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Mundialista

Por Vilma Gryzinski
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Apoio de López Obrador faz de Claudia Sheinbaum a Dilma do México

Introvertida, judia e esquerdista, ela tem o maior trunfo de todos: foi escolhida por um presidente que mantém popularidade de matar de inveja os colegas

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 28 Maio 2024, 07h54 - Publicado em 28 Maio 2024, 07h54

Filha de cientistas, formada em física e doutorada em engenharia energética, com fama de tocadora de grandes projetos, Claudia Sheinbaum Pardo não tem exatamente o perfil populista que é associado aos políticos mexicanos.

Mas tem o mais precioso ativo eleitoral do país: o apoio de Andrés Manuel López Obrador, o presidente que vai chegando ao sexto e último ano de mandato com mais de 60% de aprovação, mesmo numa situação gravíssima de segurança pública, com os infames cartéis redobrando o poder incomparável da droga.

Os mexicanos chamam o processo pelo qual o presidente incumbente – por um só mandato de seis anos – escolhe o sucessor de dedazo desde o tempo em que o Partido Revolucionário Institucional controlava a política explorando a contradição intrínseca de seu nome.

AMLO, como o presidente é universalmente chamado, acabou com essa fase e inaugurou um populismo clássico, embora cheio de originalidades e algo das ideias dos caudilhos latino-americanos de romance, como o conceito excessivamente grandioso de Quarta Transformação, como chama seu projeto.

Alguns dos motivos que o tornam imbatível: triplicou o salário mínimo e instaurou uma aposentadoria universal, entre uma grande cesta de benefícios sociais. Não há acusações graves de corrupção contra ele, ao contrário do que acontece com seus antecessores. Tem um bando de jornalistas que simplesmente se desmancham por ele, inclusive nas mañaneras, as coletivas matinais que dá todos os dias.

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UNIFORMES NEUTROS

Com tanto capital político, AMLO cultivou e conduziu a doutora Claudia, dando-lhe mais experiência de urna do que a adquirida por Dilma Rousseff no Brasil, mas com o mesmo rótulo da eficiência.

A cientista descendente de judeus da Lituânia e da Bulgária, com estudos de pós-graduação em Berkeley, foi ministra do Meio-Ambiente e chefe de governo da Cidade do México, um posto equivalente ao de governador. É uma guerreira das batalhas culturais: tirou a estátua de Cristóvão Colombo do lugar de honra na avenida Paseo de La Reforma para colocar outra no lugar, homenageando a mulher indígena. Não é a coisa mais bonita da riquíssima cultura pré-hispânica.

Também instituiu os uniformes neutros para os escolares. Como em outros países, as políticas de gênero são hoje uma das mais fortes bandeiras da esquerda. López Obrador já pediu desculpas por chamar a deputada trans María Clemente García Moreno de “homem que se veste de mulher”.

Já a deputada, que é do ramo do entretenimento sexual, não considerou ter causado ofensa nenhuma ao publicar no então Twitter a foto do pênis ereto de um cliente, acompanhada de comentários impublicáveis. “Tenho direito ao livre desenvolvimento da minha personalidade”, defendeu-se. E acrescentou que postou a foto para “ganhar mais clientes”.

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ABRAÇOS E BALAÇOS

A eleição é no próximo domingo, 2, e, segundo um levantamento feito pelo New York Times, 36 candidatos foram mortos no interior ao longo dos doze últimos meses.

A violência é atribuída ao plano das quadrilhas do crime organizado de efetivamente tomar o poder a nível dos municípios. “Institucionalmente, é o elo mais vulnerável, mais fraco, com menos recursos e menos força institucional”, disse ao jornal o pesquisador Arturo Espinosa.

Em termos gerais, o índice de homicídios por 100 mil habitantes caiu 4,18% no ano passado, mas nos últimos seis anos o número passou de 30 mil anualmente. A militarização da segurança promovida por López Obrador não teve grandes resultados e os cartéis da droga continuam a depositar corpos barbaramente mutilados de concorrentes até nos grandes centros turísticos como Cancún e Acapulco, normalmente mais protegidos para não prejudicar os negócios em um país com atrações maravilhosas

Claudia Sheinbaum e sua adversária longínqua, Xóchitl Gómez, candidata por uma bizarra coalizão de direita e esquerda, além do velho PRI, não têm grandes planos para mudar uma situação extrema que AMLO fingiu que enfrentaria com o slogan “Abraços, não balaços”.

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Sem o carisma de AMLO, a próxima presidente do México vai ter mais trabalho para fazer de conta que está resolvendo um problema que atormenta toda a América Latina.

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