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Assassinos à solta: o que matou Bob Kennedy e o que baleou Reagan

Decisões da justiça beneficiam autores de dois dos atentados mais famosos da história americana, num reflexo de novos tempos

Por Vilma Gryzinski 30 set 2021, 07h32

John Hinckley Jr parece um americano de meia idade comum: está acima do peso, usa roupas folgadas e não tira o boné da cabeça. Acha que tem uma chance de sucesso gravando músicas no YouTube. Título de uma delas: Majesty of Love, ou Majestade do Amor.

Só os olhos muito azuis de vez em quando exibem lampejos do Hinckley de vinte e poucos anos, que fotografou a si mesmo com a expressão alucinada típica de assassinos seriais e uma arma apontada para a própria cabeça.

Alguns poucos centímetros impediram que ele se tornasse o assassino de três pessoas que alvejou na saída dos fundos do Hilton de Washington em 30 de março de 1981, em cenas dramáticas captadas por um pouco conhecido fotógrafo brasileiro chamado Sebastião Salgado.

O alvo era Ronald Reagan, que chegou ao hospital com um pulmão perfurado por uma das  seis balas calibre 22 disparadas por Hinckley contra ele em apenas um segundo e sete décimos. O presidente perdeu metade do volume de sangue e esteve muito mais perto da morte do que seus médicos admitiram no momento.

Famosamente, brincou com a equipe médica que iria operá-lo: “Espero que sejam todos republicanos”.

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“Senhor presidente, hoje somos todos republicanos”, respondeu o cirurgião Joseph Giordano, que era democrata.

A classe e os gracejos de Reagan conquistaram, pelo menos temporariamente, até corações oposicionista mas empedernidos.

O secretário de Comunicação, James Brady, não teve chance de fazer piada nenhuma. Com uma bala que entrou pela cavidade ocular e se alojou na cabeça, ele sofreu graves sequelas neurológicas e passou o resto da vida numa cadeira de rodas. Sua morte, 33 anos depois do atentado, foi considerada homicídio, mas Hinckley nunca foi julgado por ela.

Com uma coleção de distúrbios mentais, incluindo transtorno de personalidade esquizotípica e erotomania – obcecado pela atriz Jodie Foster, achava que matar Reagan era o tipo de atitude que chamaria sua atenção -, ele foi considerado incapaz e internado num hospital psiquiátrico.

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Quando saiu em liberdade condicional, em 2016, foi considerado curado, embora continuasse sob acompanhamento. Agora, uma decisão judicial lhe dará liberdade plena.

O jornal Washington Post fez uma reportagem notando que Hinckley é uma exceção no longo histórico de americanos que assassinaram ou tentaram assassinar presidentes.

O mais notório de todos eles, Harvey Lee Oswald, foi morto dois dias depois de assassinar o presidente John Kennedy por Jack Ruby, empresário do ramo de entretenimento noturno. A combinação da morte do presidente e de seu assassino, ambos em circunstâncias que desafiam a credulidade, se tornou o maior foco de teorias conspiratórias da história americana.

Muito menos discutível foi o assassinato, cinco anos depois, do irmão do presidente, Bobby Kennedy.

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Dezenas de testemunhas cercavam o jovem, belo e eloquente pré-candidato a presidente – capaz de improvisar discursos mencionando “meu poeta favorito, Ésquilo”, num sinal de erudição que hoje seria impensável – quando Sirhan Bishara Sirhan, um palestino de nacionalidade jordaniana, o atingiu com três balas de um revólver também calibre 22.

Um dos tiros foi dado praticamente a queima-roupa, entrando por trás do ouvido direito e se alojando no cérebro. Bobby Kennedy morreu 26 horas depois.

Sirhan, que assumiu o crime e deu como motivo o apoio precoce do jovem Kennedy a Israel. “Robert F. Kennedy tem que ser assassinado antes de 5 de junho de 1968”, anotou em seu diário, referindo-se ao primeiro aniversário da Guerra dos Seis Dias.

Na cadeia, como se sabe, todos viram inocentes. Com o passar do tempo, Sirhan tentou explorar  os loucos por uma conspiração. Acabou atraindo a atenção do filho mais velho do senador assassinado, Robert Kennedy Jr, que também é um dos mais conhecidos defensores do movimento anti-vacinação.

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Kennedy Jr acredita que não foi Sirhan quem disparou as balas que mataram seu pai  num corredor da cozinha do hotel Ambassador em Los Angeles. Chegou a visitá-lo na cadeia e saiu mais convencido ainda de sua maluquice.

Sirhan acaba de ser beneficiado pela liberdade vigiada. É a segunda vez que a justiça o favorece. Da primeira, a pena de morte foi comutada para prisão perpétua em razão de uma decisão do superior tribunal da Califórnia sobre este tipo de sentença em geral.

Sirhan Sirhan, o assassino de nome duplo, está com 77 anos. Disse que faz aulas de Tai Chi e de administração de temperamento explosivo para impressionar a junta que aprova os pedidos de progressão de pena.

Sobre os outros autores de magnicídios, em tempos de justiça menos condescendente, os desenlaces foram rápidos e brutais. John Wilkes Booth, o belo ator que matou Abraham Lincoln para vingar a causa perdida do Sul escravagista, foi queimado vivo um estábulo incendiado por tropas unionistas onze dias depois de escapar com uma perna quebrada do teatro onde havia disparado contra o presidente.

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Quatro integrantes da conspiração confederada foram condenados à morte por um tribunal militar e enforcados, incluindo Mary Surratt, dona da pensão onde eles se reuniam – a primeira mulher executada pelo governo federal.

Charles Guiteau, um advogado aparentemente mitômano – nem pensar que na época isso fosse levado em consideração – que matou o presidente James Garfield em 2 de julho de 1881 por achar que ele não estava levando em consideração seu direito a ser nomeado embaixador, foi enforcado cinco meses depois.

O anarquista de nome impronunciável, Leon Czolgosz, que matou o presidente William McKinley em 1901, foi para a cadeira elétrica 45 dias depois do crime. O corpo foi dissolvido em ácido na prisão.

Em 1933, outro anarquista, Giuseppe Zangara, foi condenado a oitenta anos de prisão – “Juiz, não seja mesquinho, me dê logo cem – pelas cinco pessoas atingidas em sua tentativa de assassinato de Franklin Roosevelt, então presidente eleito. Quando um dos baleados, o prefeito de Chicago, acabou morrendo em razão dos ferimentos, Zangara foi condenado à morte.

“Mato reis e presidentes primeiro; depois, todos os capitalistas”, proclamou o pedreiro que hoje possivelmente seria considerado apto a se reinserir na sociedade como Hinckley e Sirhan.

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