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A vice Kamala Harris diminui projeção e chance de concorrer em 2024

Ela já está no negativo em termos de popularidade, uma surpresa para quem chegou ao cargo com a expectativa de que substituiria o chefe

Por Vilma Gryzinski 3 ago 2021, 08h34

Joe Biden já está com seis meses de governo e, obviamente, os políticos só pensam naquilo: como será a eleição presidencial de 2024.

“Meu plano é concorrer à reeleição”, já disse ele, desafiando os descrentes na candidatura de um homem que terá até lá 81 anos, um limite complicado até para os mais entusiastas dos bidenistas.

Quando sua primeira candidatura se solidificou, parecia tudo certo. Como centrista, Biden teria o apoio do Partido Democrata em peso, num vale-tudo para desbancar Donald Trump. Governaria por apenas um mandato e abriria caminho a sua vice, Kamala Harris.

Mulher, meio negra e meio indiana, muito mais progressista do que Biden, bonita e carismática, ela estaria com o futuro garantido. Só precisaria tomar cuidado para não ofuscar o chefe, o pecado capital de qualquer vice.

Como em política a realidade é semovente, está saindo tudo ao contrário. Em lugar de brilhar, Kamala agora é a pessoa menos popular da era moderna a ocupar o cargo de vice-presidente. 

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Segundo pesquisas recentes, 46% dos americanos aprovam sua atuação, contra 48% que reprovam. Biden não tem uma aprovação brilhante – 51,3%, na média -, mas ainda está acima da linha d’água.

E não adianta Kamala reclamar que o chefe lhe reservou um abacaxi daqueles, ao colocá-la como principal integrante do governo em matéria de política fronteiriça. 

Quando foi vice de Barack Obama, Biden recebeu a mesma missão e, como em tudo mais, não teve uma atuação brilhante. Mas o assunto ainda não tinha as dimensões que ganharia – tendo se tornado o maior propulsor da eleição de Donald Trump.

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O problema ficou muito pior com a eleição de Biden, lida como uma declaração de porteiras abertas.

Kamala Harris teve que assumir a postura do governo – “Se você está vindo para nossa fronteira, será mandado de volta. Não venham”, disse ela em vista à Guatemala -, o que lhe valeu a antipatia da ala esquerdista do Partido Democrata, da qual era uma integrante. E não mudou absolutamente nada na emigração em massa rumo aos Estados Unidos.

Além disso, criou uma polêmica inútil ao passar meses fisicamente distanciada do foco do problema, recusando-se a visitar as regiões fronteiriças.

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A vice-presidente estava acostumada às delícias de ser senadora, onde podia fazer exatamente o que queria, amparada por um eleitorado, o da Califórnia, tão progressista quanto ela. Agora, enfrenta a pedreira de uma posição no executivo, com decisões muito mais difíceis e pouca autonomia.

Isso significa que sabotou suas chances para disputar a presidência? É muito prematuro para cravar. Muito dependerá de questões sobre as quais não tem nenhum controle. Os dois eixos que definirão o sucesso do governo Biden, e portanto a imagem da sua vice, são o combate à pandemia e a recuperação econômica.

No momento, até aliados férreos estão sugerindo que Biden foi precipitado ao declarar ganha a guerra contra a Covid-19.

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Num cenário bom, a barreira dos 170 milhões de vacinados segura a variante delta, a economia comemora os grandes projetos de infraestrutura que seriam aprovados com votos de vários republicanos, a inflação causa apenas desconforto passageiro, as massas de imigrantes irregulares são absorvidas. Joe Biden, ou quem ele apoiar, está com a eleição garantida.

Caso nada disso aconteça, o Partido Republicano entra com candidatos fortes como Ron DeSantis, o governador da Flórida, ou a ex-embaixadora na ONU Nikki Haley (se ela disputasse com Kamala Harris, seriam duas mulheres de origem indiana na parada, mais uma prova do excepcionalismo americano).

Com 56 anos, Kamala também tem tempo suficiente pela frente para esperar sua chance depois de um segundo mandato de Joe Biden. 

Só precisa parar de encolher, recuperar a habilidade argumentativa que teve como senadora e secretária estadual de Justiça e fazer de conta que está no controle de um dos problemas mais impossíveis do mundo, o das massas humanas dispostas a tudo para ter uma vida melhor nos Estados Unidos.

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