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É bom para Israel invadir o Líbano ou estará fazendo o jogo do Irã?

Impasse para o estado judeu: aproveitar a oportunidade de golpear mais forte o Hezbollah ou evitar proliferação que beneficia o maior inimigo

Por Vilma Gryzinski 24 set 2024, 06h48

“Não existem caminhos sem dor para Israel”, disse Yitzhak Rabin, momentos antes de ser assassinado, em 4 de novembro de 1995, depois de um comício no qual defendeu um grande acordo com os palestinos. Todos os israelenses judeus vivem essa realidade, amplificada agora com o dilema no Líbano.

Deve o país aproveitar que o Hezbollah levou um golpe duro com a operação sem precedentes dos pagers explosivos e, depois, como estavam impedidos de se comunicar, a morte de mais dezesseis comandantes do alto escalão da organização terrorista, reunidos fisicamente no subsolo de um prédio em Beirute destruído por um míssil israelense?

Ou irá a exacerbação da guerra – ou seja, uma invasão por terra ao Sul do Líbano, com o precedente altamente negativo da última vez em que aconteceu isso – beneficiar o Irã?

O objetivo do maior inimigo de Israel é justamente acirrar a guerra de sete frentes contra Israel que existe agora: Gaza, Cisjordânia, Líbano, Iêmen, milícias iraquianas e sírias dominadas pelo regime dos iranianos e o próprio Irã.

O país está por trás de toda a orquestração contra Israel e já quebrou um grande tabu, em 13 de abril passado, lançando um ataque de mísseis e drones contra território israelense – fragorosamente fracassado, o que aumenta a sede de revanche do regime, ainda por vingar o atentado que explodiu Ismail Haniyeh, um dos principais líderes do Hamas no exterior, bem debaixo das barbas dos aiatolás e sua tropa de choque, os Guardas da Revolução Islâmica.

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BERÇO DO CRISTIANISMO

Mesmo com os golpes arrasadores desfechados contra o Hezbollah, todos os israelenses sabem muito bem que a organização terrorista xiita, tendo perdido quase 500 combatentes em bombardeios pontuais, continua a ter grande capacidade de lançar foguetes contra todo o território de Israel. As fotos de mísseis enormes “escondidos” em porões de moradores comuns mostram como estão espalhados.

Até Nazaré, a cidade onde Jesus cresceu, com população árabe – 70% de muçulmanos e 30% de cristãos, um sinal de como o cristianismo está sendo arrasado pelos fundamentalistas em seu próprio berço – tem sido bombardeada.

Sem um acordo de cessar-fogo com o Hamas, que pacificaria a frente libanesa, ou sem uma invasão por terra, com altíssimos custos, em vidas, dos dois lados, e em matéria de apoio dos países ocidentais a Israel, os bombardeios vão continuar. E mais de 60 mil israelenses continuarão evacuados de suas casas em localidades mais próximas à fronteira com o Líbano. Só podem voltar se houver garantias de segurança – e só pode havê-las se os foguetes do Hezbollah silenciaram.

O Hezbollah começou a bombardear Israel unilateralmente em 8 de outubro do ano passado, quando Israel ainda recolhia e identificava as 1.200 vítimas terrivelmente massacradas da invasão do Hamas em localidades próximas da fronteira com Gaza, no outro extremo do país. O objetivo é simplesmente destruir Israel, um projeto ultrafundamentalista e irreal que pode arrastar o Líbano para outra guerra de extrema destrutividade. Um dos grandes feitos do Irã foi reunir os palestinos, que são sunitas, com os radicais xiitas – seus próprios e os do Hezbollah – nesse “projeto” conjunto.

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Diz o analista militar Seth J. Frantzman, no Jerusalem Post: “As Forças de Defesa de Israel dizimaram a grande maioria das estruturas terroristas do Hamas na Faixa de Gaza, eliminando batalhões e comandantes, e reduzindo a ameaça dos foguetes do grupo terrorista”.

PODER DE DISSUASÃO

“As FDI também tomaram o corredor Philadelphi, dificultando o rearmamento do Hamas. Na Cisjordânia, os militares também evitaram uma crescente insurgência de grupos da região norte, através de incursões cada vez mais fortes” em áreas do território palestino ocupado.

“Agora, podem se concentrar no Hezbollah. Fundamentalmente, o que aconteceu foi que o Irã procurou criar uma guerra de múltiplas frentes, mas Israel tem enfrentado os terceirizados da República Islâmica um de cada vez”.

