Concluir que Israel tem o direito de eliminar uma entidade maligna capaz de atrocidades em massa e focada na erradicação do país não significa ignorar o preço terrível que essa guerra cobra em vidas de civis. Não existiriam palestinos mortos ou passando fome sem o horror dos ataques de 7 de outubro — e o legítimo desejo de um Estado independente não teria retrocedido ao atual ponto da quase impossibilidade. É triste ver o poder da mentira, da doutrinação cega e das imagens fake propagadas como certezas em redes sociais, com seu poder sem contrapesos, que levam tantos jovens a execrar Israel e achar que estão do lado do bem. Têm a desculpa da juventude, o que não acontece com governos que aderiram à sádica acusação de genocídio contra Israel. Sobre esses, não existem dúvidas, só certezas.
Publicado em VEJA de 19 de janeiro de 2024, edição nº 2876