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Ele veio, viu e levou: oligarca russo levanta 1,4 bi em Londres

As incríveis histórias do bilionário que tem os melhores amigos do mundo e conseguiu dar um chapéu nas sanções econômicas contra a Rússia

Por Vilma Gryzinski 7 fev 2018, 17h07

Oleg Deripaska precisava de dinheiro e fez o que qualquer bilionário russo com lastro e bons contatos faria.

Fez um IPO, ou abertura de capital, na bolsa de Londres de uma de suas empresas, a maior fornecedora de energia da Rússia. Levantou um bilhão de libras, quase 1,4 bilhão em dólares. Usou praticamente tudo para amortizar sua dívida com o maior banco estatal russo.

Problema: o banco está na lista negra de instituições russas sob regime de sanções ocidentais desde 2014 devido à intervenção na Ucrânia e à anexação da Crimeia. A bolsa de Londres, portanto, foi usada para dar um jeitinho russo de contornar as sanções e beneficiar o banco estatal.

Outro problema: Deripaska também é dono da gigante do alumínio Rusal. Lá é produzido um tipo especial de pó de alumínio usado em equipamentos bélicos como caças e mísseis. Foi justamente uma bateria antiaérea russa colocada criminosamente em território ucraniano que derrubou o avião de passageiros da Malaysia Airlines em julho de 2014, matando 282 pessoas.

O serviço de inteligência britânico, MI6, acha que “faltaram controles adequados”, segundo a tradicional fonte anônima que falou ao Telegraph. A City disse que foi tudo feito de acordo com o manual etc etc.

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É claro que Deripaska não está nessa sozinho. Usar a bolsa de valores de um país com quem tem relações conflitantes, inclusive pelo assassinato político do dissidente envenenado com polônio num hotel de Londres, é uma jogada clássica do Kremlin de Vladimir Putin.

Deripaska é um dos “gênios do mal” do desmantelamento da União Soviética, os russos de mente brilhante e métodos impiedosos que compraram as empresas gigantescas em desmanche pelo fim do comunismo.

Formados em matemática ou ciências no antigo sistema soviético, muitas vezes judeus como Deripaska, os oligarcas enxergaram as oportunidades e captaram perfeitamente com quem deveriam dividir os lucros.

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Deripaska, que estudou física e economia, foi direto no ponto crucial: o círculo íntimo de Boris Yeltsin. Tão direto que se casou com a filha do chefe da Casa Civil de Yeltsin, uma delicada beldade russa na época com 21 anos, Polina.

O pai dela, Valentin Yumashev, depois se casou com a filha de Yeltsin. Polina hoje tem uma editora de revistas de celebridades e participação nas empresas do marido. Uma das diversões não-declaradas de muitos russos é imaginar quando será e quanto custará o divórcio, uma das poucas formas de distribuição de renda dos oligarcas.

Outra, evidentemente, é ter os sócios certos. Deripaska conseguiu fazer a transição de Yeltsin para Putin, um processo que queimou o filme de outros oligarcas caídos em desgraça.

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A desgraça, por assim dizer, de Deripaska aconteceu com a crise de 2008. Com o preço do alumínio desabando, e um dívida fenomenal, ele conseguiu se salvar com empréstimos do banco estatal – o mesmo favorecido agora com o lançamento de ações na bolsa de Londres.

Foi duro. De nono homem mais rico do mundo e campeão de todas as Rússias, passou de 28 bilhões de dólares para cerca de 5. Mas deu para manter o padrão de vida. A família em Londres, como é o sonho de todos os russos ricos e onde aperfeiçoou o inglês, o iate de 150 milhões de dólares, a dacha com pista de esqui onde jornalistas estrangeiros registram a biblioteca forrada de clássicos russos e livros sobre design japonês.

Apesar do dinheiro, da sofisticação intelectual e da presença no circuito de fóruns econômicos globais, Deripaska continua a ter uma aparência não muito diferente dos trabalhadores das usinas de alumínio da Sibéria onde ele dividia o frio e a dureza na época de construção de sua fortuna.

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Mantém também o estilo briguento. Tentou processar a agência AP por difamação. Motivo: a notícia-bomba de que havia feito pagamentos a Paul Manafort, o breve e potencialmente desastroso diretor da campanha presidencial de Donald Trump, para promover os interesses do governo russo.

A conexão com Manafort, na época em que o lobista americano prestava serviços a ucranianos afinados com a linha russa, garante que Deripaska não vai sumir do mapa tão cedo.

Em 2009, quando a crise já havia incinerado o preço das matérias-primas, o oligarca foi publicamente humilhado num episódio famoso.

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Putin desembarcou em Pikalevo, perto de São Petersburgo, onde uma disputa sobre preços entre indústrias da cidade estava causando um estrago geral na pequena cidade. Os donos foram reunidos em volta de uma mesa em formato de U e constrangidos a assinar um acordo.

Putin checou o documento, viu que faltava a assinatura de Deripaska e mandou que fosse até ele. O bilionário assinou de má vontade e foi voltando para seu lugar. “E devolva minha caneta”, trovejou o todo-poderoso. O rei do alumínio, é claro, devolveu.

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