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Como convencer presidente a cair fora? O precedente de Richard Nixon

É fácil: líderes do próprio partido têm que entender o tamanho do prejuízo e avisar o envolvido de que não dá mais para continuar

Por Vilma Gryzinski 8 jul 2024, 06h48

Em 6 de agosto de 1964, o senador republicano Barry Goldwater, geralmente à direita de Gêngis Khan, anunciou a colegas num almoço que o destino de Richard Nixon estava selado. Usou termos comuns na política da época: “Existe um limite de mentiras que podemos assimilar e agora já deu. Nixon tem que tirar a ***** da Casa Branca – hoje!”.

No dia seguinte, Goldwater e mais um grupo de senadores estavam na Casa Branca para transmitir o recado, em termos menos crus: Nixon tinha apenas o apoio de doze a quinze integrantes do Senado depois da sequência de mentiras, armações e obstrução criminosa que cercou a revelação do excepcionalmente cretino arrombamento do comitê do Partido Democrata para instalar escuta clandestina. O comitê ficava num conjunto de prédios chamado Watergate e todo mundo sabe o que veio depois.

Em 8 de agosto, Richard Nixon, que originalmente ignorava o plano tabajara de instalar microfones secretos na central do adversário, renunciou.

Quando os senadores que levaram a sentença fatal saíram, ele bebeu bastante, ao contrário de seus hábitos. Pediu a Henry Kissinger, o chefe da política externa que estava na prática sendo uma espécie de co-presidente, que se ajoelhasse e rezasse com ele. O judeu não religioso Kissinger aquiesceu.

“SÓ MEU CÉREBRO”

No discurso à nação, lido com nervosismo, Nixon havia dito: “Nos dois últimos dias, ficou evidente para mim que não tenho mais uma base política forte o bastante no Congresso”.

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Quem vai fazer a mesma coisa para Joe Biden é a grande pergunta que mantém os Estados Unidos em estado de transe. Quem vai dizer “acabou, chega, hora de ir embora”?

O presidente está resistindo, e assim aumenta o caráter além de patético da coisa toda. Numa reunião com governadores democratas na quinta-feira passada, disse que estava bem de saúde, acrescentando: ”É só o meu cérebro”. Também comentou que a partir das 8 horas da noite não trabalharia mais para ficar repousado.

Fontes da Casa Branca haviam dito que ele “funciona” bem das 10 da manhã às 4 da tarde, como se isso bastasse para o líder da maior potência mundial e responsável por acionar a sequência de procedimentos que, numa situação apocalíptica de sobrevivência para o país, redundaria no disparo de mísseis nucleares.

Entre outros recursos que beiram a alucinação, o filho de Biden, Hunter, passou a acompanhar o pai em reuniões na Casa Branca. Ele não tem mandato nenhum – nem reputação ilibada. Recém-condenado por mentir que não usava drogas no formulário da compra de uma arma, Hunter foi viciado em crack, teve um caso com a viúva do irmão morto de câncer, só pagou na justiça a pensão para uma filha não contabilizada e comprometeu seriamente a reputação do pai – mesmo que com a anuência deste – para fazer tráfico de influência quando ele era vice-presidente.

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O que sente um americano, mesmo que simpático aos democratas, diante desse tipo de informação?

DOIS ASSASSINATOS

Richard Nixon cavou sua própria cova, mas era um político sagaz e articulado, no pleno controle de suas capacidades, fora as escorregadas finais.

Um presidente já havia resolvido não concorrer antes da primeira eleição de Nixon: Lyndon Johnson, em 1968, em meio a circunstâncias muito mais dramáticas do que as atuais. A opinião pública se voltava contra a guerra do Vietnã e pouco depois do anúncio de que Johnson estava fora, Martin Luther King foi assassinado no fatídico 4 de abril, desencadeando protestos violentos de moradores negros em 110 cidades do país, com 43 mortos e mais três mil feridos.

Apenas dois meses depois, em 6 de junho, o senador Bobby Kennedy tombou pelas balas disparadas pelo palestino Sirhan Bishara Sirhan quando, depois de um evento de campanha, passava pela cozinha de um hotel em Los Angeles, um trajeto considerado mais seguro. Bobby via a chance disputar a candidatura pelo Partido Democrata depois da desistência de Lyndon Johnson, o vice levado à Casa Branca em razão do assassinato de seu irmão, John Kennedy.

