Cada vez mais sozinho: todo mundo está pulando fora do barco de Biden
Uma pesquisa estarrecedora mostra que 75% dos democratas não querem saber dele como candidato à reeleição - e rivais no Partido Democrata mobilizam a tropa
Daria pena de Joe Biden se tantos dos problemas enfrentados pelos Estados Unidos não levassem sua assinatura. Aos 79 anos, saindo de uma Covid e cheio de “crises que não esperávamos”, na ingênua definição de sua mulher, Jill – como se ser presidente da maior potência do planeta não implicasse exatamente em resolver pepinos inesperados – , ele está numa derrocada só.
Com os preços subindo, o Fed tardiamente despertado para o problema (segundo aumento de 0,75% na taxa de juros, o que detona os países menos privilegiados, inclusive o nosso, mas está longe de resolver o problema deles) e a perspectiva da recessão rondando, o presidente perde apoio de seu eleitorado tradicional.
Por enquanto, ele ainda tem a aprovação dos eleitores democratas em matéria de política econômica – 58% (somando as outras tendências, a aprovação total dá pálidos 30%).
Mas nada menos que 75% desses eleitores não querem que ele se candidate à reeleição em 2024. Na faixa dos jovens abaixo de 30 anos, a rejeição chega a 94%.
É como seu eleitorado estivesse dizendo: vamos continuar do seu lado até o fim do mandato, pelo menos se as coisas não piorarem muito, mas depois, bye, bye.
A perspectiva de uma nova candidatura Biden, e de uma derrocada nas urnas, também está assustando a mídia que tradicionalmente apoia o Partido Democrata.
As reportagens focadas no peso da idade do presidente já viraram lugar comum em jornais e canais de televisão que o apoiaram tanto, tendo como objetivo máximo impedir a reeleição de Donald Trump. New York Times, Washington Post, CNBC, todos já ensaiaram pular fora do barco de Biden.
O historiador Tevi Troy escreveu no Washington Times que a onda de reportagens questionando “a liderança, a idade e a capacidade cognitiva” de Biden alimenta uma espécie de “primária das sombras”: políticos democratas que já estão medindo forças – e doações – para montar uma campanha presidencial.
O nome mais óbvio é o da vice-presidente Kamala Harris. A ex-promotora e ex-senadora, com tantos pontos positivos a favor, inclusive os 57 anos, a beleza e o sorriso carismático, revelou-se um fiasco no cargo. Tem 39% de aprovação, contra 53% de opiniões desfavoráveis, uma tristeza.
Isso não a impede de sondar as águas. Teve encontros recentes com duas multimilionárias simpatizantes do Partido Democrata, Vanessa Getty, da família de legendária fortuna, e Laurene Powell Jobs, viúva do criador da Apple.
Kamala não pode romper com Biden e assumir uma candidatura rival, sob a pena de parecer uma traidora, mas pode contar com a possibilidade de que o presidente seja dissuadido de tentar a reeleição.
Outro aspirante é o governador da Califórnia, Gavin Newson, que tem a força do maior estado americano, estampa de candidato presidencial de filme de Hollywood e impecáveis credenciais progressistas.
Em New Hampshire, um estado pequeno que se torna importante politicamente quando começa o ciclo das eleições primárias, o secretário dos Transportes, Pete Buttigieg, hoje teria mais votos do que Biden.
Imaginem o que é ser superado por seu próprio secretário dos Transportes, um ministério não exatamente decisivo.
Alguns analistas, desanimados com a perspectiva de um novo embate entre os quase octogenários Biden e Trump, chegam a sonhar com uma disputa entre Newson e Ron DeSantis, o governador da Flórida, pela pureza ideológica de cada um deles, em seus respectivos campos, e também pela renovação que trariam.
DeSantis tem apenas 43 anos e pode esperar para tentar a presidência mais adiante, mas está vendo os números que o favorecem. Embora Trump continue o amplo favorito das bases republicanas, pesquisas recentes, como uma no estado de Michigan, o colocam quase empatado com o ex-presidente: 45% a 42%.
Trump também está enfrentando, à sua maneira, o mesmo fenômeno que Biden: a perda de apoio entre colunas que pareciam inabaláveis, como a Fox News e o jornal New York Post – não por acaso, ambos pertencentes a Rupert Murdoch.
Um recente editorial do Post foi arrasador: disse que ficou demonstrado que Trump “não ergueu um dedo para acabar com a violência” na invasão do Capitólio em 6 de janeiro do ano passado.
“Cabe ao Departamento da Justiça decidir se foi um crime. Mas por questão de princípio, por questão de caráter, Trump demonstrou que não é digno de ser chefe do Executivo desse país de novo”.
Imaginem um país em que os dois candidatos mais prováveis à presidência são rejeitados por uma parcela do eleitorado…
Os Estados Unidos ainda não chegaram ao “nem Biden, nem Trump”, mas estão chegando perto.