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A voz do povo: russos apoiam guerra e ucranianos acham que vão ganhar

Informações manipuladas e resistência maior do que a prevista alimentam a divisão total entre os dois povos irmãos, que Putin queria transformar em um só

Por Vilma Gryzinski 10 mar 2022, 06h50

Bombardeados, refugiados em subsolos, bloqueados em filas intermináveis para a Polônia e outros países vizinhos, estrangulados por um exército poderoso cujo poder de fogo total nem ainda foi desfechado, os ucranianos estão resignados à derrota?

Nem de longe. Uma pesquisa de opinião postou que 82% dos ucranianos acham que vão ganhar a guerra. Aceitar as exigências russas para fazer a paz? Um total de 1% concorda.

Este é o espírito espartano que, na ficção, produz viradas extraordinárias, mas na vida real quase nunca dá certo (só para lembrar, os espartanos perderam a Batalha das Termópilas, apesar do paradigma de bravura e sacrifício que atravessou 2 500 anos de história).

Os problemas na ofensiva russa, a reação das forças ucranianas e o espírito de luta do presidente Volodymyr Zelensky estão galvanizando o que já seria a resistência natural de um povo invadido por outro país, a situação limite mais clássica das disputas entre nações.

A situação na Rússia é praticamente inversa. Uma pesquisa independente, divulgada pelo Washington Post, mostrou que 58% dos russos apoiam a “operação militar especial” – é proibido falar que a guerra é guerra, entre outras características repressivas do mundo paralelo criado por Vladimir Putin. A oposição está na casa de apenas 23% – e 13% não quiseram responder.

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A pesquisa é praticamente igual a dois levantamentos feitos por institutos ligados ao governo, que dão até 65% de apoio à “operação militar”.

O que mais chama a atenção nessas pesquisas é a diferença de opinião entre faixas etárias. Entre os 20 e 30 anos, a oposição vai de 40% a quase 60%. Vai caindo até chegar a apenas 10% na faixa acima dos 70 anos. 

Esta é exatamente a idade de quem tem memórias consolidadas sobre o período soviético, quando a URSS era uma superpotência. O período de descalabro que se seguiu ao fim da União Soviética, quando as instituições naufragaram e o dinheiro virou pó, também é mais presente entre os mais velhos.

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Segundo analisou para o site Meduza o sociólogo Alexei Bessudnov, da Universidade de Exeter, quanto mais longe de Moscou e São Petersburgo, maior o apoio. E quanto mais a televisão é o principal meio de informação – obviamente, na faixa de idade mais alta -, mais a versão oficial emplaca.

Nessa versão, os valorosos militares russos foram chamados para salvar os ucranianos de um governo neonazista manipulado pela Otan e os Estados Unidos. A agradecida população ucraniana retribui, oferecendo agasalhos e comida a seus salvadores.

A extrema manipulação da informação, à altura dos velhos padrões soviéticos, foi retratada numa reportagem do New York Times sobre o choque de ucranianos que têm parentes russos e confrontam reações inacreditáveis.

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Um dos entrevistados, Misha Katsurin, disse que seu pai, que mora na Rússia, se recusou a admitir que havia uma guerra e tentou convencer o filho de que era uma operação contra “nazistas” e os soldados russos estavam ajudando as pessoas.

Valentina Kremyr mandou uma mensagem para a irmã contando como o filho havia passado a noite num abrigo antiaéreo e recebeu como resposta uma tirada espantosa: “Ninguém está bombardeando Kiev e na verdade você deveria ter medo dos nazistas, contra quem seu pai lutou. Seus filhos vão ficar bem. Nós amamos o povo ucraniano, mas vocês deveriam pensar melhor em quem votaram para presidente”.

A reação dos americanos à invasão da Ucrânia também mostra números interessantes. Três pesquisas recentes mostram que de 54% a 64% são contra mandar tropas para lutar contra os russos na Ucrânia, mas 74% apoiam a declaração de uma zona de exclusão aérea sobre o país, como se fosse uma espécie de operação limpa para salvar vidas inocentes. 

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Qualquer das duas iniciativas implicaria em nada menos do que uma declaração de guerra contra a Rússia, o que degeneraria facilmente em um conflito nuclear. Evidentemente, o governo americano não vai fazer nenhuma dessas coisas.

A rejeição visceral ao uso da força contra um lado mais fraco criou uma arma em dimensão jamais vista na história das guerras: as sanções econômicas não decretadas por governos, mas por empresas pressionadas pela opinião pública e os acionistas a cair fora de um país que transformou a si mesmo em pária.

Da Apple ao McDonald’s, da Chanel ao Kentucky Fried Chicken, da Shell à Coca-Cola, o boicote em massa tem um peso que ainda não foi medido pelas pesquisas. Pode ser que os russos a favor da invasão se revoltem ou, ao contrário, tendam a se fechar mais ao exterior e apoiar o governo.

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E pode ser que os ucranianos sejam colocados de joelhos diante de um nível de destruição em escala muitas vezes maior do que a vista até agora.

Todas as hipóteses serão submetidas a testes de stress extremos nas próximas semanas.

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