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Celebridades em clima de guerra: até a rainha Rania entra na briga

Atores e outros famosos são na maioria da linha contra Israel e sabem pouco sobre assunto, ao contrário da rainha jordaniana, que é palestina

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 10 Maio 2024, 08h20 - Publicado em 26 out 2023, 08h11
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  • “Acordei liberal em 7 de outubro e fui dormir conservador”. Essa frase, reproduzida pela jornalista americana Bari Weiss, sintetiza o estado de espírito de muitos judeus americanos diante das atrocidades cometidas pelo Hamas em território israelense: simpatizantes e militantes tradicionais da esquerda, descobriram que só existe empatia pelas vítimas do lado da direita — e mesmo assim, nem toda ela.

    Em todo o mundo, a enorme crise desencadeada quando o Hamas conseguiu se infiltrar em Israel e chacinar 1 400 pessoas está provocando exatamente o mesmo tipo de debate: a esquerda, também chamada de progressista, tem horror a Israel, culpa o país por tudo de ruim que acontece e quer que cesse operações imediatamente em Gaza, deixando passar em branco a agressão hedionda que o país sofreu. Do centro para a direita, há mais simpatia por Israel — ou pelo menos repúdio ao Hamas.

    Celebridades que se alinham com a esquerda se posicionam a partir do campo da superioridade moral. “Mais de cinco mil pessoas foram mortas na última semana e meia, um número que qualquer pessoa de consciência sabe que é catastrófico”, escreveram no “manifesto dos artistas”, entre outros, Cate Blanchet, Jessica Chastain, Joaquin Phoenix e Susan Sarandon, na sexta-feira passada.

    “Pedimos que, como presidente dos Estados Unidos, uma desescalada imediata e um cessar-fogo em Gaza e Israel sem que nem uma única vida mais seja perdida”.

    O cessar-fogo beneficiaria, obviamente, o Hamas, que continuaria livre para se rearmar, rearticular e continuar a operar exatamente como antes.

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    É possível conciliar isso com a ideia de que as atrocidades precisam ser punidas, com o mínimo de dano a uma população civil que vive sobre a rede subterrânea escavada pelo grupo terrorista? O governo americano tenta conduzir a saída menos ruim possível, numa situação em que as opções são todas péssimas — sendo que a pior seria a inimputabilidade do Hamas.

    São questões complexas, com múltiplas causas históricas, avançando para um passado de milênios no caso dos judeus, num lugar em que se superpõem reivindicações territoriais e nacionais legítimas de ambos os lados, muitas vezes conspurcadas pela ilegitimidade dos métodos.

    É aconselhável levar tudo isso em conta e não sair falando absurdos como a estilista inglesa Alice Temperley. Baseando suas opiniões num documentário, ela escreveu no X que “o Ocidente ajudou a criar o Hamas com décadas de tormento e devastação em Gaza”. Ou seja, a culpa é do “Ocidente”. E, claro, nenhuma menção ao fato de que Israel devolveu Gaza aos palestinos em 2005, com colonos judeus sendo retirados pelo Exército, em lágrimas — às vezes dos dois lados. São questões mais complicadas do que fazer vestidos bonitos.

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    Ou mesmo viver no topo do mundo de Hollywood, como a empresária Maha Dakhil, representante de nomes como Tom Cruise e Reese Witherspoon, que pediu desculpas por repassar um post falando em “genocídio” em Gaza. Não bastou para evitar a perda de várias posições na maior agência do mundo, a CAA.

    Maha é filha de líbios e não é inesperado que penda para o lado dos palestinos, por uma espécie de solidariedade tribal — assim nós, humanos, funcionamos.

    Maior ainda é a ligação de Rania, filha de palestinos nascida no Kuwait e casada com o rei da Jordânia, Abdullah. Rania fez uma entrevista explosiva com a veterana Christiane Amanpour, da CNN. Exatamente como os israelenses, que denunciam uma simpatia muito maior pelo sofrimento em Gaza nos grandes meios de comunicação, Rania trocou o sinal e acusou a imprensa ocidental de usar um critério de dois pesos e duas medidas. É uma história que remonta a 75 anos de “sofrimento e deslocamento” para os palestinos.

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    Daí, a rainha denunciou a “hiperfixação no Hamas por causa de tudo o que aconteceu nas últimas semanas”.

    O que ela esperaria? Que as atrocidades fossem relevadas ou atribuídas a algum agente inominado?

    Rania tem razão quando diz que os problemas precedem o Hamas e vão continuar depois dele. Mas em que um ato deliberado para torturar, mutilar e matar civis avança a causa?

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    A rainha, um título inventado para emular os ex-dominadores britânicos, pois não existe no mundo árabe, também deve saber muito bem que ela e o marido seriam varridos do mapa se o islamismo fundamentalista como o vigente em Gaza tomasse o poder na Jordânia, como ameaçou fazer durante a Primavera Árabe.

    A crise atual é diferente das que a antecederam, quando Israel bombardeava Gaza depois de sofrer ataques com foguetes, eventualmente fazia incursões terrestres e, finalmente, sob pressão mundial, cedia à intervenção dos Estados Unidos, negociando um cessar-fogo. Esse roteiro foi para o lixo em 7 de outubro.

    Por causa de sua gravidade, tem que ser tratada com muita responsabilidade. Pela rainha, pela estilista, pelos artistas e por todos que assumem o ônus, não só o bônus, de tomar posições públicas.

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