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‘Agora, é guerra civil’: e tem gente que celebra reação na Bolívia

Com Evo fora e as forças de segurança nas ruas, é mais difícil que partidários do ex-presidente alimentem conflito em grande escala, apesar da torcida

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 12 nov 2019, 10h25 - Publicado em 12 nov 2019, 08h01

Alguns esclarecimentos logo de início, pois a neblina ideológica e a pressa jornalística misturam muita coisa no caldeirão dos impressionantes acontecimentos na Bolívia, onde Evo Morales renunciou num dia, anunciou a “resistência” no outro e, em seguida, acabou num avião para o México.

Detalhe: nesse golpe e não-golpe ao mesmo tempo, ele não foi preso nem levado para destino desconhecido, as tropas não saíram na rua – ao contrário, ficaram aquarteladas – e nem cercaram o Palácio Queimado, num clássico tantas vezes repetido no passado recente.

Não havia nenhuma ordem de prisão contra ele, outra mentira que circulou intensamente. Falar em “violência”, indiscriminadamente, passa outra falsa visão.

Como houve um levante popular, em grande parte pacífico, contra as falcatruas eleitorais praticadas na cara dura por Evo e companhia, dissemina-se a impressão de que ataques e incêndios foram praticados por este campo.

Errado. Grupos de manifestantes realmente queimaram casas de alguns dirigentes associados ao regime de Evo, mas as agressões em grande escala foram contra partidários dos protestos que levaram à renúncia.

A anomia criada pela renúncia em massa dos principais dirigentes políticos, fora militares e policiais que continuaram nos quartéis, propiciou atos bárbaros.

Militantes masistas, como são chamados por causa do partido, MAS – o Movimento para o Socialismo -, depredaram e incendiaram casas nos bairros mais ricos de La Paz.

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Entre outras, foram atacadas as casas do reitor da maior universidade de La Paz, Waldo Albarracín, e da jornalista Casimira Lema, apresentadora do Canal Universitário.

Ambos, obviamente, tinham tido atuação forte nos protestos contra a fraude escandalosa com que Evo pretendia consolidar sua perpetuação no poder.

Aconteceram outras atrocidades, resumidas, em prantos, pela senadora oposicionista Jeanine Áñez quando disse que, diante do vácuo aberto pelas renúncias em série, estaria disposta a assumir a presidência, que hierarquicamente lhe caberia, enquanto se preparam novas eleições.

“Para que não haja mais vandalismo, mortes, mulheres violentadas”, acrescentou, enxugando as lágrimas entre os cílios postiços.

Do outro lado, certamente também os protestos não ficaram só no pacifismo.

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A casa de Evo Morales em Cochabamba também foi invadida e vandalizada, a de uma irmã dele, incendiada. Esse novo e brutal método de queimar casas já havia começado mesmo antes da renúncia e atingido um dos ministros do ex-governo.

Oposicionistas também usaram um clássico dos protestos bolivianos, os bloqueios em ruas e estradas. Mineiros em greve e comunidades indígenas rebeladas sempre apelaram para isso.

Os bloqueios usados contra Evo são de uma formidável ironia, pois comprovam que sindicalistas e grupos indígenas, a base que o levou e manteve no poder por quase 14 anos, aderiram ao levante.

A COB, a Central Operária Boliviana, antecedente em muito tempo da CUT, pediu que Evo renunciasse.

Luta terceirizada

É claro que o boliviano bolivarianista continua a ter uma parte da população a favor, em especial da militância que tratou a leite de lhama durante anos.

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São estes que estão protestando e prometem “Agora sim, é guerra civil”.

Os “ponchos vermelhos” colocaram-se na linha de frente dessa reação e a coisa foi ficando feia.

O candidato a presidente que iria a segundo turno se não fosse a mão grande, Carlos Mesa, pediu proteção.

Até a própria polícia, que voltou às ruas depois da troca de comandante – o “evista” que apoiou a renúncia, mas não tinha a confiança da tropa – pediu ajuda ao comandante do Exército, Williams Kaliman.

A saída de Evo para o México, com a promessa de “voltar logo”, acalmou relativamente a situação.

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Mas o risco de explosão continua assustador.

É triste ver como esquerdas nos países latino-americanos comemoram a “resistência”, obviamente por métodos violentos. Não existe guerra civil pacifista.

A exacerbação de dois movimentos politicamente contrários, no Chile e na Bolívia, criou este ambiente pernicioso de embate ideológico terceirizado.

Ironicamente, são dois países onde os excessos pareciam sob controle.

No Chile, o país mais preparado para superar a maldição latino-americana, um governo de centro-direita com preocupação social, ajuizado e equilibrado, está profundamente abalado e desorientado pela explosão de protestos.

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A esquerda comemora como se fosse uma conquista da Copa do Mundo da ideologia. Quer que os chilenos se ferrem.

Entre os bolivarianos, Evo Morales conseguiu evitar as loucuras autodestrutivas do chavismo e não arrasou a economia. Ao contrário, teve resultados decentes.

Imaginar-se como o Grande Inca, sabotar por dentro as instituições democráticas, que já não eram lá grande coisa, atiçar rivalidades étnicas e usar métodos policialescos foram fatores que criaram o ambiente para a revolta.

A Grande Fraude, com maiúscula, completou o cardápio.

A direita só poderá comemorar sua queda se o país melhorar, não regredir. E não cair na terrível armadilha de “indígenas” contra “brancos”, “bolivarianistas” contra “elites”, La Paz contra Santa Cruz.

Individualmente, pelo peso econômico e geopolítico, a Bolívia tem mais capacidade de fazer mal apenas aos bolivianos do que ao conjunto sul-americano, inclusive o Brasil – ao contrário da Argentina.

Mas é extremamente deletério para todos o ressurgimento de métodos violentos, de “esquerda” e “direita” no sentido de inimigos que só podem se confrontar de paus e pedras na mão, de “eles” ou “nós”.

Principalmente, para quem depende de investimentos externos para retomar a economia. E tentar escapar da maldição.

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