As mentiras do comando do Serviço Secreto sobre atentado contra Trump
Num momento de alta instabilidade, com um presidente periclitante, revelações sobre falhas na proteção ao ex-presidente são de arrepiar
Com um Joe Biden que saiu da disputa presidencial por incapacidade, mas continua no comando da Casa Branca, o momento é de instabilidade nos Estados Unidos. E, portanto, no mundo. Além de todas as múltiplas e continuadas mentiras sobre o estado mental do presidente — somadas as especulações frenéticas sobre seu estado de saúde atual —, agora surgem revelações sobre as tentativas da cúpula do Serviço Secreto, dirigido por Kimberly Cheatle, para acobertar as falhas na segurança de Donald Trump que abriram caminho para a bala disparada a 1 centímetro de seu crânio.
Quem faz piadinhas de que o assassino Thomas Crooks “deveria ter acertado”, punidas nos Estados Unidos com várias demissões de professores universitários e outros imorais, tolamente tentados a dizer isso em redes sociais, talvez ache até bom se houvesse americanos se matando nas ruas caso o atentado tivesse “dado certo”.
E o atentado só não “deu certo” porque Trump saiu do roteiro e virou ligeiramente a cabeça. A sua segurança era “frouxa”, segundo a palavra usada por agentes que falam anonimamente, revoltados em ver arrastado na lama o nome da reputada instituição, inspiradora de tantos filmes que ficaram na memória popular.
Foram agentes anônimos que passaram para a repórter Susan Crabtree, do RealClearPolitics, a estarrecedora informação de que seguranças aos quais competiria proteger Trump haviam sido desviados para integrar o esquema de Jill Biden, que falaria num jantar da comunidade ítalo-americana em Pittsburg, no mesmo estado da Pensilvânia, à pequena distância do local do comício do ex-presidente.
INDICAÇÃO DA PRIMEIRA-DAMA
O porta-voz do Serviço Secreto, Anthony Guglielmi, dirigiu-se diretamente à repórter para fazer o desmentido: “Susan, isso é muito errado. Não desviamos recursos. Os modelos de proteção não funcionam assim”.
Estava, comprovadamente, mentindo.
Uma semana depois, a direção da instituição foi obrigada a admitir que, efetivamente, havia rejeitado pedidos de reforço na segurança de Trump feitos ao longo de dois anos (correção: o Serviço Secreto tem 8.000 funcionários, não 6.200, como foi dito aqui).
Detalhe: a diretora Kimberly Cheatle foi nomeada por intervenção de Jill Biden, de quem havia sido guarda-costas durante o período da vice-presidência de Joe Biden. Indicação de esposa tende, de modo geral, a ser uma má ideia, ainda mais para um órgão da importância do Serviço Secreto, encarregado da segurança dos presidentes, ex-ocupantes do cargo, principais candidatos e visitantes estrangeiros.
Segundo as fontes de Susan Crabtree, que mostraram e-mails para embasar suas afirmações, Jill Biden tinha doze agentes designados para vigiar quadrantes específicos do primeiro círculo, o mais próximo dos protegidos, à exceção dos que fazem o corpo a corpo. Trump tinha três.
FATORES SINISTROS
Os e-mails davam os nomes dos agentes. Além da repórter, o senador republicano Chuck Grassley, que costuma incentivar denúncias de desvios por partes de integrantes de instituições do governo, também teve acesso a mensagens mostrando a diferença de tratamento entre a segurança da primeira-dama e a de Trump. Ele e outros republicanos querem ter acesso a todas as mensagens trocadas no dia 13 de julho e ao número completo dos agentes presentes nos respectivos eventos.
Segundo Susan Crabtree, apenas um único agente presente no comício era do grupo que faz regularmente a segurança de Trump — embora haja rodízio, o modus operandi é ter corpos fixos de guarda-costas, mais habituados às rotinas de seus protegidos.
A repórter também relata que a encarregada de coordenar todos os múltiplos envolvidos — agentes federais e estaduais da proteção presidencial, polícias estaduais e municipais — era uma agente do Serviço Secreto relativamente inexperiente, baseada em Pittsburgh.
A diretora Kimberly Cheatle se recusou repetidamente, em depoimento a uma comissão da Câmara, a dar o número de agentes presentes no comício de Trump. Ela também disse que o atirador tinha sido identificado como “suspeito”, não como “ameaça” (mesmo com pessoas do público gritando que tinha um homem no telhado e que ele estava armado).
As mentiras da direção do Serviço Secreto podem criar na opinião pública americana a impressão de que houve fatores mais sinistros envolvidos no atentado até entre os que não são adeptos das teorias conspiratórias.
“NENHUMA MALDITA COISA”
Escreveu Sean Davis em seu site, The Federalist: “Eles o chamaram de Hitler. Disseram que era uma ameaça existencial. Disseram que iria destruir a democracia. Disseram que era o homem mais perigoso da face da Terra. Daí lhe negaram a segurança. Mantiveram o telhado desimpedido. Viram o atirador e não fizeram nada. Mantiveram Trump no palanque. E não fizeram nenhuma única maldita coisa até que ele levou um tiro na cabeça”.
São palavras pesadas, embora baseadas em fatos reais. Devem ser consideradas com extrema cautela. É possível que os erros tenham sido produto de negligência e incompetência, embora ambas sejam anátema no Serviço Secreto.
As tentativas de acobertamento são mais graves ainda, por envolver vidas e a estabilidade política do país, do que a teia de mentiras tecida em torno de Joe Biden para garantir que ele estava plenamente apto a exercer a presidência e qualquer pessoa que dissesse o contrário era um perigoso trumpista merecedor de linchamento virtual.
Agora, correm versões extremas de que Biden sofreu uma emergência médica grave quando esteve em Las Vegas, na semana passada, e estaria quase morrendo antes de fazer o anúncio, pelo X, sem nenhum registro visual, da retirada da candidatura. Muitas dessas especulações desatinadas podem ser atribuídas à perda de credibilidade das autoridades.
“INCANSÁVEL E VIBRANTE”
Todos os líderes do Partido Democrata mentiram sobre Biden. A porta-voz presidencial, Karina Jean-Pierre, tão linda e enfática, mentiu — e chegou a gritar com jornalistas, repetindo um comportamento de que, ironicamente, foi alvo quando era chefe de gabinete da complicada Kamala Harris.
O chefe da equipe médica da Casa Branca, Kevin O’Connor (um médico!) mentiu. Barack Obama, o mais admirado democrata do país, aliviou para Biden em público — enquanto seus comandados o esfaqueavam com gosto em declarações pela mídia.
A própria Kamala Harris tratou o presidente como “incansável e vibrante”. A maioria dos grandes órgãos da mídia mentiu deslavadamente. Tentaram até dizer que não víamos o que nossos olhos mostravam em vídeos de um Biden lamentavelmente perdido e confuso.
Não foi um espetáculo bonito o que arrastou Biden até a desistência da candidatura. Já o atentado contra Trump ainda está sendo investigado, embora o que tenha sido visto até agora seja de arrepiar.
Num relato detalhado sobre os momentos dramáticos, feito a Jesse Waters, da Fox, Trump disse que ouviu as balas zunir (“Zip, zip”, descreveu, numa onomatopeia concisa) e se recusou a ser retirado de maca, como queriam os agentes do Serviço Secreto, que ainda não sabiam se ele tinha sido atingido em outras partes do corpo. Imaginem se tivesse sido.