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Ele promete um ‘lollapalooza’ na economia americana: vai dar certo?

Futuro secretário do Tesouro é o nome mais sólido do ministério Trump – e também com a tarefa mais exigente: bombar a economia

Por Vilma Gryzinski 29 nov 2024, 08h54

Scott Bessent já foi chamado de “assassino silencioso”, deu aula de história da economia em Yale e é um dos personagens de um livro intitulado Mais Dinheiro do que Deus, sobre os gestores de investimentos que viraram as estrelas do mercado financeiro. E tem um plano de fácil entendimento para os leigos, chamado 3-3-3: reduzir o déficit fiscal a 3% do PIB até 2028, incentivar um crescimento econômico de 3% ao ano através da desregulamentação e produzir três milhões de barris de petróleo a mais do que os níveis atuais. Somando-se os incentivos criados pelos cortes de impostos, diz, estará implantado um verdadeiro “lollapalooza da economia”.

É claro que todo ministro da Economia assume sonhando alto, mas poucos são considerados tão qualificados para fazer isso quanto Bessent (descendente distante de huguenotes, ou protestantes, franceses).

Antes sequer que a origem de seu sobrenome seja explicada, todo mundo lembra que ele trabalhou para, ou com, George Soros, o bilionário de esquerda que é a nêmesis de Donald Trump (conhecer por dentro os segredos do inimigo pode ter sido um dos motivos da escolha? Sem dúvida nenhuma). Era da equipe que, famosa ou infamemente, apostou contra a libra esterlina e ganhou, uma manobra que virou sinônimo das maldades do mercado e do poder dos especuladores que farejam fraquezas.

Bessent vai ter que administrar um presidente que entende de economia e quer mostrar serviço imediatamente. Sem contar as pulsões contraditórias: um plano econômico liberal, para atiçar as forças do mercado, e medidas protecionistas que são praticamente a sua antítese.

“REORDENAMENTO GLOBAL”

“O revólver das sobretaxas estará sempre carregado e em cima da mesa, mas raramente será disparado”, disse ele numa carta a investidores, usando uma metáfora que mais preocupa do que tranquiliza os defensores do livre comércio.

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Reunindo, ao mesmo tempo, a experiência do mercado e a vivência acadêmica, Bessentt parece capaz de ver o micro e o macro, com todas as coisas que ficam no meio – geralmente, as mais importantes. Ser bilionário também ajuda – e por esforço próprio, pois tendo nascido numa família rica, recebeu dinheiro zero do pai para se jogar na aventura da roda da fortuna.

Com a dupla perspectiva, Bessent vê “um grande reordenamento econômico global e quero fazer parte disso”, disse ele, em declarações recuperadas pelo Wall Street Journal. Essa mudança de paradigma é da magnitude de Bretton Woods, analisou. Com o detalhe, óbvio, de que ele quer manter o dólar como moeda de troca, tal como foi estabelecido em Betro Woods, não substituí-lo como prega o Sul Global, incentivado pela China em seu projeto de sangrar o Leviatã americano.

Sobre a China, ele já criticou a política comercial que fez a festa de Wall Street, enfraqueceu a base industrial americana e não produziu as reformas que muitos esperavam, olhando pelo lado otimista, no sistema chinês.

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A reportagem do Wall Street Journal lembra que a política do 3-3-3 é inspirada pelas “Três Flechas” do ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe. Quando estava no poder, Abe foi um dos estadistas com melhor relação com Trump, tendo ideias parecidas do ponto de vista da economia com as do então presidente – um desequilibrado o assassinou no meio da rua em 8 de julho de 2022, um enorme trauma para um país ordeiro como o Japão.

ATAQUES DE APOPLEXIA

Bessent e outros da linha liberal apostam que Trump anuncia sobretaxas pesadas para arrancar concessões – o tal revólver carregado em cima da mesa, inclusive em áreas como controle fronteiriço e do tráfico de fentanil no México, elemento novo que introduziu no jogo. O México já começou a desarticular as caravanas de migrantes antes que cheguem à fronteira.

Os mercados continuam reagindo bem, mesmo com as heterodoxias de Trump, num ambiente que venera a ortodoxia e a previsibilidade.

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Trump demorou para escolher o futuro secretário do Tesouro, um processo em que todos à sua volta tentaram interferir, inclusive Elon Musk. Alguns antitrumpistas mais exaltados acham que pesou na escolha de Bessent o fato de ser gay e casado com um promotor. A intenção de Trump seria ver a turma woke tendo ataques de apoplexia por não conseguir processar as informações.

Não há nada que confirme a hipótese. Trump quer uma economia pujante, com resultados rápidos, não aquela coisa que se passa por política econômica em nanicos incompetentes, imprudentes ou ambos.

Se Bessent não der certo, tem seu próprio fundo para voltar. Ou até o de Soros. Já ganhou mais de dez bilhões de dólares para o bilionário de esquerda no tempo em que era simpatizante – e doador – do Partido Democrata. Trump adora um convertido.

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