É verdade que Joe Biden já está se desconectando da realidade?
Retrato devastador traçado pelo 'Wall Street Journal', com base em múltiplas fontes, mostra um presidente em desagregação cognitiva
Qual o Joe Biden verdadeiro?
O esperto o suficiente para apertar as condições na fronteira com o México, um de seus piores indicadores eleitorais? O líder com experiência incomparável em assuntos internacionais pintado pela revista Time? O homem que pode forçar Israel até arrancar um acordo que traga a paz para Gaza, mesmo que salvando o Hamas?
Ou o que mal consegue falar, não domina mais pontos importantes de projetos políticos, depende de anotações feitas em letras bem grandes, desliga-se de debates feitos a portas fechadas. Em suma, um homem de 81 anos em evidente declínio cognitivo, tal como o apresentado na reportagem feita pelo Wall Street Journal, o jornal de finanças altamente respeitado?
Uma reportagem dessa natureza, capaz de mudar ou moldar a percepção sobre o presidente dos Estados Unidos, tem que ser sólida, blindada a todas as contestações. O Journal ouviu 45 fontes, dos dois partidos, ao longo de meses, mas foi seriamente contestado por outros órgãos simpatizantes dos democratas. Um dos nomes mais criticados – e uma das raras fontes não anônimas – foi o do ex-presidente da Câmara, Kevin McCarthy.
“Eu me encontrava com ele quando era vice-presidente, ia à sua casa. Não é a mesma pessoa”, disse McCarthy.
MARGEM DE ERRO
Ele e outras fontes reproduziram uma reunião na Casa Branca em que foi discutida a retomada da ajuda militar à Ucrânia.
“Não dava para estar lá e não sentir desconforto”, disse um dos participantes. Só para saudar os presentes, Biden levou dez minutos. Todos sabiam o motivo da reunião, mas o presidente começou a explicar a ajuda à Ucrânia, lendo notas preparadas pela assessoria. Os participantes ficaram surpresos.
Qualquer coisa referente à acuidade mental de Biden evidentemente tem um peso enorme. No momento, ele e Donald Trump estão praticamente empatados, com as diferenças a favor do ex-presidente dentro da margem de erro. Os democratas, obviamente, acham que esse é o momento certo para explorar a condenação de Trump por fraudar a origem de um dinheiro pago a uma suposta ex-amante. O caso é juridicamente confuso e contestável, mas o resultado do júri, emitindo 34 condenações (cada acusação foi apresentada isoladamente, como os doze cheques pagos por Trump para reembolsar seu faz-tudo à época) teve um efeito massacrante.
A sentença sai em 11 de julho e os democratas estão plantando em toda parte que Trump pode pegar pena de prisão.
DISCURSO ENROLADO
Esta é a situação da potência hegemônica: um candidato que pode estar preso quando o Partido Republicano fizer a convenção para oficializar seu nome, outro que, segundo um dos jornais mais importantes do país, está crescentemente incapacitado em termos de capacidade mental.
Isso é evidente em diversas cenas em que o presidente mal consegue emitir a voz, faz um discurso enrolado, confunde nomes e repete, pura e simplesmente, mentiras. Uma das mais frequentes é dizer que seu filho, Beau Biden, morreu na guerra do Iraque – ele na verdade teve um devastador câncer cerebral. Quem se esquece da causa da morte do filho, sobre a qual ele escreveu até um livro?
O outro filho de Biden, Hunter, está sendo julgado por comprar uma arma quando a lei o proibia explicitamente disso, em razão do uso de drogas.
Várias das fontes citadas pelo Journal dizem se lembrar da época em que Biden era vice-presidente, enérgico e ativo, e hoje se deparam com um homem bem diferente.
Até a reportagem de capa da Time, feita para levantar a bola dele como estadista experiente, reconhece isso. “O passo claudicante, a voz abafada e a sintaxe errática contrastam fortemente com a personalidade intensa e loquaz que foi senador e vice-presidente”, anotou a revista.
ALTA ANSIEDADE
Votar num idoso cada vez mais alterado ou num candidato condenado com todos os conhecidos defeitos de Trump? Estas são as opções para o eleitorado americano – indicando talvez um aumento do “terceiro nome”, Robert Kennedy Jr., cujas ideias exóticas sobre saúde e vacinação ocupam apenas um nicho específico, sem apelo mais amplo.
Os próximos meses são de deixar até o mais calmo dos analistas em estado de alta ansiedade. Pela frente, desenham-se a sentença de Trump e o desenrolar de outros três processos, o julgamento de Hunter Biden, a possível definição da guerra na Ucrânia e o sempre altamente inflamável Oriente Médio, onde uma trégua com o Hamas pode ser obscurecida por uma guerra em grandes proporções contra o Hezbollah no Líbano.
Segundo a média das pesquisas feita pelo site RealClear, Trump tem 46,5% das preferências e Biden, 45,4%. Em seis das nove pesquisas, Trump apareceu em alta.
O presidente tem a vantagem natural de estar no poder. Se parecer que quer controlar a loucura de uma fronteira por onde já passaram mais de cinco milhões de estrangeiros clandestinos em seu mandato, se a Rússia não ganhar da Ucrânia, se conseguir um acordo entre Israel e Hamas, se não cair, não tropeçar, não falar nenhum absurdo e nem der outros sinais de debilitação, ele pode virar o jogo.
O adversário também tem que errar muito.