Ela fala e Trump segue: a influenciadora que faz a cabeça do presidente
Laura Loomer puxa Trump para a direita e deixa assessores em polvorosa - além de alimentar boataria sobre natureza do relacionamento

‘Eu não controlo Laura. Ela diz o que quer. É um espírito livre”, Assim Donald Trump justificou o estilo da mulher que está sempre na sua órbita, embora não tenha nenhum cargo oficial. Às vezes, o presidente ouve o que Laura Loomer tem a dizer: foi ela quem batalhou para fazer uma espécie de expurgo no Conselho de Segurança Nacional até chegar no seu diretor, Mike Walz, demitido na semana passada.
O pretexto foi significativo: Walz assumiu a responsabilidade por ter adicionado, sem querer, um dos mais importantes críticos de Trump na imprensa, Jeffrey Goldberg. Por causa do engano, o diretor de redação da revista The Atlantic, bastião do antitrumpismo bancado pela viúva de Steve Jobs, entrou num grupo onde o secretário da Defesa, Pete Hegseth, dava detalhes sobre operações de bombardeio aos hutis, militantes islamitas que dominam o Iêmen e constantemente ameaçam navios em trânsito pelo Mar Vermelho.
Mike Watz, um ex-boina verde, integrante das forças especiais do Exército, estava na mira de Laura Loomer por ser “neoconservador” – imaginem só, o rótulo inventado pela esquerda virou anátema para a direita populista totalmente contra as intervenções militares em outros países. Ele também tinha mais simpatia pela causa ucraniana do que a média dos integrantes do governo atual. Segundo fontes do governo citadas pelo Washington Post, Watz queimou o filme por se identificar excessivamente com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na causa contra o Irã. Mas é incontestável a influência da influenciadora.
Como consolação, Watz, que renunciou a uma cadeira no Congresso para entrar no governo, será embaixador na ONU. É um cargo importante, de nível ministerial, mas que o deixa mais longe do lugar mais cobiçado em qualquer governo, o ouvido do presidente.
‘CHEIRO DE CURRY’
É isso que dá cacife a Laura Loomer – e provoca a inevitável boataria, desencadeada quando ela começou a viajar no avião de Trump durante a campanha da qual Melania literalmente sumiu. Os assessores mais próximos de Trump não deixaram que ganhasse qualquer posição oficial. Disse uma fonte, evidentemente anônima, que eles estavam “100% preocupados com a proximidade”.
Mas o presidente continuou a “ouvir o que tem a dizer” essa “boa patriota”, mesmo quando não concorda. E há um bocado de coisa a não concordar. Se Kamala Harris ganhasse, sibilou Laura durante a campanha, a Casa Branca “teria cheiro de curry e os discursos presidenciais seriam distribuídos por um call center” – duas referências preconceituosas sobre a origem da candidata democrata, filha de mãe indiana.
Ela também já defendeu a criação de um Uber sem motoristas muçulmanos, alegando que teve confronto com um, por ser judia. Foi banida do aplicativo, uma de suas muitas proscrições.
Pior ainda, sustentou a tese conspiracionista de que os ataques terroristas do Onze de Setembro foram cometidos por “gente de dentro” – outra maluquice de origem esquerdista que conquista a direita desmiolada.
INFLUENCIADORA DE UM SÓ
Muitos presidentes têm pessoas ao seu redor a quem se atribui uma influência indevida ou deletéria. Frequentemente, esta pessoa é a esposa ou alguma “eminência parda”, os manipuladores do ouvido presidencial.
Laura Loomer, de 31 anos, se aproximou dos círculos trumpistas quando Trump ainda disputava a candidatura republicana, tendo se destacado por dizer horrores do principal adversário, Ron DeSantis, o governador da Flórida. Foi convidada para um jantar em Mar-a-Lago e a coisa floresceu. Antes, trabalhou com o campeão de conspiracionismo, Alex Jones. Afora, é influenciadora de um homem só.
Desde que entrou no círculo próximo de Trump, ela se considera uma espécie de guardiã da pureza ideológica dos princípios da turma MAGA para barrar “pessoas desleais que tiveram um papel na sabotagem de Donald Trump”.
Quem guarda os guardiões, obviamente, é a questão eterna.