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Ele vai enfrentar Trump, num Canadá totalmente dependente dos EUA

Mark Carney tem uma grande experiência de macroeconomia, mas o que adianta isso diante da realidade da hegemonia americana?

Por Vilma Gryzinski 30 abr 2025, 06h49

O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, tornou-se chefe de governo sem nunca ter ganhado uma eleição na vida. Sua vitória deve ser inteiramente debitada ao efeito Donald Trump. Depois que o presidente americano começou a falar, absurdamente, em anexar o Canadá, o candidato conservador, Pierre Poilievre, que exibia afinidades trumpistas, foi para um buraco tão profundo que não apenas perdeu os mais de vinte pontos de vantagem na eleição geral como sequer foi reeleito para o Parlamento.

Carney, um economista que foi presidente de dois bancos centrais, o do Canadá e o da Inglaterra, agora terá que honrar suas palavra:. “A América quer nossa terra, nossos recursos, nossa água, nosso país. Não são ameaças vãs. O presidente Trump está tentando nos dobrar para que a América nos domine. Isso nunca acontecerá”.

São palavras que se espera de um herói da resistência, não de um alto burocrata envolvido com a política monetária e seus meandros normalmente nada excitantes, embora de importância fundamental para garantir a moeda e a estabilidade dos preços.

Mas um momento excepcional pode transformar homens comuns em excepcionais. As espantosas ambições imperialistas de Trump sobre um país soberano, um aliado praticamente da “família”, são vistas pelos canadenses como a pior das traições e um perigo sem precedentes. Em todas as oportunidades que tem, Trump diz que está falando sério quando menciona como seria uma beleza apagar “aquela linha artificial”, o que criaria o maior país do mundo, com quase vinte milhões de quilômetros quadrados.

TÁTICA DE INTIMIDAÇÃO

E impensável conjecturar como isso poderia acontecer. Um ataque militar? Os americanos se revoltariam e os comandantes não cumpririam ordens ilegais.

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Sufoco econômico é mais viável. Palavras de resistência são inspiradoras e moralmente corretas, mas a realidade é dura: o Canadá depende dos Estados Unidos de forma como nenhum outro país, com exceção do México. Nada menos que 75% de suas exportações são para o voraz mercado americano.

No setor de petróleo, chega a incríveis 97%. Toda a rede de oleodutos e gasodutos, sem acesso à costa, é voltada para os Estados Unidos. A produção de vários bens, inclusive carros, está totalmente conectada.

Não são recursos que possam ser rapidamente reorientados. Sem contar que o único mercado capaz de absorvê-los é o chinês. Ou seja, as insensatas proclamações de Trump trariam para mais perto dos Estados Unidos o seu maior adversários geoestratégico.

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Será que Trump faz as reiteradas ameaças de anexação apenas para obter melhores condições comerciais, como queda de barreiras protecionistas que escapam ao grande acordo entre Estados Unidos, Canadá e México? É uma tática de intimidação para melhorar o déficit comercial e fazer o Canadá gastar os prometidos, mas nunca cumpridos, 2% do PIB em defesa?

ERA DE INCERTEZAS

O Trump do segundo mandato tem se mostrado impenetrável a análises, mesmo pelos padrões do primeiro mandato.

Qual país compraria briga deliberadamente com o pacífico Canadá, onde a experiência colonial o deixou mais próximo do parlamentarismo e do estado de bem-estar social à europeia, com uma invejável renda de 53 mil dólares per capita e um estilo de vida menos estridentemente capitalista do que o do vizinho?

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Todos os analistas coincidem que Trump arruinou a candidatura de um potencial aliado, Poilievre. Mas é possível que fosse exatamente esse seu plano? Preferiria um interlocutor mais ostensivamente contrário a ele?

Como em muitos outros aspectos agitados por Trump, o sólido e aparentemente resolvido Canadá entrou numa era de incertezas. Ninguém nem fala mais em Justin Trudeau, o primeiro-ministro bonitão que caiu fora quando viu o desgaste do poder acabar com sua popularidade.

O tom apocalíptico de Carney já está provocando brincadeiras à direita. Chegou a ser chamado de Profeta Carney. São tempos são estranhos quando uma personalidade como ele ganha contornos messiânicos.

“Vamos lidar com eles nos nossos termos”, afirmou o primeiro-ministro. Mas o fato é que, como Trump gosta de dizer, a mão dele é bem mais fraca.

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