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É verdade que Joe Biden já está se desconectando da realidade?

Retrato devastador traçado pelo 'Wall Street Journal', com base em múltiplas fontes, mostra um presidente em desagregação cognitiva

Por Vilma Gryzinski 6 jun 2024, 07h58

Qual o Joe Biden verdadeiro?

O esperto o suficiente para apertar as condições na fronteira com o México, um de seus piores indicadores eleitorais? O líder com experiência incomparável em assuntos internacionais pintado pela revista Time? O homem que pode forçar Israel até arrancar um acordo que traga a paz para Gaza, mesmo que salvando o Hamas?

Ou o que mal consegue falar, não domina mais pontos importantes de projetos políticos, depende de anotações feitas em letras bem grandes, desliga-se de debates feitos a portas fechadas. Em suma, um homem de 81 anos em evidente declínio cognitivo, tal como o apresentado na reportagem feita pelo Wall Street Journal, o jornal de finanças altamente respeitado?

Uma reportagem dessa natureza, capaz de mudar ou moldar a percepção sobre o presidente dos Estados Unidos, tem que ser sólida, blindada a todas as contestações. O Journal ouviu 45 fontes, dos dois partidos, ao longo de meses, mas foi seriamente contestado por outros órgãos simpatizantes dos democratas. Um dos nomes mais criticados – e uma das raras fontes não anônimas – foi o do ex-presidente da Câmara, Kevin McCarthy.

“Eu me encontrava com ele quando era vice-presidente, ia à sua casa. Não é a mesma pessoa”, disse McCarthy.

MARGEM DE ERRO

Ele e outras fontes reproduziram uma reunião na Casa Branca em que foi discutida a retomada da ajuda militar à Ucrânia.

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“Não dava para estar lá e não sentir desconforto”, disse um dos participantes. Só para saudar os presentes, Biden levou dez minutos. Todos sabiam o motivo da reunião, mas o presidente começou a explicar a ajuda à Ucrânia, lendo notas preparadas pela assessoria. Os participantes ficaram surpresos.

Qualquer coisa referente à acuidade mental de Biden evidentemente tem um peso enorme. No momento, ele e Donald Trump estão praticamente empatados, com as diferenças a favor do ex-presidente dentro da margem de erro. Os democratas, obviamente, acham que esse é o momento certo para explorar a condenação de Trump por fraudar a origem de um dinheiro pago a uma suposta ex-amante. O caso é juridicamente confuso e contestável, mas o resultado do júri, emitindo 34 condenações (cada acusação foi apresentada isoladamente, como os doze cheques pagos por Trump para reembolsar seu faz-tudo à época) teve um efeito massacrante.

A sentença sai em 11 de julho e os democratas estão plantando em toda parte que Trump pode pegar pena de prisão.

DISCURSO ENROLADO

Esta é a situação da potência hegemônica: um candidato que pode estar preso quando o Partido Republicano fizer a convenção para oficializar seu nome, outro que, segundo um dos jornais mais importantes do país, está crescentemente incapacitado em termos de capacidade mental.

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Isso é evidente em diversas cenas em que o presidente mal consegue emitir a voz, faz um discurso enrolado, confunde nomes e repete, pura e simplesmente, mentiras. Uma das mais frequentes é dizer que seu filho, Beau Biden, morreu na guerra do Iraque – ele na verdade teve um devastador câncer cerebral. Quem se esquece da causa da morte do filho, sobre a qual ele escreveu até um livro?

O outro filho de Biden, Hunter, está sendo julgado por comprar uma arma quando a lei o proibia explicitamente disso, em razão do uso de drogas.

Várias das fontes citadas pelo Journal dizem se lembrar da época em que Biden era vice-presidente, enérgico e ativo, e hoje se deparam com um homem bem diferente.

Até a reportagem de capa da Time, feita para levantar a bola dele como estadista experiente, reconhece isso. “O passo claudicante, a voz abafada e a sintaxe errática contrastam fortemente com a personalidade intensa e loquaz que foi senador e vice-presidente”, anotou a revista.

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ALTA ANSIEDADE

Votar num idoso cada vez mais alterado ou num candidato condenado com todos os conhecidos defeitos de Trump? Estas são as opções para o eleitorado americano – indicando talvez um aumento do “terceiro nome”, Robert Kennedy Jr., cujas ideias exóticas sobre saúde e vacinação ocupam apenas um nicho específico, sem apelo mais amplo.

Os próximos meses são de deixar até o mais calmo dos analistas em estado de alta ansiedade. Pela frente, desenham-se a sentença de Trump e o desenrolar de outros três processos, o julgamento de Hunter Biden, a possível definição da guerra na Ucrânia e o sempre altamente inflamável Oriente Médio, onde uma trégua com o Hamas pode ser obscurecida por uma guerra em grandes proporções contra o Hezbollah no Líbano.

Segundo a média das pesquisas feita pelo site RealClear, Trump tem 46,5% das preferências e Biden, 45,4%. Em seis das nove pesquisas, Trump apareceu em alta.

O presidente tem a vantagem natural de estar no poder. Se parecer que quer controlar a loucura de uma fronteira por onde já passaram mais de cinco milhões de estrangeiros clandestinos em seu mandato, se a Rússia não ganhar da Ucrânia, se conseguir um acordo entre Israel e Hamas, se não cair, não tropeçar, não falar nenhum absurdo e nem der outros sinais de debilitação, ele pode virar o jogo.

O adversário também tem que errar muito.

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