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A teia de Penelope: mulher de candidato francês está enrolada

François Fillon ameaça renunciar ser for indiciado por acusação de que sua fiel esposa era também funcionária fantasma paga com dinheiro público

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 27 jan 2017, 20h19 - Publicado em 27 jan 2017, 20h16

A França define o quadro para a eleição presidencial de 23 de abril (primeiro turno; o segundo, em 7 de maio) em clima de alta incerteza. O candidato socialista a ser escolhido nas primárias, provavelmente Benoît Hamon, seguidor do manual de maluquices esquerdistas, é a menor das preocupações.

A encrenca do momento envolve François Fillon. O candidato de centro-direita que parecia ser a maior garantia de que Marine Le Pen, mesmo passando para o segundo turno, não deixaria a Europa de pernas para o ar com uma vitória mais explosiva do que a de Donald Trump, reagiu com fúria de marido ofendido à acusação de que sua mulher recebeu pagamentos indevidos como assessora parlamentar – dele, evidentemente – e colaboradora fantasma de uma revista dirigida por um amigo – idem.

“Só uma coisa me impediria de ser candidato, se minha honra fosse atingida, se eu fosse indiciado”, anunciou, esbravejando contra a denúncia do satírico Le Canard Enchaîné de que Penelope recebeu cerca de 500 mil euros durante o período em que trabalhou como assessora parlamentar do marido.

O dinheirão – ou dinheirinho, pelos padrões brasileiros de corrupção – pingou na conta dela entre 1998 e 2002. Outros 100 mil euros foram pagos pela La Revue de deux mondes a título de “avaliação estratégica informal”.

Empregar familiares não é proibido aos políticos franceses, desde que os dedicados parentes “realmente trabalhem”. E qual era o trabalho real da esforçada Penelope, que sempre declarou nunca, jamais ter qualquer aspiração, atividade ou interesse em política?

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Antes de se transformar numa Ronaldinha da estratégia mundial, num trabalho completamente ignorado pelo diretor de redação da revista na época, Penelope dava uma tremenda força ao marido. “Ela corrigia meus discursos, me representava em manifestações, fazia o resumo do noticiário”, respondeu Fillon. Como um político típico de plagas mais tropicais, desafiou: “Só por ser minha mulher ela não tem o direito de trabalhar?”.

A questão, evidentemente, é se a mulher efetivamente trabalhou, apesar das muitas declarações de que era da “roça”, por causa das raízes no País de Gales, dedicada à vida no campo e a cuidar dos cinco filhos.

Nascida Penelope Clarke, ela se radicou no interior da França depois de se casar com Fillon, aumentar a família e aparecer muito pouco em público, mesmo na época em que o marido foi primeiro-ministro. O fato de que o presidente era Nikolas Sarkozy, com seu extravagante namoro e casamento a jato com a ex-modelo Carla Bruni, ajudou-a a desaparecer no pano de fundo.

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Quando o marido venceu as primárias do partido Os Republicanos, derrotando o próprio Sarkozy e o favorito, Alain Juppé, Penelope ficou mais próxima da teia de intrigas de uma eleição presidencial à francesa, com tramas reais, dossiês explosivos, espionagem recíproca e complôs imaginários.

Muitos franceses até hoje suspeitam que teve um dedo de Sarkozy no escândalo de Dominique Strauss-Khan, o diretor do FMI preso em Nova York por acusação de violência sexual contra uma camareira. Ele era dado como o rival de Sarkozy na eleição presidencial. O conspiracionismo é um desvio quase tão francês quanto americano.

A derrocada de Strauss-Khan acabou levando à eleição de seu substituto, François Hollande, tão malsucedido que desistiu até de tentar a reeleição. A marca do fracassou colou em seu primeiro-ministro, Manuel Valls, que vai para o segundo turno da primária do Partido Socialista, no domingo, em desvantagem.

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O favorito, Benoît Hamon, propõe anular a tímida reforma trabalhista do governo Hollande, diminuir as horas de trabalho e instaurar a renda mínima que garantirá o paraíso socialista para todos os franceses.

Fillon já vinha perdendo pontos para Marine Le Pen mesmo antes do affaire Penelope. Nas últimas pesquisas, a candidata da Frente Nacional apareceu pela primeira vez à frente de Fillon, com 25% das preferências, contra 23%. Em terceiro, aparecia o agora independente Emmanuel Macron, que se beneficia de uma imagem de inovação – a qual está tentando destruir com uma aliança com o mais esquerdista dos candidatos, Jean-Luc Mélenchon.

A certeza absoluta de que Marine Le Pen nunca, jamais, teria chances num segundo turno soa cada vez mais como as garantias de derrota de Trump dadas pelo universo inteiro. A candidata de direita ganha votos entre o eleitorado desiludido com os partidos esquerdistas, assustado com os atentados jihadistas ou disposto a tentar uma nova alternativa.

O braço europeu do site Politico deu recentemente uma reportagem em que o jornalista, estupefato, descobre eleitores em potencial de Marine Le Pen entre moradores muçulmanos da periferia parisiense. O mundo de pernas para o ar ainda terá muitas surpresas.

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