Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Ela queria dar grito da independência da Escócia; nem aos seus convenceu

Nicola Sturgeon caiu porque aumentou o número dos escoceses que são contra sair do Reino Unido - e dos que rejeitaram colocar estuprador em cela feminina

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 16 fev 2023, 07h53 - Publicado em 16 fev 2023, 07h52

Obstinada e briguenta, a primeira-ministra Nicola Sturgeon sempre pareceu ser impermeável a fraquezas humanas. Provavelmente, é mesmo. Exceto à mais imperdoável fraqueza dos políticos: uma opinião pública que começa a ter dúvidas.

Popularíssima por ter sempre uma atitude hostil em relação aos ingleses, a ponto de soar insuportável a ouvidos não escoceses, Sturgeon falhou justamente na sua causa mais importante, a da independência. 

Segundo a pesquisa mais recente, se houvesse outro plebiscito, 56% dos escoceses votariam contra e 44%, a favor. Foi o menor número já registrado nos últimos anos. A pesquisa saiu num dia, Sturgeon anunciou no outro que deixará o governo assim que for eleita a pessoa que vai liderar o Partido Nacional Escocês em seu lugar. Pelo sistema parlamentarista, esta pessoa se torna o first minister, uma designação que não se distingue, em português, do prime minister, reservado ao chefe do governo britânico.

Mais: apenas 22% apoiam a nova Lei de Reconhecimento de Gênero, uma causa que a primeira-ministra comprou para reafirmar a posição progressista. Pela nova legislação, é suficiente uma pessoa a partir dos 16 anos se declarar do sexo oposto para ter todo o reconhecimento legal. A aplicação desse princípio, na prática, resultou no envio a penitenciárias femininas de condenados por estupro que anunciaram a transição no meio do processo.

Aconteceu assim o notório caso de Isla Bryson que, como Adam Graham, estuprou duas mulheres. Tendo mudado de nome e passado a usar peruca, unhas postiças e roupas femininas, o indivíduo conservou todas as demais características masculinas, transmitindo a forte impressão de que estava apenas se aproveitando do sistema para cumprir a pena nas condições bem menos desagradáveis de uma penitenciária para mulheres.

Continua após a publicidade

Falar em características nacionais é um perigo, mas os teimosos e turrões escoceses têm um profundo senso de honestidade, do que é certo e do que é errado. Nicola Sturgeon, que compartilha a legendária cabeça dura nacional, não se deu conta que a lacração funcionaria contra ela. Quando mandou remover os oito homens biológicos colocados em prisões femininas, o estrago já estava feito.

A pessoa que chefia o governo escocês tem autoridade sobre assuntos internos. Quando decisões entram em conflito com o arcabouço legal britânico, podem ser embargadas. Foi o que aconteceu com a lei de gênero. Nicola Sturgeon contava que a questão da autodesignação viraria mais uma prova de que os pérfidos ingleses se metem em tudo e, horror supremo, são transfóbicos.

Recapitulando: a Escócia é um dos quatro componentes do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte (Inglaterra e País de Gales completam o quarteto). A unificação se deu sob a hegemonia dos ingleses e existem movimentos nacionalistas nos três integrantes que foram dominados pela força quando isso era a coisa mais normal do mundo.

Continua após a publicidade

A Escócia, onde é forte o sentimento de que o país é desprezado e maltratado pelo governo britânico, já fez um plebiscito sobre a independência, em 2014. Foi uma campanha livre e, por motivos óbvios, apaixonada: 55% votaram por continuar na união, 44% pela independência (um número quase idêntico ao da última pesquisa).

 A causa da vida de Nicola Sturgeon, que começou a militar no PNE aos 16 anos, seria arrancar um novo plebiscito (levou à Suprema Corte o caso da convocação sem a aprovação do Parlamento britânico e perdeu), conseguir a votação do divórcio nacional e declarar a independência. Não foi dessa vez.

Alex Salmond, seu predecessor e ex-mentor (afastado por acusações de assédio sexual das quais acabou absolvido), disse que as “bobagens” da política identitária atrasaram em anos a causa independentista.

Continua após a publicidade

O nacionalismo de Sturgeon e companhia é celebrado por progressistas que normalmente abominam o conceito e seus acompanhamentos – bandeira, hino etc – porque o PNE virou um partido de esquerda, com uma longa lista de benefícios sociais e políticas identitárias típicas. A Escócia é frequentemente chamada de “o país mais politicamente correto do mundo”.

Como os catalães, muitos escoceses acham que são explorados pela potência central, mas os números mostram uma realidade diferente: a Escócia gerou 73,8 bilhões de libras em impostos no período de 2021-2022 e recebeu 97,5 bilhões em benefícios.

Como os estereótipos nacionais são irresistíveis, talvez o econômicos escoceses tenham percebido, na maioria, que não seria um bom negócio dar o grito da independência. E Nicola Sturgeon não conseguiu convencê-los do contrário.

Continua após a publicidade

“Não estou esperando violinos aqui, mas sou um ser humano tanto quanto uma política”, disse ela, com a voz ligeiramente trêmula. 

Só pelo estilo sem autocomiseração dessa frase, merece ser perdoada pelo menos por parte de suas ranzinzices.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.