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Briga da vacina: em cena, Kanye West, Eric Clapton, Neil Young

Artistas tomam partido sobre vacinação - e provocam um bafafá tremendo que envolve o Spotify e o rei dos podcasts, o provocador Joe Rogan

Por Vilma Gryzinski 31 jan 2022, 07h42

Quem ouve música hoje praticamente tem que ser assinante do Spotify e, nem se quiser, conseguirá ficar fora da “guerra da vacina” que acometeu o serviço de streaming.

A briga envolve veteranos como Neil Young e Joni Mitchell que se insurgiram contra o Spotify por causa dos podcasts de Joe Rogan, o campeoníssimo da categoria nos Estados Unidos.

Rogan, com um passado movimentado de comediante e comentarista de lutas marciais, é um fenômeno, com uma audiência de 11 milhões de pessoas por episódio. Foi de mais de 100 milhões de dólares a venda do Joe Rogan Experience para o Spotify, uma empresa criada por dois suecos que é execrada como exploradora dos artistas – chega a pagar apenas 0,000029 centavos de dólar por música executada – e irresistível pelas facilidades que oferece.

Rogan não ganhou tantos fãs por falar pouco – cada podcast pode ter três horas – nem deixar de colocar os brações tatuados em tudo que é assunto efervescente. Com sua voz poderosa, contou que tomou ivermectina quando teve Covid. Também entrevistou um dos maiores conspiracionistas do movimento antivacinação, o virologista Robert Malone.

Com toda sua qualificação técnica, inclusive um papel pioneiro em pesquisas sobre vacinas com RNA mensageiro, Malone difunde que governantes de múltiplos países hipnotizaram suas populações para induzi-las a uma psicose coletiva em relação ao coronavírus.

Foi por causa dessa entrevista que Neil Young desafiou: o Spotify teria que escolher entre ter sua músicas no catálogo ou continuar com o programa de Joe Rogan, acusando-o de disseminar mentiras que podem causar mortes. O Spotify ficou com Rogan, claro. O roqueiro canadense não passa nem longe em matéria de audiência.

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Outra veterana, Joni Mitchell, também tirou suas músicas do streaming. Dave Grohl, do Foo Fighters, ameaçou bater em retirada.

O episódio Rogan, que ainda terá outros desdobramentos, acirrou a “guerra da vacina” no mundo artístico.

Em qualquer lugar e sobre qualquer assunto, a opinião de artistas tem um peso muito grande pelo lugar privilegiado que ocupam na atenção de seus admiradores. Muitos, evidentemente, querem se identificar com as causas da moda para ganhar pontos e, de modo geral, lacrar. Outros fazem o contrário: cultivam dissidências mesmo quando seria mais conveniente ficar em silêncio.

Eric Clapton já saiu com o prestígio chamuscado por se colocar na trincheira antivacinação, embora tenha assumido que já estava na aposentadoria e não tinha nada a perder quando resolveu entrar na briga por causa de reações sofridas depois de duas doses de vacina. (“Onde foram parar todos os rebeldes?”, pergunta num dueto com Van Morrison, num rock das antigas onde mostra que ainda tem o que oferecer quando toca a guitarra legendária).

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Kanye West, uma fonte constante de todo tipo de maluquice mesmo na era pré-pandemia, foi provocar justamente o governo da Austrália, louco para encontrar um novo Novak Djokovic, ao declarar que pretendia fazer um tour no país.

Kanye, que mudou o nome oficialmente para Ye, disse recentemente que tomou a primeira dose da vacina. Depois, passou a compará-la com a “marca da besta” – o sinal dos seguidores do mal segundo previsões apocalípticas.

O rapper mais rico do mundo, com uma fortuna calculada em 6,6 bilhões de dólares, contou que usou um estratagema para ir à temporada de desfiles de moda em Paris, acompanhado da nova namorada/marqueteira, Julia Fox, sem o certificado de vacinação completa, fazendo uma escala em Lisboa.

Kid Rock radicalizou: disse que não vai se apresentar em nenhum lugar que exija prova de vacinação ou outros protocolos. Aliás, já cancelou um show no Canadá, país de sua ex, Pamela Anderson, por causa disso. Nome da turnê: Bad Reputation Tour.

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O roqueiro, um dos raros trumpistas assumidos no mundo artístico, tem pouco a perder: seus fãs sabem exatamente como ele pensa há muito tempo.

A situação do Spotify é mais complexa. A empresa tem ações na bolsa  e investidores detestam polêmicas, ainda mais uma envolvendo um assunto tão existencial como a vacinação. As ações já perderam quase 25% do valor este ano, num movimento iniciado antes da “guerra da vacina”.

Para Rogan, ao contrário, quanto mais barulho, melhor. Ele vive disso e tem um público fiel, principalmente entre homens jovens que se sentem excluídos das múltiplas categorias identitárias. 

“Já removemos mais de 20 mil podcasts relacionados à Covid desde o início da pandemia”, disse a Spotify depois da ruptura com Neil Young. Ontem, o CEO e fundador Daniel Ek, disse que “ficou claro para mim que temos a obrigação de fazer mais para oferecer equilíbrio e acesso à informação amplamente aceita das comunidades médica e científica que nos guiam nesses tempos sem precedentes”.

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A perda de valor de mercado da empresa é calculada entre 2 e 4 bilhões de dólares. Conseguirá reverter a maré?

A Apple Music e a Amazon estão na maior expectativa para ver o que vai sobrar para elas.

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