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Encrenca: filho do presidente de extrema esquerda da Colômbia vai falar

Preso por lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito com fundos para a campanha do pai, Nicolás Petro fez um acordo de delação premiada

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 13 Maio 2024, 23h03 - Publicado em 3 ago 2023, 06h49

Com lágrimas rolando pelo rosto moreno, uma versão melhorada dos traços do pai, Nicolás Petro disse as palavras que estão tirando o sono de muita gente na Colômbia: “Quero anunciar que decidimos iniciar um processo de colaboração no qual me referirei a novos fatos e situações que ajudarão a Justiça. Faço isso por minha família e por meu bebê que está a caminho”.

Como o jovem deputado estadual pela província do Atlântico chegou a esse ponto? Provavelmente esquecendo-se de que ex-mulher é para sempre. Tendo se casado com a loira com cara de influencer Day Vásquez, ele muito rapidamente teve um caso com outra loira com cara de influencer, Laura Ojeda, agora grávida de oito meses.

Não foi uma infidelidade sem consequências. Day fez uma espionagem básica, clonou o celular da rival (invasão de privacidade, pela qual também foi presa) e depois entregou para a Justiça as conversas por WhatsApp mostrando como ex-narcotraficantes colaboraram para a campanha presidencial, esperando futuros favorecimentos.

Um dos doadores, Samuel Santander, alcunhado “Homem do Marlboro”, com quinze anos de cadeia por tráfico de drogas cumpridos nos Estados Unidos, deu o equivalente a 150 mil dólares. Outra figura comprometida, Alfonso Hilsaca, o “Turco”, ligado a um cartel, contribuiu com o equivalente a 103 mil dólares.

Como ladrão que rouba ladrão etc. etc., Nicolás se apropriou das doações para uso próprio. Entre outros mimos, comprou uma casa de luxo e um Mercedes-Benz. Outros bens foram comprados em nome de parentes da ex-mulher. Dessa forma, ele enganou o próprio pai.

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Talvez essa manobra explique a frieza de Gustavo Petro. Quando os detalhes irretorquíveis do caso foram revelados, o presidente disse sobre o filho: “Não o criei”. Estava na luta armada quando Nicolás nasceu, em 1986, e conviveu pouco com a primeira mulher.

Depois da prisão, tuitou que “como pai me dói muito tanta autodestruição”, desejando ao filho “sorte e força” e que os acontecimentos “forjem seu caráter e que possa refletir sobre os próprios erros”.

Ou seja, na prática, condenou o filho.

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Será que Gustavo Petro imagina faturar com a imagem de pai que, embora sofredor, não levanta obstáculos à prisão do próprio filho? Isso é o que vários políticos da esquerda estão tentando vender. Não é exatamente fácil. Inclusive porque Petro está fazendo um governo péssimo, com o pior dos dois mundos: assusta investidores com maluquices como dizer que o petróleo é pior do que a cocaína e não abriu as portas da terra de leite e mel que prometeu aos mais pobres.

Dependendo da pesquisa, seu índice de aprovação varia de 33% a 45%. Sua maior aposta, a “paz total” com grupos armados que continuam em atividade na Colômbia é rejeitada por 47% da população. A reforma trabalhista e a do sistema de aposentadoria têm uma pequena vantagem entre a opinião pública.

Como as encrencas do filho podem prejudicar o pai? Se ficar provado que apenas Nicolás saiu ganhando com o desvio das doações, o presidente estará preservado, apesar do constrangimento de ter o filho envolvido em falcatruas. Se, como diz Day Vásquez, tiver entrado dinheiro sujo na campanha presidencial, o problema político será muito maior.

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Ameaçada de processo por um dos partidos da frente de esquerda, Ingrid Betancourt, famosa por ter sido libertada do campo na selva onde era mantida sequestrada pelas Farc, afirmou: “É o cúmulo da hipocrisia usar o manto da dignidade e ameaçar com processo por dizer algo que o próprio Petro confessa. Diz que o comportamento do filho é autodestrutivo, mas foi ele quem o levou a se queimar ao dar a ordem de receber dinheiro do narcotráfico para sua campanha”.

Seria uma acusação que Nicolás Petro confirmaria na delação premiada? Nesse caso, o presidente, que fala coisas estapafúrdias — “a coca é um presente dos deuses” — como um caudilho de opereta latino-americana, ganharia ares shakespearianos de pai simbolicamente morto em público pelo filho.

Nunca houve uma delação premiada desse nível, embora tenhamos visto no Brasil um conflito familiar similar.

Nicolás Petro, que cometeu erros primários como ter rendimento comprovado equivalente a 70 mil dólares em 2022 e gastos de 250 mil, está sendo comparado a um enorme ventilador. Irá “refletir sobre os próprios erros”, como disse Gustavo Petro, ou arruinar o pai?

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