Conversa de um torturador russo com sua mãe: “Gosto muito disso”
Assim um soldado de apenas 20 anos resumiu o que fazia e testemunhava nas sessões de tortura de ucranianos em localidades ocupadas

Não leia esse texto se for uma pessoa muito sensível aos horrores que seres humanos podem cometer contra seus iguais.
Escrevê-lo não é fácil, mas a situação que apresenta talvez seja um dos retratos mais diretos do que a guerra faz com muitas pessoas: transforma-as em monstros.
Mesmo que seja apenas um soldado sem nenhuma importância hierárquica e até um papel de mero coadjuvante como Konstantin Soloviov, um russo de 20 anos gravado pelo serviço de inteligência da Ucrânia em conversa com sua mãe, Tatiana.
Obviamente, a intenção é desmoralizar o inimigo. Mas a íntegra da conversa, de nove minutos, foi divulgada para provar sua veracidade, juntamente com fotos tiradas de perfis em redes sociais – agora apagados.
É difícil dizer o que é mais terrível: a banalidade com que o soldado faz os relatos ou a indiferença da mãe, só quebrada quando fala impropérios contra os ucranianos.
“Eu gosto disso, sei lá”, diz Konstantin quando a mãe pergunta se ele se sentia bem participando das torturas.
“Se eu estivesse aí, faria a mesma coisa. Somos iguais”, incentiva Tatiana.
“Já não sinto mais remorso, depois de vinte (mortos), deixei de sentir qualquer coisa”, diz ele em outro trecho.
A certa altura, ele pergunta se a mãe sabe o que são “as rosas”. E explica:
“No corpo humano, podem ser feitas 21 ‘rosas’, em todos os dedos e no pênis, desculpe”.
“Já viu uma rosa, sabe como florescem?”.
“Então, a pele é cortada ao longo dos ossos. Em todos os dedos e ‘lá embaixo’. É isso que significam as 21 rosas no corpo de um homem”.
“Sabe que outro método de tortura vimos?”.
A mãe argumenta que são “os rapazes da FSB” que comandam a tortura. Konstantin concorda: ele apenas traz e tira as vítimas, mas conta que “enquanto esperávamos, nós batíamos neles, arrebentávamos as pernas para que não fugissem”.
Também usavam o “tranquilizante”, uma pancada de cassetete na boca quando “eles ficam loucos e começam a gritar”. Um preso de quem Konstantin já havia quebrado as pernas fez isso. “Cada um dos nossos vai levar dois dos seus”, desafiou. “Não tenho medo de morrer”. O soldado russo usou o “tranquilizante”. Logo depois o preso morreu. É nesse trecho que a mãe de Konstantin usa palavrões para se referir aos ucranianos.
O “outro método” mencionado por ele é chamado de “cano”, como numa arma: um tubo é inserido no ânus do torturado e, dentro dele, vai um pedaço de arame farpado. O tubo é retirado e o arame começa a ser puxado bem devagar.
“Dizem que usamos este método do arame farpado desde a Chechênia”.
É isso que a guerra em que métodos de tortura são ensinados desde cima faz com as pessoas. É isso que o exército de Vladimir Putin está fazendo. Barbáries assim estão acontecendo nesse momento. E talvez mães e filhos estejam conversando tranquilamente sobre elas.
“Eu era um cara bom. Quero contar tudo, quero que você saiba tudo, o que mudou dentro de mim”, diz Konstantin no fim da conversa.
“Tudo bem, garotão. Até mais”.
“Até mais”.