“O Irã tem estabelecido o ritmo das frentes ao longo dos últimos onze meses, do Iraque ao Iêmen. Tentou criar um círculo de ameaças em torno de Israel, dificultando a derrota de qualquer um deles. Um ataque arrasador contra qualquer um dos terceirizados do Irã pode restabelecer o poder de dissuasão que Israel tinha antes”.

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Pode também desencadear uma guerra descontrolada – e os acontecimentos históricos no Líbano provam isso. Os líderes políticos e militares israelenses aprendem com os erros do passado, mas lidam com forças superiores ao controle dos mais preparados e treinados guerreiros.

CAMINHO DA GUERRA

“Encontramos parceiros para a paz entre os palestinos: a OLP, que era uma inimiga, parou de fazer terrorismo. Sem parceiros para a paz, não pode haver paz”, disse Rabin no discurso que antecedeu seu assassinato, há quase trinta anos, crime cometido por um judeu ultranacionalista que julgava catastrófico um acordo de paz em que Israel devolvesse territórios palestinos ocupados depois dos múltiplos processos de agressão que sofreu.

Hoje, realisticamente, não existem esses parceiros. E a maioria dos israelenses deixou de acreditar num acordo de criação de um estado palestino em troca de concessões para a coexistência, mesmo que todos os aliados ocidentais – e orientais também, como a Arábia Saudita – forcem um esboço de solução desse tipo para o futuro.

Dizer que é tudo culpa de Benjamin Netanyahu é ignorar o quanto os israelenses judeus hoje consideram impossível um acordo, recebendo confirmações constantes dos inimigos que repetem o tempo todo que querem destruir Israel, não criar dois estados coexistentes.

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PROFECIAS BÍBLICAS

Uma invasão do Líbano tumultua mais essa perspectiva. Mas, teoricamente, se tirasse a ameaça do Hezbollah do caminho, poderia também criar condições para uma paz futura? E a onda de especulações, nada comprovadas, de que o chefão do Hamas, Yahya Sinwar foi morto num túnel onde se escondia em Khan Yunis, cercado de reféns israelenses algemados, também poderia significar a remoção do maior obstáculo para um cessar-fogo?

“É um caminho cheio de dificuldades e de dor”, disse Rabin sobre sua abertura para a paz. “Para Israel, não existe caminho que seja sem dor. Mas o caminho da paz é preferível ao caminho da guerra”.

Os dilemas continuam a ser os mesmos, com a diferença de que o Irã dominou os aliados árabes e hoje comanda a orquestra da guerra – e até do apocalipse, segundo os que acreditam em profecias bíblicas, do Antigo e do Novo Testamento, e também islâmicas.

Quem não acredita não pode ignorar que o Irã está muito, muito próximo da fabricação de um artefato nuclear, um dos elementos que os líderes políticos e militares israelenses levam em máxima consideração quando esboçam táticas e estratégias.

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Os perigos, para a região e para o mundo, são enormes. Dessa perspectiva, uma humilhação maior ainda do Hezbollah – e, portanto, do Irã – incendeia mais ainda a fogueira.

LÓGICA IMPLACÁVEL

Israel avisou ontem todos os habitantes do vale do Bekaa, na maioria xiitas, em cujas casas o Hezbollah instalou depósitos de lançadores de foguetes, que saiam delas no prazo de duas horas porque os bombardeios vão aumentar.

“Fiquem a pelo menos mil metros das aldeias ou congregados nas escolas locais”, disse o porta-voz das FDI, Daniel Hagari.

“As cenas vistas agora no sul do Líbano são de depósitos de munições do Hezbollah explodindo dentro de casas. Em todas as casas que atingimos, havia foguetes, drones e mísseis destinados a matar civis israelenses”.

Enquanto a população do sul do Líbano faz um êxodo em massa, o caminho da guerra parece estar ganhando. É uma lógica implacável e difícil de quebrar.

E fica mais triste ainda pensar como libaneses e israelenses, entre os quais não existem conflitos fora do fundamentalismo religioso, poderiam ser vizinhos mutuamente vantajosos, unindo suas capacidades para fazer negócios, criar empreendimentos, administrar finanças, expandir o mundo das startups, ganhar dinheiro e melhorar a vida de todos.

Imaginem libaneses cristãos visitando o Santo Sepulcro e muçulmanos em peregrinação a Al-Aksa. E jovens israelenses, que gostam de baladas, visitando a agitada vida noturna de Beirute e imediações, com a contrapartida em Telavive. Em vez disso, por causa do radicalismo islâmico, falam os mísseis e todos têm muito a perder.

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