Relâmpago: Assine Digital Completo por 2,99
Imagem Blog

Mundialista

Por Vilma Gryzinski Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Direita já está contra Donald Trump? Alguns sinais começam a surgir

Está todo mundo aliviado, mas de influenciadores com tendência conservadora a exilados cubanos, a frustração aumenta

Por Vilma Gryzinski 10 abr 2025, 07h06

A direita quer ver a esquerda se dar mal – e o oposto é completamente verdadeiro. Por isso, existe uma patrulha constante sobre as reações à surreal política de tarifas de Donald Trump, que tantos estragos causou na parte mais sensível do ser humano, o bolso, antes da recuperação exuberantemente irracional turbinada pela suspensão das sobretaxas mais altas. Algumas dissidências começaram a aparecer, como a de Ben Shapiro, um dos mais conhecidos conservadores dos Estados Unidos, com seu podcast de grande sucesso e quinze milhões de seguidores nas redes.

“A visão que o presidente tem do comércio internacional é, sinto dizer, equivocada”, explicitou Shapiro, tomando cuidado com as palavras que usa de maneira incrivelmente articulada.

Ele também disse que apoia o posicionamento de Elon Musk, com sua proposta zerar as tarifas entre Estados Unidos e União Europeia, criando uma grande zona de livre comércio.

“Exorto o presidente a fazer exatamente o que Musk está dizendo”, apelou Shapiro, um geniozinho que se formou na primeira faculdade aos vinte anos, toca violino na melhor tradição judaica e tem uma fortuna calculada em 50 milhões de dólares.

Além de propor o oposto do que Trump está fazendo, Musk também se arrepiou com o economista Peter Navarro, conselheiro comercial de Trump – e leal a ponto de ter cumprido quatro meses de prisão por desacato ao Congresso, ao não atender a convocação para depor sobre os incidentes de 6 de janeiro de 2021. Em palavras que correram o mundo, Musk chamou Navarro de idiota e de “mais burro do que uma saca de tijolos”. Detalhe: ele continua trabalhando voluntariamente no corte de gastos promovido pelo Departamento de Eficiência Governamental, o Doge.

‘ENCOLHIDO NA CAMA, SUANDO’

Quem por pouco não foi trabalhar no Departamento do Comércio é outro podcaster conhecido, Dave Portnoy – recusou porque teria que deixar a direção de sua empresa de mídia, a Barstool Sports.

Continua após a publicidade

Portnoy disse que perdeu estonteantes 20 milhões de dólares com a queda nas bolsas – “Nem olhei direito. Uns 10% ou 15% da minha fortuna”.

Como todo mundo detesta perder dinheiro, seja em que escala for, Portnoy acrescentou que entendia que as bolsas tivesse desabado depois do Onze de Setembro ou sob o impacto da pandemia de covid, mas nesse ciclo “foi a decisão de um único cara” que provocou a derrocada.

Ele também não gostou de ver Trump jogando golfe, na última sexta-feira, enquanto o mundo desabava. “Na minha cabeça, Donald Trump acabou de me custar 20 milhões de dólares. Talvez não devesse estar no campo de golfe. Porque eu estou encolhido na cama, suando”.

“Por que estamos todos perdendo? Por que estamos todos no negativo? Por que eu estou pobre?”, perguntou, retoricamente, o streamer de videogames Adin Ross. Quando entrevistou Trump, durante a campanha, presenteou-o com um Cyrbertruck personalizado da Testa e um Rolex. Antes da recuperação, sofreu perdas na casa dos sete dígitos.

Continua após a publicidade

ARGUMENTOS RACIONAIS

Num editorial que marcou uma mudança de ventos, o New York Post, jornal mais inclinado à direita, apelou a argumentos racionais: “Comece a fazer acordos comerciais, senhor presidente, e acabe com o derretimento decorrente das tarifas”.

“Trump vê as tarifas como uma forma de fazer dinheiro tanto quanto um instrumento para reparar desequilíbrios comerciais. O dinheiro poderia ser usado para pagar a dívida, promete ele e até (improvavelmente) para substituir o imposto de renda”.