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Imaginem a situação altamente inflamável nos Estados Unidos na época. Atualmente, não há protestos em massa no país, a economia vai relativamente bem, nenhum americano está morrendo em guerras externas – aliás, nem participando – e não há episódios de extrema dramaticidade como os dois assassinatos políticos de 1968.

“NÃO SOU ESCROQUE”

O anúncio de Lyndon Johnson foi um choque: ao contrário da imagem de fera direitista criada pela guerra do Vietnã, ele havia aprovado o mais amplo projeto de benefícios sociais da história americana e desejava ser consagrado no mesmo panteão que Franklin Roosevelt e seu New Deal.

Também havia mandado parar todos os bombardeios no Vietnã do Norte e iniciado negociações de paz. Talvez mais importante do que tudo, implantou as garantias ao direito de voto da população negra nos estados ainda segregados do sul.

O candidato democrata acabou sendo Hubert Humphrey, vice de Johnson. Como se diz nos Estados Unidos, ele não era “material presidencial”. Já tinha sido derrotado na disputa pela candidatura democrata em 1960 por John Kennedy e todos os seus trunfos: o glamour do clã, a beleza e a elegância de Jacqueline e Frank Sinatra cantando seu jingle de campanha.

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Na segunda disputa presidencial, perdeu a Casa Branca, por muito pouco, para Richard Nixon.

O de forma geral decente Hubert Humphrey, ou tão decente quanto é possível na política, dificilmente se enrascaria num escândalo como o de Watergate e é impossível imaginá-lo dizendo. à nação, como Nixon: “Ganhei tudo o que tenho, nunca tirei proveito do serviço público. Nunca obstruí a justiça. Eu não sou escroque”.

LUGAR DE HONRA

Para os democratas, a crise de Biden é urgente: precisam interromper o crescimento de Donald Trump – seis pontos, na maioria das pesquisas – e salvar a própria pele nas eleições legislativas.

Como Lyndon Johnson, e como todo presidente, Joe Biden queria um lugar de honra na história e seus assessores, tolamente, o cercaram de historiadores logo no começo do mandato. Em vez da glória, testemunharam a derrocada.

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“Não é preciso ter participado de reuniões do Gabinete Oval com Joe Biden para reconhecer que houve uma desacelerada nos últimos dois anos. Existe uma diferença visível”, disse um deles, Douglas Brinkley, ao New York Times – um dos mais importantes meios de comunicação envolvidos no acobertamento do declínio mental do presidente.

Tradução: a solução à Richard Nixon tem que vir logo. A cúpula democrata sabe disso. E sabe que tem que driblar a posição de Lady Macbiden, como a primeira-dama Jill está sendo chamada, referência à shakespeariana Macbeth.

“MULHER NEGRA”

Não tem esposa protetora ou ambiciosa que possa ficar no caminho da, literalmente, salvação da pátria. O primeiro passo para isso já foi dado pelo senador Mark Warner, em contatos com colegas democratas para ter “aquela” conversa com Biden.

Cinco democratas já se manifestaram pela desistência, mas os peixes graúdos estão calados em público – e operando furiosamente a portas fechadas. Estão pedindo o “caia fora”, segundo o Times e o Wall Street Journal: Jerry Nadler, Joe Morelle, Adam Smith, Jim Himes e Mark Takano, todos ocupando a principal posição reservada à oposição democrata em comissões importantes, como Justiça, Forças Armadas e Serviços de Inteligência.

“Se o Senhor Todo Poderoso descer e me disser para fazer isso, pode ser que faça”, foi uma das estranhas coisas ditas, na primeira entrevista pós-debate, por um Biden pesadamente maquiado para simular saúde – igualzinho a Trump – sobre desistir voluntariamente.

Em outra entrevista, chamou a si mesmo de “primeira mulher negra”, confundindo-se com sua vice, Kamala Harris. Também prometeu derrotar Trump em 2020. E começa a circular a palavra Parkinson, especialidade de um neurologista que teve um encontro com médicos da Casa Branca. O andar arrastado e os momentos em que parece “congelar” são característicos da doença.

“Aquela” conversa terá que ser dura.

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