Domo de Ferro, coalizão com americanos e até uma ajudazinha superior
A espetacular defesa que salvou Israel de centenas de drones tem um preço: não retaliar contra o Irã e não disseminar a guerra pelo Oriente Médio
Gog e Magog: quem foi correndo ler os trechos bíblicos, nada claros, sobre o fim dos tempos talvez tenha se precipitado. Ou talvez o Deus de que nos fala o livro santo tenha se manifestado através de uma extraordinária coalizão para salvar a pátria: Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e até Jordânia. Em volta disso tudo, o Domo de Ferro, a cúpula virtual que intercepta agressores vindos pelo céu. Resultado: 99% dos cerca de trezentos drones e mísseis foram derrubados no gigantesco vídeo game em que se transformou o espaço aéreo do Oriente Médio
Foi um carão para o Irã, mas o regime dos aiatolás achou que o “ASSUNTO ESTÁ ENCERRADO”, assim mesmo, em maiúsculas, se Israel não retaliar. Segurar os israelenses compete aos Estados Unidos, uma tarefa que nem sempre é bem sucedida. Se um único drone conseguiu furar a cúpula protetora, o ataque pode ser considerado um fracasso e relevado.
Pela lógica comum, seria do interesse de todos que o assunto fosse mesmo encerrado. Mas a lógica implacável da força que vigora no Oriente Médio funciona de outra maneira. Notoriamente, o governo de Benjamin Netanyahu funciona sobre pressão da linha duríssima que permite sua sustentação.
Outro fator relevante: o Hezbollah recebeu instruções para ficar de lado e deixou o Irã agir sozinho. Pode entrar brevemente em ação, mas a atitude iraniana foi um indício de que não procura a guerra total, só salvar a cara depois que seu consulado/QG em Damasco foi pulverizado, com dois generais iranianos dentro. Não foi dessa vez que começou uma guerra em grande escala, mas nada garante que isso ainda não venha a acontecer.
Muito provavelmente, em troca do inestimável apoio, sem o qual o resultado seria muito diferente, os Estados Unidos agora estão exigindo que Israel não reaja. O presidente Joe Biden já declarou que não vai apoiar uma retaliação israelense.
Manter a cabeça fria demandaria um autocontrole e um comando político que talvez Benjamin Netanyahu não tenha, mas o establishment israelense certamente entende todos os fatores envolvidos e anotou todos os movimentos, incluindo a inesperada participação da Jordânia. Lembremos que os principais países sunitas, incluindo Arábia Saudita e Egito, além da própria Jordânia, têm pavor da desestabilização promovida pelo regime xiita iraniano.
Quem sabe as terríveis tribulações vividas durante a última madrugada tenham aberto uma pequena fresta para um acordo mais amplo com Israel? São estranhos os caminhos dos acontecimentos no Oriente Médio.