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Cunhado não é parente – e o do rei da Espanha pega pena de prisão

O lado bom é que a princesa, rompida com a família por causa do marido, foi absolvida no caso de corrupção que infernizou a monarquia espanhola

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 21h01 - Publicado em 19 fev 2017, 09h55

Pela perspectiva positiva, Cristina de Bourbon e Grécia, foi considerada apenas beneficiária de proventos advindos da corrupção. A infanta, como são chamadas na Espanha e em Portugal as princesas que não são herdeiras diretas da coroa, não havia sido incluída pela promotoria como ré, mas uma ação popular pedia sua condenação como co-participante nas lambanças do marido.

Pelo lado negativo, num futuro próximo, a princesa da família real poderá ter que ir até uma penitenciária quando quiser ver o marido e pai de seus quatro filhos, Iñaki Urdugarín, condenado a seis anos e três meses por prevaricação, desvio de fundos, fraude contra a administração pública, tráfico de influência e evasão fiscal.

O início do cumprimento da pena ainda depende de decisão sobre um eventual apelo ao Supremo Tribunal.

Para o irmão dela, o rei Felipe, o melhor é deixar para trás o escândalo chamado de caso Nóos, o elegante nome grego de um instituto criado para promover os esportes e outras causas elevadas, na prática reduzido à triste modalidade de enriquecimento ilícito.

O escândalo, na verdade, foi um dos motivos pelos quais Felipe se tornou rei antes do previsto. O outro bafafá foi causado pelo próprio pai, Juan Carlos, cuja vida dupla, com amantes e expedições de caça bancadas por xeques cheios de petrodólares, explodiu quando ele sofreu uma fratura em plena atividade.

Juan Carlos acabou percebendo, ou sendo dissuadido a perceber, que só a abdicação garantiria a coroa – simbólica, já que na prática não é mais usada – para o filho e a continuidade de uma linhagem de dez reis da Espanha antes dele.

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Apesar da longa história, e das inúmeras tragédias da família Bourbon, a monarquia espanhola contemporânea é produto de um arranjo recente. Ela foi reconstituída pelo pacto democrático instaurado depois da morte do caudilho Francisco Franco.

Juan Carlos teve um papel importante ao persuadir os generais franquistas a aceitar a saída democrática e desfrutou do prestígio advindo dessa atuação até ver que a perda de popularidade da monarquia seria letal para a instituição.

Quando assumiu como Felipe VI, o atual rei escapou de uma baixaria. Mesmo já rompida com ele, a irmã foi ao palácio de Zarzuela e exigiu assistir a cerimônia na condição de infanta. A turma do deixa disso teve que intervir, muito diplomaticamente, mantendo a princesa na ala reservada a sua mãe, a rainha Sofia.

Cristina já tinha brigado com o pai e com o irmão, acusando-os de deslealdade. A situação piorou quando Felipe assumiu o trono com um plano de obrigatória faxina ética traçado em conjunto com a mulher, a ex-jornalista Letizia.

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Felipe literalmente cassou o título de nobreza dado por Juan Carlos a Cristina e seu marido quando se casaram, o de duques de Palma de Maiorca. Com o prestígio do título, a conexão direta com a família real e seu histórico de campeão de handebol, Urdagarín associou-se a políticos e empresários para se dedicar ao conhecido circuito de concorrências públicas fraudulentas, eventos superfaturados e uso de paraísos fiscais para esconder o faturamento ilícito.

O escândalo começou a ser investigado em 2011. Pouco antes, Cristina e o marido haviam comparecido a um dos grandes acontecimentos sociais da monarquia européia, o casamento da princesa herdeira da Suécia, Victoria. Cristina usou uma tiara com oito pérolas gigantescas engastadas entre diamantes rodopiantes, emprestada pela mãe. É tão grande que foi criticada por ofuscar os adereços usados pelas outras convidadas da família real espanhola.

A tiara pertenceu originalmente a Vitória Eugenia, casada com o rei Afonso XIII. No dia do casamento da neta da rainha Vitória, em 1906, um anarquista catalão jogou uma bomba escondida num buquê de flores, matando trinta pessoas. O vestido de noiva da princesa britânica ficou coberto de sangue.

À luz do passado, talvez visitar o marido na cadeia não seja o pior que pode acontecer a membros da realeza espanholam, mesmo para Cristina, que se considera vítima de conspirações e traições. “Nasci infanta e vou morrer infanta”, disse, segundo espalham, quando foi sugerido que renunciasse a seu lugar na linha sucessória – o sexto, depois das duas filhas de Felipe e Letizia, e do grupo da irmã mais velha, Helena.

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“Eles não aprenderam nada e não esqueceram nada”, disse Talleyrand, o ardiloso estadista, sobre os Bourbons franceses, o tronco do qual saiu o ramo espanhol, quando a monarquia foi fugazmente restaurada na França. Talvez seja este o lema da princesa espanhola que enfrentou juízes e câmeras com expressão altiva, como se estivesse fazendo uma concessão.

Cristina só mantém contato próximo com a mãe, hoje separada do marido infiel e aparentemente satisfeita por não precisar mais fingir que dividia o mesmo palácio com ele. A irmã Helena, só encontra, muito discretamente, em datas como o Natal, sob os auspícios de Sofia.

Desde antes do escândalo, todas tratavam a plebeia Letizia com restrições. Como rainha consorte e mais firme parceira do rei no projeto de reposicionamento da monarquia no mercado da opinião pública, Letizia não deve ficar muito triste com o banimento da cunhada esnobe.

Segundo o jornal El País, depois de morar em Washington e Genebra numa espécie de exílio proporcionado por empregadores generosos, enquanto o escândalo rolava, Cristina deverá enfrentar a próxima e dolorosa fase em Lisboa, onde seu pai foi criado.

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Com Felipe, a monarquia espanhola recuperou algum prestígio, mas está longe de uma performance brilhante. Uma pesquisa do ano passado dá uma nota média de 4,4 à instituição. Felipe tem 52,8% de aprovação (Letizia, 44,3% e Juan Carlos, mantido em silêncio obsequioso, 30,9%).

Talvez conte a favor da monarquia o panorama desanimador da política, em que impasses entre partidos fragmentados mantiveram o país em clima de instabilidade. Relativa, evidentemente.

Comparada a vizinhos europeus mergulhados na era da instabilidade, a Espanha parece uma fortaleza. Mariano Rajoy, o pouco simpático e teimoso primeiro-ministro, conseguiu uma estabilização econômica consistente, embora pálida, e uma sobrevida quase milagrosa, à base da exaustão dos adversários – e do país.

Ter um chefe de estado que paira acima do mundo fragmentado da política e procura colaborar para um consenso, dentro dos estreitos atributos do monarca, pode ser positivo em momentos assim. Que este chefe de estado seja um rei tão preocupado com a faxina ética da monarquia a ponto de romper com a própria irmã acaba sendo um ponto a mais para a o sistema.

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