A nova era dos impostos: da esquerda à direita, todo mundo afiando a faca
Do Chile à Inglaterra, governos se preparam para atacar a bolso do contribuinte, o lado mais fácil de 'criar' recursos

Ele poderia tomar um bom uísque – pelas regras arcaicas da Câmara dos Comuns, o ministro da Fazenda pode entornar umas e outras numa única ocasião, quando apresenta a proposta de Orçamento. Mas Jeremy Hunt dispensou a coragem engarrafada.
Vai a seco – e não vai ser bonito. Todo mundo sabe o que vai fazer: enfiar a faca nos pagadores de impostos. Todas as alíquotas de imposto de renda vão levar aumento. Os tributos municipais, que já não são baixos, também vão subir. Para compensar, um pequeno aumento do salário mínimo e bônus nas faixas mais baixas para ajudar na conta de luz.
Nas últimas três semanas, ele não falou em outra coisa. Tem um rombo de 60 bihões de libras, um pouco mais em dólar, deixado pela pandemia. E todo mundo vai ter que fazer a sua parte.
A fugaz experiência da primeira-ministra Liz Truss, de abaixar impostos para incrementar o crescimento, saiu inteiramente desmoralizada. Seu sucessor, Rishi Sunak, e Hunt voltariam para os moldes clássicos. O governo gastou muito? Vamos enfiar a faca no contribuinte.
Não existe nada mais definitivo do que um imposto provisório, dizia Milton Friedman. Se homens como Sunak e Hunt, tecnocratas teoricamente conservadores, de repente começaram a soar como discípulos de Thomas Piketty, imaginem a turma da esquerda.
Gustavo Petro na Colômbia e Gabriel Boric só pensam naquilo. Boric quer simplesmente desmanchar o modelo chileno de fundos de pensões. A contribuição social de empresas já vai subir. Pode funcionar ou pode virar um inferno: os impostos aumentam e as aposentadorias continuam fracas – a notória ineficiência latino-americana nunca deve ser subestimada.
Petro começou dizendo que os impostos iam subir apenas para “os quatro mil colombianos mais ricos”. Adivinhem o que aconteceu. O ex-guerrilheiro quer ser amigo da Venezuela e inimigo dos Estados Unidos. Pode dar certo?
Como sempre, a América Latina está chegando atrasada ao bonde da social-democracia, que só funciona quando já existe um volume razoável de renda.
O nível de alucinação de Petro não pode ser subestimado. Como os jovens ingleses mimados ique jogam sopa e tinta em quadros famosos, ele quer acabar com o petróleo e o carvão. O que aconteceria se o mundo de repente parasse de usar os combustíveis fósseis? Um apocalipse de miséria, fome e devastação. Em compensação, a cocaína circularia livremente e os narcotraficantes virariam bons cidadãos, preocupados com o meio ambiente.
O melhor dos mundos é o em que a economia cresce, os impostos caem e Milton Friedman reencarna no reality Quem Quer Ser Milionário.
O pior é o que tem Gustavo Petro em qualquer instância de poder. Aguardem para ver o que vai acontecer na Colômbia.