“Mas a economia global não pode ser mudada em um dia”.

“A transferência para o exterior da indústria manufatureira americana aconteceu ao longo de décadas e mesmo que as tarifas tenham o efeito desejado, demorará anos para que a produção doméstica seja retomada”.

Continua após a publicidade

Se começar a negociar acordos comerciais, “o benefício mais imediato será dar o que Wall Street mais deseja – especificidade e clareza”.

Teria Trump dado ouvidos aos apelos partidos de seu próprio espectro político? Seria a suspensão por noventa dias, no patamar geral de 10%, com exceção da China, um movimento bem planejado desde o início ou uma reação ao que caminhava para ser um derretimento geral dos mercados?

GARANTIA PERDIDA

Setores da direita estão perplexos com muitos movimentos do presidente. Ele, por exemplo, não se comoveu com o grande apoio dos eleitores de origem cubana, de quase 70% em algumas áreas da Flórida, e mandou cancelar um tipo de visto provisório humanitário que beneficiou cem mil cubanos durante o governo Biden.

“Cada um limpa a casa como achar melhor. Não estou dizendo que é certo ou errado, mas está afetando aqueles de nós que não têm nada a ver”, disse ao jornal Nuevo Herald o jornalista Lázaro Yuri Valle, que cumpriu três anos de prisão em Cuba, por distribuir panfletos de oposição ao regime.

Continua após a publicidade

Ao todo, as autorizações humanitárias beneficiaram mais de 500 mil pessoas vindas de ditaduras de esquerda – Cuba, Venezuela e Nicarágua – e de um país falido, o Haiti.

É justo que estas pessoas tenham entrado legalmente no país e agora percam essa garantia?

“Se voltar a Cuba, terei que começar do zero”, disse um cubano que pediu para ser identificado apenas como González. “E ainda existe a depressão, depois de se acostumar com um país onde tudo é possível, voltar para um lugar onde falta até comida”.

‘FIQUEM FRIOS’

De Ben Shapiro ao anônimo cubano, a decepção foi se tornando evidente. Até o único intelectual da academia que se tornou um trumpista militante, Victor David Hansen, fez um apelo em favor de acordos comerciais, num texto cheio de cuidados. “Conseguir tarifas zero ou idênticas com uma série de parceiros comerciais seria uma espantosa conquista”, em lugar de tentar acertar tudo com uma jogada só para resolver “meio século de atoleiro tarifário, uma tarefa que perderia o apoio da opinião pública se continuar a tarifação de países que concordarem com tarifas zero ou recíprocas”. Tradução: a coisa ficou tenebrosa e Trump precisava mudar de rumo.

Continua após a publicidade

A esquerda comemorava a sova na direita e as reações críticas, abrangendo desde nomões de Wall Street ao mais modesto eleitor de Trump, sendo as palavras mais impressionantes as ditas por Bill Ackerman, um financista bilionário, sobre o “inverno nuclear econômico autoprovocados”.

Agora, todos se sentem saindo do pesadelo. O próprio Ackerman foi profético ao propor o prazo de três meses, anunciado por Trump. O embate agora focado na China não alivia muitos dos problemas econômicos, mas tira os Estados Unidos da guerra contra o mundo.

“Fiquem frios, vai dar tudo muito certo”, postou Trump antes da guinada. Ele também disse que estava na hora de comprar, com os preços das ações despencados.

Na verdade, não dá para ninguém ficar frio no momento atual. A grande recuperação das bolsas não garante o fim do ambiente de alta volatilidade. De milionários como Ben Shapiro ao mais anônimo trabalhador americano, todos agora checam sem parar o que está acontecendo com suas fortunas ou simplesmente com os fundos de aposentadoria. Cerca de 70 milhões de americanos têm planos desse tipo, chamados 401K. Sejam de direita ou de esquerda, são eles que pesam na sentença final: Trump fez uma jogada arriscadíssima, mas que vai trazer recompensas, ou simplesmente está improvisando alucinadamente?

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

ECONOMIZE ATÉ 82% OFF

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 2,99/mês

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$35,88, equivalente a R$ 2,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.